Viseu, início da tarde de 15 de Agosto de 2008
Os meus pulmões andam mais doentes, mas o meucoração ainda é um bonsai.
Como águas nocturnas de rio, assim me brilham
escuramente os olhos, ainda.
A vida é o sítio onde nada acontece, excepto
agora, que a escrevivo.
É-me possível explodir miríades de abelhas,
apicultivar o mel triste dos candeeiros de ouro
ao traço das avenidas enegrecidas de árvores,
putas, prédios e farmácias que vigiam a dor.
Uma ida às dor-douradas lixeiras da modernidade
pode ser uma incursão olímpica de valor.
Registo o lento cão, a pomba crucial, o manso louco
que há quarenta anos trabalha na sapataria
enquanto pela milésima vez adia
a emigração de seu bonsai.
Noruegar é possível ao melancólico utente
da luz deste país comido por dentro
do cancro da idiotia ungida de fé
e de fadobol. Nada senão a deflagração de abelhas
é importante, mesmo que como no caso
seja 15 de Agosto, dia em que a minha maravilhosa
gente estúpida atulha de chinelos e cáries
os restaurantes e os palheiros do poder local.
Não viver mas escrever
é o que mais me interessa de Portugal.
Sem comentários:
Enviar um comentário