16/08/2008

PODE, PODE

Viseu, 16 e 2 de Agosto de 2008



Hoje, 16, está a chover, é quase meio-dia.
Vejo daqui duas, três, quatro árvores no sábado.
Tenho de vos mostrar uma colecção nova de palavras ouvidas na tarde de há dois sábados, nesta mesma cidade, este mesmo século XXI.
Eu estava a demorar a minha brevidade ali muito perto do Café Isabelinha.
Há por ali morcegos diurnos que me interessam muito.
Quando as vozes cá dentro se misturam, é muito interessante – e eu passo um bom bocado a dar-lhes tinta.
Não sei se os gajos e as tipas do pequeno comércio marroquino e colombiano gostam dessa estapafúrdia figura do Redactor em Progresso.
Não sei nem me interessa.
A vós, espero que vos interesse saber este, mais do que uma charla, poema deles.



NÃO PODE SER UMA NOVA VIDA ANTIGA

– Botava fogo a isto tudo.
– S’ele fosse um corno bravo, ninguém se metia co’ ele.
– Quais dois lados?
– Se queres fazer uma vida com uma pessoa nova, não pode ser uma vida antiga.
– Mas qual é que tem razão, caralho?
– Tu tens uma mulher há cinco anos, é um supor.
– Ela está em casa, não estou lá pa’ ver, não dá dinheiro, não dá amor, isso é muita gente.
– Isso é ofender todo o mundo.
– Quando ’ tá bem, é tudo dele.
– Costumava ir ali àquilo, o casino.
– ’tás a ver, olha aquilo.
– Pá, deixa o homem.
– Nova Iorque é amor.
– Fica mais barato.
– ’ t’abituar mal ou o carago.
– D’ ez em dez anos.
– É um supor.
– Na cara dele.
– Olh’ aqui aquele pa’ te chamar.
– No cabo da escolta.
– Bom fim-de-semana, ’tá bem?
– Ninguém faz mal, mas vêem fazer mal a uma pomba, é o carago logo.
– Têm de deixar as novas, limpam as velhas e têm de deixar as novas.
– Oui.
– Pas de coeur, je m’emmerde.
– Vivi em Coimbra, sei o qu’ é isso.
– Se ’tivess’ aí o meu irmão, levav’ igual.
– Ya.
– E há.
– I, A.
– Dez euros e meio, carago, não foi isso qu’ eu disse, já todo fodido, posso levar fort&feio, não sou daqueles de pegar no telemóvel e começar a cortar-l’ um bocadinho.
– Um bocado do olho, tira isso.
– Não havia hipótese, tirava sempre alguma coisa.
– Oxida ao ar, uns momentos e morre.
– Acabaram com o cavalo, mas depois começaram a ressacar e veio, depois veio, não estava era ninguém pa’ pagar um copo.
– Vêm de bicicleta, não foste cobrir hoje.
– ’bração, fica bem.



Ainda está a chover, mas parece que menos. É meio-dia e 13. As árvores etc.

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Canzoada Assaltante