Foto: © Sandra Bernardo, noite de 29 de Março de 2008
Textos: Viseu, manhã de sábado, 5 de Abril de 2008
Prefiro, de longe, a verdade da poesia dita à dita poesia da verdade, sejam uma e outra o que forem. Talvez não passe de mais um trocadilho idiota dos meus. De qualquer modo (ou de um modo qualquer), o dito na prosa nº 1 é verdade biográfica. Sim, seja verdade biográfica o que for ou tiver sido.
1
De quinta para sexta, fiz a pé os 42 quilómetros entre o Caramulo e Viseu.
Durou-me a noite toda e parte da manhã.
Chegado a casa, parecia um aleijadinho, desses de pedir e não receber.
Aproveitei a metáfora fácil, porém: uma estrada na noite, um caminhar sem outro limite que o da amplitude das passadas: a vida.
2
Esta noite, o caminho foi um sonho breve e intenso como um clarão de magnésio.
Era na área ferroviária de uma cidade desconhecida.
As casas cegavam de brancas.
O sol explodia de cal nos olhos.
Tinham-me dito que só pela noite teria comboio de saída. E avisaram-me:
– O senhor vai ter de sobreviver por aqui o dia todo.
E eu percebi que assim seria todos os outros dias – se eles, como o comboio, chegassem a chegar.
3
Enquanto esperava o comboio (guardo o número da hora improvável: 20.25), alonguei-me pelo litoral de ferro da gare.
Sentia a sangria de um rio que não podia ver, algures para a banda d’além.
Havia gente como eu: andavam ao longo, também.
Uns eram vivos, outros eram mortos.
Era gente como eu, que também ando ao longo, também vivo e morro também.
1
De quinta para sexta, fiz a pé os 42 quilómetros entre o Caramulo e Viseu.
Durou-me a noite toda e parte da manhã.
Chegado a casa, parecia um aleijadinho, desses de pedir e não receber.
Aproveitei a metáfora fácil, porém: uma estrada na noite, um caminhar sem outro limite que o da amplitude das passadas: a vida.
2
Esta noite, o caminho foi um sonho breve e intenso como um clarão de magnésio.
Era na área ferroviária de uma cidade desconhecida.
As casas cegavam de brancas.
O sol explodia de cal nos olhos.
Tinham-me dito que só pela noite teria comboio de saída. E avisaram-me:
– O senhor vai ter de sobreviver por aqui o dia todo.
E eu percebi que assim seria todos os outros dias – se eles, como o comboio, chegassem a chegar.
3
Enquanto esperava o comboio (guardo o número da hora improvável: 20.25), alonguei-me pelo litoral de ferro da gare.
Sentia a sangria de um rio que não podia ver, algures para a banda d’além.
Havia gente como eu: andavam ao longo, também.
Uns eram vivos, outros eram mortos.
Era gente como eu, que também ando ao longo, também vivo e morro também.
2 comentários:
viver e morrer são passos do mesmo caminho ;) lindíssimo, daniel ;) um beijo*
mt boas as micro.
tb gosto de escrever sobre o quotidiano.
abraço
Tiago
Enviar um comentário