Coimbra (Casa Branca), quinta-feira, 17 de Março de 2011
1. SONETO GRÁCIL, GRACIOSO E DE GRAÇA
A minha amada é macia como um tigre manso.
Ela dulcifica, até, a sombra que atiro ao chão.
Eu por ela ando & com ela danço.
Eu já não desando, agora já não.
A minha amada é um rio iluminador da terra.
A minha amada é o eliminador da solidão.
Exacto: agora já não, eu danço ora a guerra
que a paz me traz, levantada do chão.
O mais que digo é também verdade:
ela é o tigre que a insensata cidade
não sente nem viu – nem nunca sentiu.
Eu sim, que parvo não sou.
Sou a cria do tigre – e por ela vou,
que dela eu venho: e manso e macio.
2. JUNCO
2. JUNCO
O junco do meu amor inclina o vento verde.
Trata-se de uma declaração, esta, oficial.
Eu queimo idades, q’o tempo me arde.
A minha Maria é de seu Daniel.
Trago o coração nas mãos como um talhante.
Respiro acordado na sombra do sono.
É primaveris que hemos avante,
embora o real se chame Outono.
Falo-a. Digo-a. Sigo-a. Exalo-a.
Tremo-a. Quero-a. Espero-a. Temo-a.
Ou então, isto para que se perceba, amo-a.
E então tod’eu vibro em anunciação.
Ela tira o roupão, descerra o pijama:
e diz que me quer – e diz que me ama.
6 comentários:
Realmente perdemos uma vida perseguindo os livros pelo tempo que não há.
Havendo, está claro, perderia a graça
(e seria a desgraça).
Afinal, é o tempo que corre atrás de nós. Mais vale amar e sofrer do que parar e morrer.
Sinceramente tua, Nônô.
Obrigado, querida, que beleza de comentário.
Não sei o que me emocionou mais... se o poema... se o comentário da Nônô.
às vezes precisamos que os filhos cresçam para nos sacudirem os ombros e dizerem: acorda, VIVE!
A sempre tua Xelinha
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