15/04/2010

Rosário Breve nº 150 - www.oribatejo.pt



Rainhas finimatinais da Primavera



A par do coriscante carvão lustral das andorinhas e da neve alada das cegonhas, uma das mais seguras maravilhas do regresso primaveril é a beleza das mulheres, que pelas ruas vejo passar sem grandes alvoroços da próstata mas com garantida euforia gráfica.
Ainda agora: uma senhora alta de cabeça coroada por um disciplinado incêndio loiro. Outra de há instantes: uma morena de apurada circunvalação bacial elevada acima de duas colunas roliças muito bem embrulhadas em ganga de marca. Ou então aquela ali: de decote fissurando a fartura láctea do colo, a nota dupla dos mamilos sugerindo duas gotas de figo, a boca muito encarnada desvelando dentes que esmaltam o coruscar da luz finimatinal.
Eu gosto muito de vê-las passar: deve ser bom, até, pertencer-lhes como filho, quanto mais marido. Se Deus existisse, haveria de concordar comigo. A beleza das mulheres desbanaliza a peca mesmidade masculina. Em procissão floral pelas ruas portuguesas, também elas, as mulheres, andorinham e cegonham o campo-santo dos vivos em geral e do cronista em particular. Deu-me hoje para dar-vos isto: este tributo caligráfico às rainhas da manhã que, inscientes de ficarem ortografadas em papel de jornal, são a moção mesma da Primavera e a alegria de quem as vê passar.

1 comentário:

a saber disse...

à imagem também de Cesário Verde.

Canzoada Assaltante