Waltraud G., a própria
Os maridos de Waltraud G.
A história passa-se no Sul da Alemanha. Uma cantora lírica de 55 anos, Waltraud G., está presa por suspeita de ter “extraviado” o marido. O dela, note-se. O homem está muito provavelmente morto. A polícia suspeita que ela tratou disso a tempo e horas em Outubro passado. Mas o caso tem tudo de enredo operático, ou não fosse a suspeita uma profissional do Bel Canto. (Num blog francês, até designam o caso por novo Fantasma da Ópera.)
Quereis saber? A provável vítima chama-se Hermann Hilss, tinha 71 anos e estava na reforma. Mais velho 16 anos do que a esposa, foi um ar que lhe deu. Em vão o procuraram por todo o lado – menos onde ele está. Eis senão quando se descobre que a eventual viúva se fez acompanhar ao notário e ao advogado pelo “marido” em várias ocasiões. As aspas são justificadas: o acompanhante da senhora era um actor arregimentado por ela para fazer de duplo do desaparecido, que parecia ter umas massas boas. Maquilhado e compenetrado, o duplo desempenhou a função mais ou menos a contento. O problema foi quando o advogado telefonou à polícia dizendo que não procurasse mais o senhor, que ele, marido, estava ali com ele, advogado, e com a mulher dele, desaparecido, no seu, dele advogado, escritório. A polícia não esteve com mais nada: marcou um encontro ao “casal”. À hora marcada, o “marido”, a pretexto de uma breve viagem, não compareceu. Os investigadores (até por serem alemães) eriçaram-se de descúnfia. Até que em Janeiro, ao cabo de cerca de 250 pistas analisadas, a polícia apura que havia uma procuração “assinada” pelo desaparecido a favor da mulher. Tinha sido o actor a assinar, claro. A confissão do duplo está feita, a mulher está presa e muito calada. O corpo de Herman Hilss continua por dar à costa.
Como tenho a mania de que gosto de ópera, também gosto muito desta história – a ponto de a ter percebido toda, até mais do que a polícia alemã. Assim: aquele “G.” da senhora Waltraud significa, em tradução portuguesa, “Governo”. Português, claro. O tal “actor” – todos sabemos quem é.
E nós, os mansos calados subservientes desaparecidos vítimas (e)leitores, fazemos, por assim dizer e não desfazendo, de maridos, ou fantasmas, do G.
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