Pintura de Chokosai Eisho
Souto, Casa, tarde de 25 de Abril de 2010
Todas as décadas acabam sem que as acabem muitas pessoas, casas há até que lhes não resistem. Em Banville como em Liège assim é – e o resto do mundo habitado imita Liège e Banville e pessoas e décadas na perfeição. As famílias Lucas e Jeremias da infância do narrador penduram-se da luz como trapos estendidos a enxugar no arame do Tempo. Trapos coloridos, valha a verdade, na global cinzura. Do narrador? Também. Vidas são caligrafias pelo papel poeirento dos caminhos. Escrevem-se – sendo, indo. Casais fulguram (lâmpadas fracas, de cal) de arvoredos dentro, fábricas formigam metafísicas de segurança social, ourives ambulantes carroçam pelas feiras das vilas entre melões e quarentonas parideiras, a Senhora da Saúde arrasta uma cauda de procissão pelos rossios do catolicismo, corcéis são azuis e castanhos e olham a vermelho as outras infâncias da Grande Roda. Em uma casa, livros e jarras florescem sem ajuda de mãos. Em outra, um gato dorme um sonho de louça. Quem pode, vende um pinhal e monta uma carpintaria. Outros, outros esperam que a tiazinha morra para arrendar o rés-do-chão dela a um charcuteiro dos modernos. Tantas ítacas – e banvilles tantas quantas lièges.
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