01/11/2007

Mínimas Apeadas

prodigiosa senda, a maré vazante da noite



O mar voltou esta manhã à montanha.
Veio sem água – e é o vento nas árvores
tão frio
tão vivo de sede.

Recorro à inocência das crianças
para chamar
cordões de ouro velho
aos
cobrões de folhas apeadas
ao longo
do meu caminho marítimo
para
as breves índias
destes versos.

Quando a maré vazante da noite
recolher a seus altos calabouços de cristal
colherá o fim de Outubro consigo.

Eu ficarei na prodigiosa senda
que abre ourivesarias de laranjais
a troco de um pouco de atenção.

As mínimas mortes de cada dia velarei
de olhos estilhaçados como vidros de lume.

Acabam-se-nos os meses
outros nos implodem como extensões vãs
ou como pólvora no coração.

Comboios sulcam arrozais de estanho
nós dentro através da nossa vida.
E os mapas das nossas mãos
pontuados de apeadeiros imparáveis
as nossas mãos cheias de folhas do chão.

E o mar e a manhã e a montanha
e as mínimas mortes.

Mínimas: Caramulo, manhã de 31 de Outubro de 2007
Imagem: Caramulo, noite de 25 de Outubro de 2007

1 comentário:

LM,paris disse...

"Eu ficarei na prodigiosa senda
que abre ourivesarias de laranjais
a troco de um pouco de atenção."
Bonjour daniel, quel bonheur le matin , si froid qui vient de s'ouvrir sur votre poésie.
C'est une déchirure qui ne demande à chaque fois rester plaie ouverte.
C'est par elle que l'amour se fraie un passage, c'est l'écoute vibratoire des sens, c'est votre écriture unique qui devient notre, ronde et sans noeud.
Je reste à l'écoute.
merci, beijinhos de Paris, gris...
LM

Canzoada Assaltante