19/07/2006

Três Homens mas já Nenhum Rio

São dois homens sentados em cadeiras de ferro pintado de azul. O chão foi acimentado há muitos anos. Gretas sulcam-no, enveredando formigas. Um dos homens levanta-se, a rua é a descer, ele desce até desaparecer do lado direito, em baixo.
Se eu agora pegasse num lápis de cor e pintasse o percurso dele, obteria mais do que um traço sinuoso. Obteria o rio dele. A greta de sombra que ele sulcou, abandonando esta nascente de dois homens. Sem ele, eu faço de segundo homem. Estamos em mesas separadas. Estamos sob as tílias. A luz é muito doce. Lá dentro, na sala de café, não tardará muito que o televisor comece a expectorar o telejornal. Líbano, pedofilia, incêndios, banco-de-portugal, hóquempatins, desfile de moda. Não possuo, sequer, um lápis de cor.
O rio do homem secou, entretanto. Ressinto a facilidade mortal com que secam os rios da passagem dos homens.
Entendi, finalmente, a História: as coisas são as coisas são as coisas são as coisas. Tanto tempo. E finalmente. Ou: e inicialmente. É bom. Sinto-me bem. Pena - só dispormos deste corpo traçador de rios deléveis. Se eu fosse, se eu pudesse ser os três homens - o que vai, o que fica, o que imagina um lápis de cor.
Belas tílias, entretanto. Chupam a água de sob o cimento. Deflagram interminavelmente. Gretam o cimento: querem olhar para baixo e voltar a ver a terra. Sobre o cimento, os meus sapatos muito correctos. Dentro dos sapatos, os meus pés portugueses. Lembro-me de ter metido estes pés num rio verdadeiro. Foi há muitos anos, mas já estas tílias existiriam.
Meter os pés no rio foi como molhar o coração. A floresta, nas costas do terceiro homem, subsistia dele. Digo - do rio. Nesse dia sem data (as coisas são as coisas são as coisas são as coisas), não poderia nunca ter-me ocorrido traçar de cor o rio. Quem já o traçava era uma mulher de quatro anos de idade. Assisti a tudo: a alegria dela era frondosa como um agrupamento, tantos anos depois, de tílias. Sim, ela era metade da razão por que o Verão se solsticia: para que nele fulgurem águas e crianças.
Reparo que, por momentos, não estive sob as tílias. O outro homem desapareceu, neste lapso. Não pude traçar o rio dele. Ficamos eu e algumas formigas. O telejornal vai nos incêndios. As tílias são as tílias são as tílias são as tílias.


Caramulo, tarde de 18 de Julho de 2006

8 comentários:

Anónimo disse...

É pá vai ver este gajo...

http://maiacarvalho.blogs.sapo.pt/

Daniel Abrunheiro disse...

já fui ver. quem é?

Anónimo disse...

Talvez estas dicas ajudem:

"(...)Graças a Deus que já estou aposentado! Comecei a exercer funções docentes na Escola do Ensino Primário, em 7 de Outubro de 1962.(...)

Aqui em Pombal, onde trabalhei vinte dos meus anos docentes.(...)"

Daniel Abrunheiro disse...

não estou a ver. raios.

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Por acaso vocês imaginam o que o pobre do Narciso aturou????

Ó Daniel não ligues...

Manda o gajo mamar na quinta pata de um cavalo.

Fanette disse...

Este anónimo, é de certeza um egocentrista. Quem fala assim, é impulsivo (e neste caso precisa de tratamento); é mal-educado (um curso intensivo de boas maneiras é o indica), e por não ser dotado de inteligência (o boneco deve ser devolvido à empresa, pois, falta-lhe a peça principal).

Anónimo disse...
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Canzoada Assaltante