para a Gracita, que sabe
Vê pois tu como se nos tornam os filhos
meninos-de-rua.
Parece-nos, a nós, impossível como assim,
quando de nós mesmos não fizemos ainda
gente grande.
Eles aí andam, vestidos já de roupas
que lhes não comprámos.
Os livros aprenderam-nos uma vida
parada, paginada, compaginável.
Inimaginável é a outra, a vida
deles.
Como estão agora? Jantam sozinhos?
Terão frio? Imaginam o quê?
Saíram-nos do corpo, não do
pensamento.
Aí estão presos, ilusão nossa.
Estamos quietos como Saturno,
anelamos por eles.
Frescos, tristes, cansados como borregos,
ouvimo-los que balem.
Sonhamos com o Lobo.
Somos o Cão.
Já os amamos para além de nós,
o que não impede tenhamos
sempre um pouco de erva tenra
para eles.
Caramulo, manhã de 6 de Julho de 2006
2 comentários:
Mesmo havendo pastos que não convenham (ao pastor)hão-de os cordeiritos riscar seus próprios trilhos...
A montanha em metamorfose...
Obrigada Daniel,deste-me um texto tão belo e tão verdadeiro!
a verdade é os textos sairem em espelho da pessoa a quem os dedico.
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