08/06/2022

H. EM BUSCA DELFIM - 5 & 6 (8/9.4.2022)


 


Más escolhas. Por “más escolhas”, Hermínio resume a sua situação no mundo. Não é hipócrita, quanto ao que tal concerne. Dorme comatosamente no quarto da Rua da Figueira da Foz, talvez o mesmo em que outrora seu paterAvô etc. Poucas viandas aboca. Em perspectiva (ou: em prolepse), a morte sozinha ao sol de uma praça desertada. Nada que o intimide, note-se bem. Uma ventania forte, dificuldade náutica das gaivotas arrastadas. Homens procedendo a más escolhas. Mulheres emulando-os. Todavia, continuidade da maravilha idiomática – a Portuguesa, claro, naturalmente. Apagamento. Translucidez. Algum telefonema. (Quiçá, até, algum poema.)

 

Meu excelente Delfim:

 

Por espécie de insensata ironia, sofro há dias de uma inflamação na zona genital, esse delta que não uso há tantos anos. Já nem uso as pernas em posição-escriba. Espero que a coisa se resolva por si mesma, como o esquecimento mais benigno faz à lembrança mais enervada. Envelhecendo, o corpo rebela-se. Rebela-se & revela-se – digamo-lo assim. Nos entrementes de tal incómodo, tenho, meu bom Delfim, vivido dias que supuram tristuras inconsúteis: ou sem outro nó que o dito cego. Reajo vivendo à contrariedade de estar vivo.


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Canzoada Assaltante