© DA.
Hermínio
arrola ante Delfim:
Insensata
boniteza da matina aprilina
Frescura da
luz dando nas ervas rociadas
Mulher jovem
de cabelo negro como vinhas esquecidas
A menina que
seu pai leva de viagem intercontinental
O pai de
Hermínio debulhando um fruto um fruto na montanha
Na praia,
Hermínio com a mulher que se desesperou
Quinta-feira,
14 de Abril, o futuro afinal só isto
Portugueses
da primeira década do XX: obscuramente
O senhor
Miguel, descascador de batatas no Café Lobito
Ele mesmo,
nascido a 5 de Outubro de 1910 (uma quarta-feira)
Era para nós
infantes o “Senhor República”
Morreu há
muitos anos, nem nós somos os infantes d’antes
Um rapaz de
Portalegre (Olivério Cadete), caiador de muros
Se se ama por
egoísmo, é uma chatice, nunca resulta
Ana Delenos,
radiosa, aurífera, inexpugnável
Talhante de
carcaças, Benedito a amou sem retorno
Estas coisas
acontecem milénios agora sem curação
Estorninhos
pissitam a preto-e-branco adentro Hermínio
Louva &
lava & leva seus mortos sem cessação de contrato
Delfim, meu
excelso Delfim, talvez um dia alguma coisa
Talvez um dia
alguma coisa sossegue, cessando-o, este rol
O anho pascal
viveu pouco como nós cristãos afinal
Com cinquenta
moedas de ouro, uma pessoa aguenta-se horas
Horas a fio
& de pé ante o tráfego intenso de pequenos-nadas
É de pundonor
falar pouco de suicidas, a coisa pode pegar-se
Antero,
Camilo, Sá-Carneiro, também à sua maneira Pessoa
This means nothing to me,
canta o Midge Ure dos Ultravox
Outros
rapazes é que a levam direita, são gostos, nada que dizer
A caixeira de
farmácia deglute seu galão-torrada-pouca-manteiga
Sei bem,
Delfim, que também em pastelarias te sonetas todo
Pena é tão-só
que queiras tanto à vida, essa infiel
Restolham
melros no baldio ainda não tomado pelo pato-bravo
Cães hieroglifam
a mijo monumentos de alheios deuses
Em vez de
louvar a meu ídolo, iconoclasto o teu
A onicofagia
tem sido a minha mor autofagia
As unhas
todavia recrescem, obstinam-se em alcançar o céu
A reminiscência-platónica
& o cálculo-renal?
Pois muito
bem, têm ambos direito-à-vida
Às dez &
23 de quinta-feira, 14 de Abril, estou vivo & malsão
Recordo por
vício consuetudinário, digamo-lo assim, Delfim
Capciosa,
caprichosa, fulgura rubramente a ruiva rosa
A Mãe de
Hermínio não é já senão par-de-datas
Dois dos
filhos dela são adubo já da dita rosa
Hermínio ama
os estendais de camisas crucificadas
De cordames
pendurados pela Mãe lavadas
O paterAvô de
Hermínio teve quarto onde tem quarto Hermínio
Mais anos-em-vivo
tem porém o neto do que seu Pai-de-Pai
Três desaparecidos-em-incerto-combate,
afinal tão-só
Era em
Novembro, quando ainda chovia
Passava eu na
Biblioteca Municipal o melhor de meu dia
Estudava Agatha
Christie, hermenêutica & geografia
Tudo lá vai,
já pouco estudo, duro a quinta-feira
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