© DA.
Não
sou decerto amado pelos deuses: envelheço mas ainda não morri. Não é
confortável pensá-lo – mas mortal também não é, valha a verdade. Penso nisto,
Delfim, no mês que leva nome do teu nascimento. É por uma manhã fresca, a que
porém não falta a divina majestade da luz solar. Dormi com doce desenvoltura:
os sonhos não foram perniciosos. Às seis da matina, reiterei da janela
ocidental as pombas adormecidas na casa em ruínas que anuncia a Rua de Aveiro.
Cem anos depois, durmo à beira do meu paterAvô, condutor de eléctricos. Perto,
o Choupal rumoreja como uma ave cercada de águas. Nada quase sei – ou pretendo
saber de outiva – desse homem que teve nove filhos da mesma & única mulher
da sua vida, dentre os quais o quinto me coube em sorte de Pai. Não sabemos o
amanhã. Sequer sabemos se amanhã seremos. Esta manhã, todavia, uma espécie de
quietude me escora contra a vaga frigidez, meu excelente Delfim. Antes, enfim,
pensar a vida do que mentirmo-nos sobrevivências. Resto-zero dão quaisquer flores
ou velas sobre mármore duplodatado depostas.
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