© DA.
O cláxon do
peixeiro-ambulante atordoa a quietude
Hei-de dormir
outras eternidades de virar-de-esquina
Ser comensal
de latas-conserveiras em palustres solidões
Escrevo-te em
verso hoje, Delfim, tão-só porque-sim
Já não incendeio
a palha de mulheres, não desperto já chamas
Tive há muito
a minha parte de ígnea carnação
Não adiro à
nova terminologia gramatical, rejeito-a
Vi ontem no autocarro
um rapaz de brincos nos orelhames
Tive pena
dele como pena tenho dos tatuados
Nasci no
século XIX, moro num quarto da de Fora de Portas
Ando desiderando
a morte, não hei que negá-lo
Comovem-me as
alminhas veladas votivamente
Comovem-me as
putas sexagenárias que o euromilhões escarnece
Sou uma delas,
os meus versos não logram o século
Andam de mim
arredios os fregueses, talvez eu cheire mal
E no entanto
quão mais fácil seria escutar em lugar de dizer
Quão mais fácil
a rosa apreciada à hora do chá
À hora do chá
rente a senhora de equilibrada contabilidade
Chamava-se
Estrela Tiago de Velha-Celas, era caduca
Eu bom-diava-a
mui cedo, nem as oito eram dadas
Ela fenecia à
janela como esses gerânios que não chegam a voar
Duas décadas
volvidas, nenhuma já de tais vidas
O menino deveria
ter estudado um pouco mais, sido sensato
Ter tido um
gato, um currículo, algum saber hidráulico
Nem áulico,
ático, arúspice ou coisa que o visse grego
Sossego, isso
sim, sossego, sob a latada tomando limonada
Esperando a
volta do Pai, que maduramente é solar
Tranquilizando
a Mãe, dizendo-lhe que tudo bem
Delfim de
Delfina, Daniel de Hermínia
Heteronímias afinal
fáceis & no final fósseis
Grisalhas
oliveiras centenárias: amo-as azeitemente
Cedros medrados
à Van Gogh: amo-os labaredamente
Andorinham-se
já os derradeiros minutos da matina
(Surdem já as
11h30m, não produzi muito nem muito bem)
Penso em
Mário Botas, Cristovam Pavia, Manuel Cintra, Amadeo
& nesse
pobre Nobre que francês algum conhece ou leu
(Coitados dos
franceses!: tanta coisa, mas foi no Mónaco que o Ferré nasceu)
Tenho um
Irmão doentíssimo, há dois anos espero o telefonema
Não serei eu a
telefonar, ainda nem o meio-dia se deu
Não tenho
vizinhos mas apenas gente que mora demasiado perto
Não sou Rilke
nem por sete anos morarei em castelo emprestado
Acho natural
que as pessoas não bebam ou respirem perto do empestado
Tal rejeição
define-as mais bem do que facebookianas autobeatificações
Génio é
vocábulo que se declina em ditongo decrescente
Se eu mandasse,
mandaria a tudo & todos para a olaria
Digo: a
olaria das Caldas da Rainha, a de fálica idolatria
Morreram-me o
Chico Morais, o Fernando Pratas, o Tó também Pratas, o Caniço
Morreu-me a
Maria da Luz, cujos olhos me miram ainda, sem luz embora
“Como vai a
moenga?”, pergunta Raul.
“Cá se vai
desandando”, anúi Joaquim.
Tudo isto
parece ser coevo da eternidade de Mick Jagger, e.g.
Ou da do porreiraço Ringo Starr, esfuziantemente próspero
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