I-4
Andam descalços ambos pela casa dela. Ele veio. Ele veio a caminho dela. Reconheceram-se pelo cheiro na gare ferroviária. Ele apanhou o das 13h38m, chegou às 14h35m. Antes de vir, Dinis acordou na cama de um quarto de uma casa que não sentiu sua – porque Isabel não estava. De imediato, os mortos dele rondaram-no, acossando-o com a amarga doçura da perda. Então, para se livrar do mal, ele telefonou-lhe. Ela não pôde atender logo, devolveu-lhe a chamada uma meia hora depois.
– Amo-te.
– E eu a ti, querida.
E ele viaja de comboio até ela, chega a casa dela, descalçam-se na ronda um do outro, parece mentira ser feliz. A viagem dele (que ele lhe conta) é feita de armadilhas ópticas: o rio, as árvores, as nidificações, os pátios com tanques de lavar a roupa e laranjeiras de lavar a alma, apeadeiros devastados pelo vento de tanto inverno interior, janelas verdes como esmeraldas de peitoril, a ilusória esterilidade do cascalho, a vida, a respiração, a inimitabilidade do amor de cada amor.
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