56. EPIFANIAS E ENDECHAS E EPIFANIAS
Louriçal e Leiria, domingo, 26 de Junho de 2011
Coimbra, segunda-feira, 27 de Junho de 2011
Entre a aparição e a revelação, a epifania: o que fala no centro-dentro. As minhas epifanias são todas verbais:
As árvores com seus vestidos de Verão.
A elegia eléctrica da Noite-Cidade: estrelas e janelas pespontando o veludo negr’azul.
A brisa cre-tre-pitando-dando palhetas de sol nas árvores fluviais (tontas de frescura ficam elas ressumando).
Florestas em perfume, caça em moção: mosqueado arvoredo, matizados animais em manso pânico.
Consumar e consumir alegrias e alegorias, ternas e tenras analogias sumptuosas, passi-compassivas contemplações: como a escuridão se adensa ao deflagrar do fósforo, o último dobre do sino condensa o silêncio da Aldeia-Mundo: o essencial calamento da vida.
Um vitral consumindo (consumando, ressumando passiva, compassivamente) luz-cor-alegria (como na infância os prospectos dos bailes associo-recreativos): numa face-nave de igreja ou em um jazigo de próspera linhagem acabada.
A música fazendo-se, de vento, luz: ramalhar de faias, álam’oboés, clari’plátanos, viol’amieiros, pinh’arpas.
A germinação fulgurante dos números-cores: as flores.
A irreparabilidade de cada crepúsculo.
Uma vinha enferrujando vermelhamente: vindo o Outono, feita a vindima.
As várias idades de uma pessoa: como cotas geológicas.
E os bosques submarinos tão minerais também, os corais?
A água-viva-em-espelho-transparente que a medusa é.
O descomunal congresso de aranhas que um aguaceiro é.
A trovoada que purifica o ar.
A tempestade no mar.
O cheiro benigno da terra quando a terra arfa como um animal saciado.
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