II-2
Ama-se uma mulher viva mortalmente.
Um homem porta dentro seus mortos, que o tornam, também a ele, pedinte.
Este homem deste lado do aqui-agora.
O amor torna-o alguém que chega do futuro.
É estranho – mas assim é.
Choveu de manhã e todo o ontem.
À tarde (é uma terça-feira), o sol deflagrou como uma gardénia sem tutor.
E então a mortalidade é toda floricultora.
I-3
(fragmento)
Uma revoada odorífera de hortelã acode às narinas dos dois em cidades diferentes no instante mesmo – e ambos, à fragrância, sentem que o nada é tudo, à distância.
Um dos dois (mas qual, se não o mesmo?) vê um octogenário passar. Vai de balde cheio de laranjas. Tem mulher, ainda, em casa, leva-lhe as laranjas. Ambos compreendem a epifania. O velho passa.II-3
Sou o velho do balde com laranjas.
Vivo ainda a minha vida, o meu amor caseiro.
Pude chegar aqui com o corpo, nem sempre fui eterno.
Tenho uma horta com árvores fruteiras.
Sou um homem no inverno, serei depois outro e ninguém e outra estação: serei uma laranja.
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