30/07/2010

Rosário Breve nº 165 - www.oribatejo.pt


Disneylândia à portuguesa



Quase todos nós (não todos, mas quase todos nós), portugueses, somos como as personagens infantis dos livros aos quadradinhos da Disney: perdidos de pai & mãe, somos apenas sobrinhos. Deve ser por causa disso que quase todos nós (não todos, mas quase todos nós) andamos ó tio, ó tio.
Somos patos, enfim, como os tais Disney-sobrinhos do Donald.
Salazar, esse, o mais que foi, foi avô (cavernoso). Américo Thomaz, esse núncio primaz da idiotia calçada de sapatilhas brancas, terá sido compadre. Humberto Delgado era, claro, um dado-morto à nascença. O Scolari não é para aqui chamado por ser um erro marítimo. O José Eduardo dos Santos (dos últimos dias) de Angola & CIA… é filho. Dizer “Vara criminal” é cometer uma redundância em família. Sobram-nos os tais dois: ó tio, ó tio.
Posto isto, falemos da fatal “época de incêndios”. Tenho e mantenho esta peregrina opinião: se os tropas, os presidiários em precária, os arrumadores de carros, os borlistas do rendimento-bairro-mínimo-social e os gerais desempregados fossem, por assim dizer, agraciados (ou compelidos, dá o mesmo) com a limpeza de matas, pinhais, lixeiras e outros brejos na época Outono-Inverno-Primavera, talvez, de vez, morresse de queimaduras a aceite mas inaceitável “época de incêndios”.
Mas, naturalmente, isto deve ser filosofia de mais um pato-sobrinho, no caso eu, que, como vós, vou andando e deixo arder.

26/07/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 49

Foto nanométrica de embrião humano de seis dias alojando-se na parede do útero


49. PERDER CHAMA-SE NASCER, MAS


Coimbra, sábado, 24 de Julho de 2010


As pessoas começam a perder as mães quando nascem.
As pessoas começam a perder-se das mães quando nascem.
Quando expulsas dos dentros das mães, as pessoas perdem-nas e perdem-se.
As mães perdem-se dos filhos quando os expulsam.
Os pais nada têm a ver com nada disto
(também perdem, são expulsos também, os pais).

Na minha tenra e terna – que não eterna – mocidade, cruzei em total solidão um campo agrícola de total vastidão. Súbito, o céu fechou-se como um punho cinzento. A brisa tornou-se ominosa ventania, as árvores tremeram outra respiração, encrespou-se a pele da água da vala – e a trovoada desabou como uma desarrumação implosiva de telhados pobres. O aguaceiro não tardou. Alertado pelos casos literário-campestres do manual da escola primária, não me abriguei ao regaço de qualquer árvore. Eram de borracha amarela as solas das minhas botas também pobres e também de borracha. Ofereci o rosto à fustigação oblíqua. Sinto ainda essa euforia, essa agonia. Não recordo, porém, a agónica euforia de nascer. Isto é, de (me, a) perder.




As pessoas são tijolos verticais de proteínas e carbonos.
As pessoas ocupam Berlim todos os dias – mas não vêm na História.
São livros cujas badanas são os filhos e os bisavós.
A mãe da pessoa nunca chega a ser escrita.
É um mãenuscrito perdido ab ovo.


Hoje, devasso circunvalações crestadas pela luz de torrefacção dos estios pobres. Perdi-me dela, como a todas as pessoas acontece desde o grito ex-amniótico. E em torno a Cidade vigora de passeadores de cãezinhos de varanda, de arrumadores de automóveis esfíngicos como urubus do tráfico, de psicólogos encartados com três divórcios nas virilhas, de budistas de terceiro-andar cuja melancolia seria equiparável à dos gerânios se me apetecesse dizê-lo.


A mãe, quando porém viva, é encontrável nos interstícios dos sonhos e nas fissuras dos amigos. Chama-se-lhe então Senhora Cortesia, Madame Educação, Dona Polidez – ou apenas Mãe.
E então, tudo embora se perdendo, nada se perde nem ninguém, porém.

25/07/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 13 - fragmento 5

ÂNSIA

Fica-se antigo na tarde que antiguece,
é da lei do tempo ao Tempo imitar consonante.
Se sol, solar; pluvial, chovendo: e a hora
ao olhar determina o instante e a duração

e a passagem. Meu credo
é de tudo ser dúbio comparsa, se bem
que em obrigada consonância.

E o que é mais perto é mor distância.


SOPORÍFERA, NARCÓTICA

Soporíferas, narcóticas, certas pluviais horas,
à varanda vividas, descortinam
da vida a passiva atenção ao Nada que passa.
Além, do próspero cirurgião, a vivenda farta;
acolá, da polícia, o quartel columbino;
ali, da velha vizinha, o atrelado cãozinho;
aqui, o meu coração em forma de bocejo.

Vivo ora, hora a hora, Coimbra em Coimbra.
Vielas subo e desço, des-sendo-me sempre.
Empadas de galinha, azeitonas, papéis de libreto
– do que posso me socorro a não tanto pensar,
a sentir o menos possível e mais provável.
E assim vou, em sono por sonho, ambulando
quieto, por vielas como à varanda, soponarco.



AGORA SÓ COM A LÍNGUA

Alvíssaras trinitárias em repto
e avanias esvaídas lactescentes,
que o mais são só quadrângulos tridentes,
ridentes, colubrinos, em transepto.

Ebuliências e mores transcenções
não dão de manja ao míser’ofendido.
Senhora, tendes nódoa no vestido
de haverdes mal manjado os feijões.

O pigarro do cigarro dá ’ma tosse nada doce.
S’ela é santa, s’ela é doce,
quem será que foi q’a trouxe?

(NB: os dois últimos versos do – tolo – poema anterior não são tolos. São o refrão de uma cantiga-de-ninar que o meu Pai me balbucicantava à noite, a noite de há quarenta e picos anos. O Velho tinha uma lengalenga exclusiva por e para cada filho. Esta era – é, será sempre – a minha. Só poderia, pois, ter dado nisto, eu.)

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 13 - fragmento 4

Entraram, acabam mesmo de entrar nO Nosso Café três raparigas, só que uma é completamente rapaz. As outras duas têm o grácil e o flébil da “condição” que lhes é “natural”. A outra nasceu de vagina contrariada – ou contrária por vaginada. Sentada de joelhos apartados à homem, camisola de homem, calças delidas na braguilha à homem, é um(a) respeitável jovem comedor(a) de raparigas. O cabelo curto, espetado de gel, encima um rosto capaz de expectorar obscenidades viris. Olho quase-azul, quase-cinza. Piercing, que não brinco, na zona norte da cartilagem da orelha esquerda. Anéis nenhuns. Sapatilhas com estrela calcânea marca Converse. Óculos escuros à moda: grandes e dotados da ambiguidade uni/metrossexual dos tempos que o/de/correm. Engraçada, o rapaz.

24/07/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 13 - fragmento 3



É, deveras e de facto, como ouvir música, isto de ler a Grande Poesia. Da Clepsidra, de Camilo Pessanha, música assim:

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,
Onde esperei morrer, – meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exíguo os altos girassóis
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?

Depois, a segunda quadra reforça o tom de indignada tristeza:

Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!)
A mesa de eu cear, – tábua tosca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
– Da minha vinha o vinho acidulado e fresco…

A chave (a clave, pois, porque música) está oculta nos tercetos finais:

Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova…
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.

Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais.
Alma da minha mãe. Não andes mais à neve,
De noite a mendigar à porta dos casais.



Camilo era filho ilegítimo de um filho ilegítimo. Acabou sendo, na impossibilidade de casar-se com o amor da sua vida (a excelente senhora chamada Ana de Castro Osório), ele próprio pai de filhos à margem da lei, em Macau. A dor pelo estatuto da Mãe (amante/governanta do Pai) nunca o desamparou. Por a senhora ser de extracção popular, Francisco António Pessanha (n. 28 de Fevereiro de 1845, mesmo ano do nascimento de Eça de Queiroz) nunca deu com ela o passo matrimonial. Vale que a levou consigo sempre, ou quase, dela tendo, além do primogéni(t)o Camilo, mais quatro filhos: Madalena (menina que morre aos cinco anos), Francisco, Madalena da Purificação (note-se o pormenor de uma outra filha também Madalena, nascida dois anos depois do óbito da primeira, mas seguida de “Purificação” – Camilo fez poema com este leitmotiv onomástico) e Manuel Luís (cuja neurastenia o levou alguns tempos ao hospício de doenças mentais e nervosas). Estes dados, escrupulosamente respigados por António Quadros na exegese introdutória que referi supra (entrada anterior, de 11-06-10), iluminam de outra luz (sombria, é certo) o sétimo soneto da 1.ª edição da Clepsydra (que saiu em 1920, publicada em vida ainda do Poeta e por ele sancionada, após colaboração que teve da amada – mas intangível – Ana de Castro Osório e de seu, dela, filho, João de Castro Osório. A este propósito, veja-se (e leia-se, e leia-se) o belíssimo O Amor de Camilo Pessanha, do grande enorme gigante António Osório (Edições Elo, em data a determinar).

Dá de sua graça (17h41m) o Grande Rá, herança melhor e maior que nos legou o Antigo Egipto dos faraós e dos escravos e dos escribas e dos sacerdotes. Um pouco-quase-nada de Sol – e é quanto basta para cada um(a) se aperceber da comum raridade de se estar e ser vivo(a). Acrescidas a mornidão digestiva da sopa, a chávena de café e meia-dúzia de cigarros, mais e melhor a herança solar da tarde.

Senhoras e senhores, topai-me as tremendas (e tenebrosíssimas) beleza & força & evanescência & Poesia dos cinco versos que encerram, de Camilo Pessanha, a Clepsidra:

Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados,
Que toda a noite errais, doces almas penando,
E as asas lacerais na aresta dos telhados,
E no vento expirais em um queixume brando,

Adormecei. Não suspireis. Não respireis.

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 13 - fragmento 2


O Tempo não deve ser perdido a contá-lo, eu sei. Mas é o que faço, por números e por palavras, datas e frases. Meteografia e cronografia são as velas com que mantenho vivas as chamas da ilusão de o não perder, ao Tempo, de todo. Há manias piores e ilusões bem mais homicidas.

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 13 - fragmento 1




13. MAS À DEMANDA, ANDO



Coimbra, sábado, 12 de Junho de 2010



Feira Medieval nas imediações da Sé Velha. Dentro da Sé, agora (09h10) para escutar, na missa, o coro sacro. Pareço estar dentro do livro de Pedro Dias, que aliás tenho nos joelhos em pleno capítulo dedicado à Sé Velha. Desci pelo Largo da Feira (Sé Nova) e pela antiga Rua das Covas (hoje Borges Carneiro, onde há placa na casa n.º 56: “Aqui viveu António Monteiro (Calmeirão) Célebre Mandador das Fogueiras Coimbra, 9 de Dezembro de 1978 Os Salatinas”), passei rente à casa onde nasci (antigo Instituto Maternal, depois Conservatório Regional de Música).
Fora da santa missa, está montada a feira. Há um porco pendurado e cortado em metades de boa simetria. Há lume aceso no chão. Tendas de couros, cornos de soprar em trompa, tavernas várias, bolos, legumes, flores (algumas enlaçadas em coroa para botar na cabeça), vestimentas. Acho que aquele ali é o Mário da Costa, da Viv’Arte, salvo erro, que entrevistei para os jornais O Aveiro e O Eco de Pombal. (Esqueci-me de trazer moedas, falta-me uma chávena de café). Ainda não vi o Ca’litos & Os Gambuzinos. Muita gente vestida à época. Uma louraça potente, mas à século XXI, sobe as escadas da Sé e entra pela nave central. Mesmo que repetidos um pouco por toda a parte, estes certames são sempre curiosos. O Tempo nunca pára, mas pode ser reproduzido sem ofensa. Passa o Quinzinho Marques da Pedrulha, direito vai ele à missa. Passa um frade de burel castanho, corda à barriga e sandálias – mui apropriadamente gordo. Gosto dos fumos que sobem dos lumes. Um figurante muito parecida com aquele actor que faz de mauzão no Robocop, engraçado. Púcaros de barro na Taverna de Santa Bebiana, mesmo ao pé da casa em que viveu o Zeca Afonso quando estudante. (Falta-me um café). Bons torsos de porco no espeto, do lado direito de quem sai da Sé. Um dos carniceiros, a rigor trajado, atende o telemóvel. Polícia, bombeiros e pronto-socorro destoam no ambiente, também. Perfume: assa-se sardinha. Maltosa do haxixe e da cannabis sentada no chão com copos plásticos de cerveja. Cabeças abarretadas, um que outro casal estrangeiro, conimbricenses & coimbrinhas, máquinas fotográficas e videocâmaras, chouriços, pães grandes, fim da missa, debandada.
Ajuntamento de figurantes nas escadarias da Sé para inauguração proclamada da feira e bênção dos feirantes:



Atenção, ricos-homens, gente da gleba e arraia-miúda…

Outro figurante-sósia, este de Hugh Laurie (o Dr. House). E vinda embora, sem ver o Ca’litos. No geral, interessante e pitoresco. Pronto.

22/07/2010

Rosário Breve nº 164 - www.oribatejo.pt

Roda


Quando a roda da fortuna se cansa de ser parva e me abona umas quantas moedas, venho a esta casa-de-pasto enfardar uma refeição quente. É sítio humilde e limpo, permitindo-me o exercício de uma solidão não desprovida de majestade. Não é exagerada, a palavra “majestade”, posto que, em torno e derredor, pelas dez mesas e vinte cadeiras, a minha companhia é principesca: tudo trabalhadores manuais, homens todos, gente poderosa da vida real, pessoas sem metáforas e sem ilusões e com moedas.
A um canto alto, arde frio o televisor. Toalhas de papel municiam e admitem a inscrição de rascunhos de crónicas tão ribatejanas no particular quão portuguesas no geral. Bocados de pão, gomos de batata cozida, medalhas de pescada frita, hemorragias de sarrabulho, salsichas moles como glandes envelhemurchescidas, pratos de sopa olhados por uma retina de azeite, almotolias avinagradas como o mau-humor e a descrença na Fé.
Hoje, por ter moedas, aqui estou. Espero um Amigo de há trinta e cinco anos. E ele há-de vir como a fortuna, a qual, rode o que rodar, me não proibirá nunca nem a majestosa solidão, nem a graça tão virtuosa de comer bacalhau rodeado de príncipes.

19/07/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 46 - 19 de Julho de 2010

46. DESOLAÇÃO DE SEGUNDA-FEIRA

Coimbra, segunda-feira, 19 de Julho de 2010

Os dias mais recentes têm sido dedicados à resistência a uma espécie de melancolia diferente da que me é trivial, isto é, a de rama lírica, sendo esta de maior arbusto angustioso. O calor adquire, não raro, feições psicológicas típicas da desolação mexicana – e o entardenoitecer despista um homem (eu, no caso) pelos meandros ínvios da depressão à berlinense. Eu sei: tudo isto (este palavreado todo) sugere alguma mistela metafórica (ou pior) tipo “iconografia geo-oro-meteo-topo-cultural”, ou o Diabo por ela, mas é o que sinto que seja.
Sinto que há valores seguros na vida: a solidão, Beethoven, a comida enlatada, a Noite. E nos bebedouros da Noite, entre homólogos (uma cabeça por mesa ou banco de balcão), a evidência de pertencer a uma tribo de náufragos nómadas não desprovidos da urbanidade de maneiras nem de conhecimentos relativos ao Tour de France – desampara e faz escrever ideária e coimbramente. A etapa do dia (19/07/10), aliás, é entre Pamiers e Bagnères-de-Luchon.

Não há grandes nem pequenas coincidências. Hoje mesmo, segunda-feira (19/07/10), dei uma aula suportada em papel por um manual de História, o mesmo que enquanto aluno recebi no 7.º ano de escolaridade. O manual chama-se História – Antiguidade e é da autoria de Maria Luísa Guerra. A edição é de 1976 e da Porto Editora / Empresa Literária Fluminense. Dei hoje as páginas 4 a 13, inclusive. O meu professor de então (1976/77) chamava-se Dr. Severo de Melo. Ainda se chama: está ali, a fumar cachimbo como sempre e como sempre a escrever, numa mesa solitária e pensativa do Bar S. José, no piso térreo do Girassolum. Nem pequenas nem grandes coincidências: incidências só, é o que há e é o que é.

Não acontece muitas vezes, mas acontece: subo ao piso superior do Dolce Vita e como uma meia-sopa por um euro e setenta cêntimos. No fim de comer, as pessoas deixam tabuleiros, pratos, talher e copos sobre as mesas. Depois virá, homem pobre ou pobre mulher, quem os recoleccionará e redistribuirá pelas lojas de comida de que provieram. Às vezes, sobretudo em hora de menor ponta, os tabuleiros ficam algum tempo. É então que o vejo: um português da minha idade, geralmente de sandálias. Senta-se ao pé dos tabuleiros abandonados sobre que os pratos conservem restos maiores: de pizza, de salsicha brasileira, de asa de frango à Kentucky, de bocado de ananás, da humílima broa até. Senta-se e come logo quanto pode. Também guarda alguma coisa (a broa, a asa) numa espécie de pochette de napa. Para depois. Como antes.

Picar a última cebola, abrir e escorrer a derradeira lata de cavalas, cingir tudo em pão fatiado, beber um copo de água da torneira da cozinha (mais viva sempre que a da torneira do lavatório da casa-de-banho) e meter adentro as ameixas terminais compradas por impulso na banca de fruta de um homem maneta – uma ceia decente, de gente, a minha.

16/07/2010

Rosário Breve nº 163 - www.oribatejo.pt


O jornal a quem o trabalha

Sim, voltei a percorrer as páginas de anúncios dos jornais. Procuro trabalho(s). É quase só o que leio deles, aliás. Não me lembro de o jornalismo estar assim: tão reles, digo. Antigamente, a informação era interessante. Hoje, é interesseira, interessada e serve interesses. Não, não procuro trabalho no jornalismo activo. Deixei-me disso. Deixei-me disso porque a única coisa que tinha à venda eram os braços, não os olhos, não a cabeça, não a alma. Fiz bem em bater com a porta ao economato em que o “jornalismo” (com aspas pois, tem de ser) se tornou.
A minha utopia era esta e era simples: que os jornais pertencessem aos jornalistas. Como as escolas às comunidades que servem. Como as bancas de azeitonas, tremoços, nozes, pevides e chupa-chupas artesanais embrulhados em papel de seda às senhoras sentadas ante elas e que pelas praças do País causam aos nostálgicos como eu uma melancolia pueril.
Mas não. Os jornais não são dos jornalistas – nem os jornalistas se sentem dos jornais. Uns, estão ali pelo fim do mês. Outros, até ao fim do mês. É por causa das “sinergias”, dos “gestores”, das “económico-reses”, dos “lambe-pés”. É, é.
Repare-se nisto: notícias já não há – há “conteúdos”. Os suplementos de “sabores e saberes” são mais do que as mães. Notícias, reportagens de fundo? Está quieto, ó mau!
Acordei hoje assim, deu-me para isto, desculpai-me. Vou ali ao café do senhor Manuel e da dona Adelaide ler (à borla) o pasquim local a ver se os meus braços são precisos em algum lado. Duvido que. Mas se encontrar, darei notícia.

15/07/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 12 (f) - conclusão da entrada datada de Coimbra, sexta-feira, 11 de Junho de 2010



Muitos seres antigos, quais vasos sem água,
transitam em fumo pelas calçadas.
Os tudos da vida na morte são nadas,
quais vasos sem ser, muito antig’águas.

A referência viária da Estrada da Beira é N17. O autocarro 26 vai para Chão do Bispo e o 34, para o Pólo II da Universidade. (Da Estrada, estou seguro; espero não ter falhado a numeração dos autocarros.) A cara daquela senhora, coitada, mora atrás de duas lentes fundo-de-garrafa. Compensa com madeixas ruças, como a outra da Carolina Michaëlis. Repetem na TV o primeiro golo do África do Sul – México: anestésico psicossocial, ou trópico. Alienação sim, desemprego que se lixe. (O nosso cancro é termos muito Sócrates e nenhum Platão.) Ali, agora, ao balcão, um rapaz encarnado emborca de penalty uma mini muito frígida. Tasquinha tremoços carregados de sal grosso como se debicasse uma caixa de sardinha em salmoura. Blusãozito à-matador-à-matador, mas de napa tipo Feira dos 23. Ao pé dele, um moçoilo perfumado de cannabis-knorr. (Este soslaia-me, curioso de ainda se escrever à mão em papel-papel.) Mais atrás deste pinqueflóide, um metro e oitenta (mínimo) de empregado bancário em casual wear: pulôver lançado aos ombros e lassamente amarrado ao peito, camisa salmão às listras brancas, sapato-de-vela, cabelo à CDS, Levi’s caras e invejáveis circundando os pernilongos. Nesta meia sala, seis mesas de tampo redondo, quadradas o resto (escrevo a uma destas, sou o único sentado). A mulher cu-de-garrafa fala na rua com o John Wayne. Luzem nas estantes a aguardente Zimbro, Favaios, Offley, São Domingos, Licor Beirão, anis Domus, ginja Victor e ponche Oriental. A hora é chegada de ir comer alguma coisa. Próxima, a Noite vem reclamando as derradeiras sombras do aliás muito sombrio Dia. Uma sopa, duas lâminas de pão com mortadela, algum legume, uma chávena de café-cevada e já vou, ou vento com sorte.

(O what a beautiful morning)

A manhã é tão perfeita
É tão bem feita a manhã
Al maçã em cor poção
Ãmor in verso é romã.

Vai caindo o pano do dia. Oito minutos para as vinte e três. Amanhã é dia de Feira Medieval na Sé Velha e nas imediações. Música sacra ás nove na velha catedral, depois hei-de ver e ouvir o meu sobrinho Ca’litos com os seus Gambuzinos: sons e ritmos medievos em trajes à maneira. Já os vi na Net, mas vou gostar ’inda mais de os ver em carne & som & osso & tudo. Há que (pre)encher os dias, tal que a melancolia e a incerteza não me ganhem o jogo-da-bandeira.
De resto, beleza-beleza-beleza-beleza: terminada a leitura do n.º 503 dos Livros de Bolso Europa-América, não pude resistir a encetar e levar por diante o 502 – Clepsidra e Poemas Dispersos, naturalmente do gigante Camilo Pessanha, edição (muito) melhorada pelas excelentíssimas Introdução Biográfica e Crítica, Organização e Notas de António Quadros. Horas (boas) com a cabeça entornada para tão excelsas escritas e inscrições. Ao mesmo tempo – ou em tempo paralelo –, organização cronográfica de uma agenda com, dia por dia, ano por ano, informações a aproveitar para redacções e melancolias futuras. Exemplo:

“21.8.1887 – ‘Na Pasta de Abel Aníbal’ – data desta 1.ª versão do soneto (Cam.º Pessanha) “Tenho sonhos cruéis; n’alma doente (…)”.”

Um dia útil, portanto. E um serão idem.

14/07/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 12 (e) - continuação da entrada datada de Coimbra, sexta-feira, 11 de Junho de 2010



Saio a prear mais ares, aragens, paragens e moções. O tempo (sem sol e sem chuva) é propício à deambulação. A serenidade é a possível. A atenção é omnívora, isso sim. Ala.

Estive nesta mesma sala de café vai para bem mais de trinta anos. Coisa de trinta e cinco, por aí. O meu irmão Fernando levou-me às Piscinas Municipais. Não eram estas modernaças de agora, claro que não, mas valiam por toda uma euforia incondicional. Depois, viemos para aqui. Parece que estou a ver o Zé Amaro a merendar uma bola-de-Berlim e um copo de leite. O Fernando trouxe-me um “sumo de frutas”, embora fosse só uma laranjada (uma Buçaco ou uma Serranita ou uma Cruzeiro ou uma Laranjina C ou uma Superfresco, não sei). Sempre foi de uma generosidade despojada, esse meu irmão. Bem-hajas. O século mudou, o milénio também – e aqui me eis, um quarentão sem ilusões (mas pleno de alusões) e sem Fernando, de momento. A África do Sul empatou com o México (1-1) na partida inaugural do Mundial-2010. A sala está povoada de canastrões maduros e desbocados como eu, sobretudo aquele pequenito ali, que ladra tanto mais alto quão mais é baixo de tíbias & tacões. Súbito, entra este maralhal todo, entra uma morenaça nutrida de cabelo escarolado que tenho visto passar outros dias outras feiras. Semi-silêncios e semi-rosnadelas lúbricas. Ela apresenta-se bem, pede um quartilho de água mineral (tara perdida), paga e sai, deixando por rasto, como um visco de caracol, o desassossego de uma dúzia de próstatas. Como só às 19h30m volta a dar jogo na TV (Uruguai contra os bardamijos da França), o café é evacuado num ímpeto. A propósito, trata-se do Café Abadia, na Rua dos Combatentes da Grande Guerra. Do outro lado da rua, outro café, que vagamente usei durante o meu tempo liceal no Infanta D. Maria – o LD (significa: Lanternas Douradas, nem toda a gente sabe isto, atenção). O pequenito continua à porta a ladrar. Parece um terrier a pilhas Duracell. Entra um sósia do John Wayne, mas sem chapéu nem fuscas à banda. Lembro-me de, no extinto Café A Brasileira, à Ferreira Borges, no princípio dos meus universitários anos 80, andarem por lá duas caras-chapadas curiosíssimas: o Príncipe Carlos de Inglaterra e o Vladimir Ilich Ulianov, vulgo Lenine. Também havia um Jorge Luis Borges, mas usava óculos e via e não era genial. Hoje, vejo dois cedros ainda tímidos plantados no separador triangular em frente ao Abadia. Em outro além, próximo também, a mole da Igreja de S. José. Mas este café mantém a traça e o mobiliário de estabelecimento pequeno-burguês das décadas de 60 e 70/XX. Agrada-me. Desconheço a razão por que tanto me agradam os anacronismos. Talvez porque me tenha volvido um. Sim, isto mesmo: volvi-me um anacronismo – mas antes isso do que ser corno e/ou andar na droga. Agora, povoação do Abadia: o patrão, eu e dois rapazes na orla dos setenta e picos. Ambos de jaqueta de terileno, uma ligeiramente escurecida de âmbar, a outra configurada em casca de ovo de prata. Mostram atavio e demonstram memória: o mais velho dos dois fala de uma Académica, 2 – Sporting, 7, no tempo dos Cinco Violinos. Cabeleiras brancas de bom matiz e razoável qualidade. Peles algo rubro-vinícolas, mas global asseio de corpo e paramentos. O mais novo dos dois velhos raspa, distraído do mundo mas concentrado no prurido, o cu das calças. Apercebe-se do que fazia, olha em torno, descobre-me a olhar-lhe para a mão no cagueiro. Tosse para disfarçar, manda vir uma rodada, começa a falar depressa e em voz alta. Desvio logo o olhar e não escrevo de imediato para o senhor não desconfiar. Agora, um terceiro (o John Wayne) junta-se-lhes. Começam a dizer mal do pequenito irrisório e irritante de há bocado. Sinto-me em odor de santidade. Isto poderia ser Viseu sem quase diferença alguma. Ou Leiria. Ou Aveiro. Ou Lisboa. Mas é Coimbra – e eu sou daqui nascido. Não estranharei nomes de ruas ou de bairros que à tona do falatório surjam. Nada estranharei, aqui. Viseu, Leiria, Aveiro e Lisboa são-me simétricas topografias no afecto (e até na nostalgia, como não admiti-lo?). Mas é que “nostalgia” é, por étimo grego, “dor do lar” – e o meu lar é Coimbra, venha de cá quem já cá estiver e de lá quem vier ou não. Súmula de pessoais trâmites, sangue de sangue e palavra de palavra, ser de um sítio é como ser de alguém – e, à falta de alguém, sempre se casa com o sítio. (Esta não ficou mal.)

12/07/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 12 (d) - continuação da entrada datada de Coimbra, sexta-feira, 11 de Junho de 2010



Interessam-me o traçado das ruas e a massa do casario por corresponderem, um como outra, ao traçado e à massa da existência essencial. O colear, serpear, curvar e recurvar das artérias não é polissémico em vão: artérias são ruas e são veias. A massa corporal das casas equivale, tim-tim por tim-tim, a o corpo ser a casa de cada um. E isso só poderia interessar-me. Então, aquela fonte ali, motor de pedra pulsando os óleos minerais da água domesticada, alívio de passaritos, aspersão de poalhas que benfazem de hissope sobre a relva pagã. Inscrevo estas nada triviais evidências na minha vida manuscrita – é quanto posso fazer, mais, é quanto não posso deixar de fazer. E então, ainda, as polidimensões mesclam-se em furta-cores, caleidoscópicas, retinem retinas mentais: António Nobre e um palacete sem amos, a marisqueira e o Colégio de S. José dos Marianos, Afonso Duarte e a tinta impermanente do entardenoitecer, a solidão devoradora de Camilo Pessanha e a desolação feliz da Rua Augusta quando se desce de Celas para a Antero de Quental às seis e meia da manhã, a Vila Marini e a Quinta do Notel e a senhora mexicana morta sob o trolley-bus na Rua da Sofia vai para quarenta anos, o Penedo da Meditação e o primeiro casamento de José Afonso, os malucos de Coimbra tornando-a mais Coimbra, os autocarros como formigas amarelas e a macieza vernácula da pedra-de-Ançã, o Jardim da Manga e Carlos de Oliveira acabado de chegar de Febres, os estudan’tunos de 1888 e a vitória académica na Taça de 1939, os senhores Amaro, Lucas, Gonçalves, Nunes, Paula, Sacramento, Elói, Carvalho e Fernandes, Rocha Nova, Lordemão, Ceira e Chão do Bispo, a Casa da Nau (ou do Navio; ou Bombardeiro) e a Clara e o Beco das Cruzes e o Carlos Alberto Mercier Abrantes Cardoso, a floração fragrante do jacarandá e a nespereira dando pepitas ao senhor reitor, a quadrângula desflorada de uma praça em contraste da redondez cosmogónica de outra, a Maria da Conceição Saraiva Pinto na Leitaria do Raul e o S. Sebastião anichado alto nos Arcos do Jardim, a peremptória dignidade dos cães vadios e o carácter lambéconas dos de estimação que usam colete, o vento quando é crespo na pele do Rio e o Rio quando adoça as sombras e os pés das raparigas pobres, as Almas de Freire observadas astronomicamente e a Lomba da Arregaça alombada arregaçadamente, o Loreto e a Relvinha, o Olival de S. Domingos e a Rua do Infante Santo, um velho a chorar na Rua de Saragoça e um bebé à gargalhada na Ladeira da Sentiva, ter caído tanta neve no dia 11 de Fevereiro de 1983 e não ter caído nenhuma hoje, a Guarda Inglesa e a Casa dos Vagares, a minha Mãe e o meu Pai, a boga e o robaco, a Vala do Norte e o Poço do Almegue, o Tó-Zé que deve o carro ao banco e a Milu – assentada num banquinho – faz favor ir lá p’ra lhe dar um tostãozinho, os coimbrinhas que fedem e os conimbricenses que fodem, a translucidez única e mediúnica da música de Carlos Paredes e a rapacidade imobiliária dos autarcas, os patos da minha rotunda e os anjos nus que pousam no balcão da minha varanda um exacto segundo depois que adormeço, a voz botânica dos meus mortos e a mineral dos mortos dos outros, uma rua chamada da Alegria e uma fonte dita dos Amores, um bairro ser da Rosa e uma quinta estar em Lágrimas, um penedo ter Saudade e um monte ser Formoso, o Menano e o Hilário, o Gervásio e o José Maria Antunes.

E António Quadros recuperando, da Origem da Língua Portuguesa, de Duarte Nunes Leão (século XVI), isto:

(A saudade) “he l~ebrança de alg~ua cousa como desejo della.”

11/07/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 12 (c) - continuação da entrada datada de Coimbra, sexta-feira, 11 de Junho de 2010

António Quadros

Livros de Bolso Europa-América, n.º 502, Clepsidra e Poemas Dispersos de Camilo Pessanha. Na Introdução (pp. 30-31), escreve António Quadros isto:

O que um homem faz, é o que o homem é, e o que o homem é não se atinge senão através do que ele faz. A poesia é essencialmente um fazer criativo – uma poiêsis –, um fazer mágico de mais ser, o ser artístico, alquimia do ritmo, do canto, da palavra. E, por intermédio desta poiêsis, é também a si próprio que o poeta se vai fazendo ou refazendo como outro do que no início era. Na sua poesia, ele, que é existência fluida, que é devir imparável e constante corrupção, quereria fixar-se em essência, como se cada poema fosse a detenção e a fixação de algo de substancial nele, o mais verdadeiro, o mais profundo, o mais imperecível, algo que na implacável caducidade e distracção das horas se perderia para sempre.

09/07/2010

Rosário Breve nº 162 - www.oribatejo.pt



Nem analogias nem refrigério




Há as mulheres sérias e as mulheres que levam os homens a sério.
Faço tal descoberta aparatosa e banal (e melancólica, já agora) numa destas noites em que nem sequer a proximidade da meia-noite desce o mercúrio dos trinta e tal graus. Anoto a coisa no caderno e tento valer-me dela para uma analogia com os políticos e os lacaios deles, isto é, nós. Não consigo a analogia. Teria de começar por algo como – “Há os políticos sérios…”. A coisa emperra aqui logo, pelo que me vejo constrangido a continuar a pensar em mulheres num café suburbano cuja ventoinha do tecto parece aumentar o calor em vez de amainá-lo.
A única mulher presente é a patroa do estabelecimento, que vos garanto pertencer à primeira classe da minha descoberta, não à segunda. O resto da sufocada população do tasco é um bombeiro de 80 e tal anos, um electricista que esteve mais de uma década no Luxemburgo e cometeu a patetice de voltar, um brasileiro de Pernambuco que pergunta a toda a gente se o Luxemburgo é muito longe e um cronista de um jornal de Santarém que não é O Mirante, é o outro, não me lembro agora do título. Não sei se todos são sérios, mas desconfio que já se não levam muito a sério a eles mesmos. E se calhar não é do calor de forno que lhes torna as bocas em ós de peixe fora de água.
Os desempregados do bairro (toda a gente, menos a dona do café) sentam-se no muro em frente da esplanada e olham para o bombeiro, para o ex-emigrante, para o pernambucano e para aquele que escreve para O Mirante ou lá como se chama a folha. Nenhum destes, porém, convida qualquer daqueles para uma mini mesmo sem tremoços, quanto mais caracóis. De vez em quando passa uma ambulância com uma grávida dentro a caminho de uma SCUT que ainda não seja preciso pagar. A grávida vai muito incomodada com o apelo à ética do dr. Mário Soares e com a má ideia de ter deixado que lhe fizessem um filho aqui, não no Luxemburgo.
E eu tento outra vez – “Há os políticos sérios…”. E não consigo. E o calor não dá tréguas nem esperança.

07/07/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 12 (b) - continuação da entrada datada de Coimbra, sexta-feira, 11 de Junho de 2010

Agora, nO Nosso, uma faneca/fulaneca horrorosa que telemove em voz altifalante. Em dois minutos, grunhe catorze vezes é-assim. Subproduto orgânico, estragação de vísceras, faz-me rezar a prece de ter, ela, as trompas laqueadas a requeijão. É das que têm dentes na vulva, dessas que, por tal e tanto, usam mais palitos do que prepúcios. Mulherola insuportável, vazia e ventosa como uma cueca a enxugar no arame. Vota Sócrates quase de certeza. Acha-o sexy quase de certeza. E muito esperto e muito sério. Única qualidade visível: bebe spébóques como um trolha. Se for fufa, coitadas das mulheres. Deve valer tanto a pena levá-la ao castigo como sulcar a língua com uma gilete. Serzinho imbecil, é-assim, é-assim, é-assim, é assim o caralho.

Algumas palavras a usar em vida próxima: calendário – maltês – ranho – lesão – barbas – asseio – galarins – ebuliência – quietude – inquietude – sé – gaita – altura – ábaco – transbordo – colmo – calma – alma – elmo – singradura – angra – unguento – tónico – tropismo – princípio – primaz – construção – poeira – travessa – gladíolo – opúsculo – fístula – versicolor – cetim – axial – malvasia – moela – occipital – nervura – pilim – títere – platense – elucubração – sono.

03/07/2010

Rosário Breve nº 161 - www.oribatejo.pt

Villa, agente secreto do TGV


De um golpe só, o avançado espanhol David Villa devolveu-nos à temida e temível realidade portuguesa com certeza. Mau golo para os espíritos pobres (quase todos nós), mas golo mau também para os pobres de espírito que nos desgovernam. Quero, com isto, jogar limpo: o desemprego voltou a existir, a in-ducação voltou a existir, as SCUT vão ser pagas pelo pagode e quanto ao pato-bravo TGV espere um bocadinho vomecê que já vê.
Eu cá nunca poria o Pepe de início. Está sem ritmo competitivo, um pouco à maneira dos desempregados de longa data, a quem não dão trabalho porque estão sem ritmo competitivo também. Mesmo assim, ele andam por aí projecções (encomendadas ao gosto do cliente, como todas) que garantem, mesmo assim, coisa de 34 por cento, apesar de tudo, ao PS. Já Miguel Relvas, praticamente sozinho, alcandora-se a 37 por cento. Mesmo assim – e apesar de Edro Assos Oelho. Eu cá, se fosse o professor Queiroz, punha o Relvas de início.
O Relvas e o Tony Carreira, que de vento em popa vai bolinando praças e praças de gastronomia e “cultura” locais. Dois pontas-de-lança à maneira, portanto. Os nove restantes da linha seriam: Moita Flores à baliza a dizer mal dos que bebem vinho, dupla central de desempregados ribatejanos previstos nos tais mesmo-assim-34-por-cento, defesa-direito um gato coxo de Almeirim, defesa-esquerdo um tabuleiro de Tomar. Meio-campo, Cavaco Silva à direita (claro) e a dizer que não pode ir ao enterro do Saramago porque está a jogar contra os espanhóis, Deco ao centro a perguntar como é que é o verso a seguir a “egrégios Avós” e o qu’é que quer dizer “egrégios”, e a médio-ala-esquerdo o João Baião para o seleccionado ser misto. Já vamos em oito. Com o Relvas e o Tony, dez. Falto eu. Mas só jogo se as portagens da SCUT só deixarem passar o Pepe, não o David Villa.





01/07/2010

A minha Mãe está muito doente

Que o Deus dos outros não toque numa Mãe que é minha - não é quanto peço, mas quanto digo.

Canzoada Assaltante