Para Pat e Gab, em Buenos Aires
We all have different memories of life.
The human memory is a very unreliable idiosyncratic device.
Roger Waters
The human memory is a very unreliable idiosyncratic device.
Roger Waters
A memória é esse palácio de inverno
tomado e retomado vezes infinitas
pelo mesmo bolchevique: um eu
qualquer.
Um eu qualquer escrevendo à noite
para constituir uma memória nova, amanhã:
a manhã antiga.
Nova e tão pouco fiável como
todas as manhãs e todas as memórias:
todos os palácios.
Um bolchevique qualquer caindo na escadaria
durante o assalto, na vez afinal finita
da recordação: a única diferente:
a última.
Qualquer é eu.
Não recordo outro.
Quantas vezes, ante um bosque,
a lembrança do mar vara o tomador
do palácio?
Quantas vezes?
Uma única mesma mentirosa anelante
vez.
O homem do fato escuro
descendo a calçada molhada
de lojas crepusculares,
a luz das lojas
molhando-lhe os passos,
entristecendo-o um pouco
sem razão, talvez.
A mulher de robe cor-de-rosa
(e flores verdes, carnívoras, estampadas)
finalizada na saleta de televisão
do Lar, ante a televisão-bosque,
antes de lembrar-se amanhã
do mar.
Acontece sempre uma voz alheia
chamar dela
às minhas coisas
bolcheviques
escritas à noite
– e eu chamar minha
a tal alheia de facto
voz.
A luz que vem da televisão,
a luz que vem das lojas,
o olhar das flores de robe,
os passos do fato escuro.
Os passos do fato escuro
no primeiro degrau
da escadaria
do último palácio,
amanhã.
tomado e retomado vezes infinitas
pelo mesmo bolchevique: um eu
qualquer.
Um eu qualquer escrevendo à noite
para constituir uma memória nova, amanhã:
a manhã antiga.
Nova e tão pouco fiável como
todas as manhãs e todas as memórias:
todos os palácios.
Um bolchevique qualquer caindo na escadaria
durante o assalto, na vez afinal finita
da recordação: a única diferente:
a última.
Qualquer é eu.
Não recordo outro.
Quantas vezes, ante um bosque,
a lembrança do mar vara o tomador
do palácio?
Quantas vezes?
Uma única mesma mentirosa anelante
vez.
O homem do fato escuro
descendo a calçada molhada
de lojas crepusculares,
a luz das lojas
molhando-lhe os passos,
entristecendo-o um pouco
sem razão, talvez.
A mulher de robe cor-de-rosa
(e flores verdes, carnívoras, estampadas)
finalizada na saleta de televisão
do Lar, ante a televisão-bosque,
antes de lembrar-se amanhã
do mar.
Acontece sempre uma voz alheia
chamar dela
às minhas coisas
bolcheviques
escritas à noite
– e eu chamar minha
a tal alheia de facto
voz.
A luz que vem da televisão,
a luz que vem das lojas,
o olhar das flores de robe,
os passos do fato escuro.
Os passos do fato escuro
no primeiro degrau
da escadaria
do último palácio,
amanhã.
Texto: Caramulo, noite de 9 de Julho de 2007
Fotografia: Caramulo, manhã de 6 de Julho de 2007
2 comentários:
Fiável Palácio da Poesia, caro Daniel!Excelente poema, ora leiam se fazem favor!
Um abraço.
Dancei com este poema...
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