(É domingo de festa, dia da Senhora
que foi em vida Margarida e deveio Santa.)
Uma vez na vida, a vila
tem gente. Velhos e crianças
borboleteiam entre árvores,
nunca longe da água fresca
e dos tabuleiros de doces.
Churrascos perfumam a devoção.
Homens conversam gravemente
ao balcão de tábuas: cerveja e
Poder Local. Há balões e farturas.
Os idosos do Lar em frente
ao recinto da festa pasmam
muito interessados na repetição
da memória e da Santa.
Os animais sem dono
festejam também. São hoje
mais públicos que nunca.
Dão-lhes ossos de frango.
A noite será de lâmpadas.
Música eléctrica adensa o ar.
Bebedeiras e motorizadas
são as vertigens possíveis.
A capela está bonita
como uma casinha de boneca só.
Rama verde torna-se pelo
chão cinzenta e humana.
Também as almas tomam
hélio para levitar.
Hoje, o tigre da montanha não
anoitecerá nas ruas vãs.
Uma recém-casada de
remunerado peitoral
entralha no corte mamário
um fio de ouro votivo.
Seu marido é pequenito
e rijo: veio de sapatilhas
mostrar a mulher e um
carrito novo de dois lugares.
Nem a vida parece
tão limítrofe quanto costuma.
Mel e pão novo creditam
a eternidade artesanal.
Dou por mim amando
sem pensar: esta gente,
estes gestos, esta agonia,
esta capela, este domingo.
Anos tornam-se arvoredos.
Trilhos de terra, calendários.
Passos sem corpo passam.
Vozes escutam vozes.
Não importa. Bonitos são
estes casacos de napa,
bonita é a esvoaçante chita
das raparigas soltas
e solteiras.
E bonito é que tão quão
nós sejam pobres os nossos
santos: ouro um dia,
frio todo o ano – e vento.
Bento domingo montanhoso.
Paisagem e despovoamento.
Toma-nos a noite por
ínvios mestrados lunares.
E fé e efemeridade.
E perpétua redenção.
Por perto, perpétuos,
dormem-nos os idos.
O mesmo domingo nos volta,
mudando nada a nosso
feérico patriotismo capelão.
Esperamos viver.
Rancho primeiro, depois
tuna cavaquinha. Tudo
no maior acordo
de acorde maior.
Uma tarde em jade
que há-de repetir-se
em nossa idade:
lembrar-se, ir-se.
(É domingo de festa, dia da Senhora
que foi Santa e depois Margarida.)
que foi em vida Margarida e deveio Santa.)
Uma vez na vida, a vila
tem gente. Velhos e crianças
borboleteiam entre árvores,
nunca longe da água fresca
e dos tabuleiros de doces.
Churrascos perfumam a devoção.
Homens conversam gravemente
ao balcão de tábuas: cerveja e
Poder Local. Há balões e farturas.
Os idosos do Lar em frente
ao recinto da festa pasmam
muito interessados na repetição
da memória e da Santa.
Os animais sem dono
festejam também. São hoje
mais públicos que nunca.
Dão-lhes ossos de frango.
A noite será de lâmpadas.
Música eléctrica adensa o ar.
Bebedeiras e motorizadas
são as vertigens possíveis.
A capela está bonita
como uma casinha de boneca só.
Rama verde torna-se pelo
chão cinzenta e humana.
Também as almas tomam
hélio para levitar.
Hoje, o tigre da montanha não
anoitecerá nas ruas vãs.
Uma recém-casada de
remunerado peitoral
entralha no corte mamário
um fio de ouro votivo.
Seu marido é pequenito
e rijo: veio de sapatilhas
mostrar a mulher e um
carrito novo de dois lugares.
Nem a vida parece
tão limítrofe quanto costuma.
Mel e pão novo creditam
a eternidade artesanal.
Dou por mim amando
sem pensar: esta gente,
estes gestos, esta agonia,
esta capela, este domingo.
Anos tornam-se arvoredos.
Trilhos de terra, calendários.
Passos sem corpo passam.
Vozes escutam vozes.
Não importa. Bonitos são
estes casacos de napa,
bonita é a esvoaçante chita
das raparigas soltas
e solteiras.
E bonito é que tão quão
nós sejam pobres os nossos
santos: ouro um dia,
frio todo o ano – e vento.
Bento domingo montanhoso.
Paisagem e despovoamento.
Toma-nos a noite por
ínvios mestrados lunares.
E fé e efemeridade.
E perpétua redenção.
Por perto, perpétuos,
dormem-nos os idos.
O mesmo domingo nos volta,
mudando nada a nosso
feérico patriotismo capelão.
Esperamos viver.
Rancho primeiro, depois
tuna cavaquinha. Tudo
no maior acordo
de acorde maior.
Uma tarde em jade
que há-de repetir-se
em nossa idade:
lembrar-se, ir-se.
(É domingo de festa, dia da Senhora
que foi Santa e depois Margarida.)
Sem comentários:
Enviar um comentário