Hoje o dia anoiteceu com veleidades matinais.
Não tenho outro modo de o pôr:
a luz e o ar eram de amanhecer.
Eu amanheci.
Vinha a pé para casa quando
fui tocado pela inversa graça
do tempo.
Tirei os olhos do chão,
onde sempre os tenho
para me aperceber
da altura do mundo,
e integrei-me na conversão suavíssima
das nove da noite da manhã.
De um pátio deserto
chegavam sombras circulares,
como essas manchas solares
em renda no olho aberto.
Não tive de fazer nada
para conhecer que estava
completamente só
em todo o idioma
da antecipação
que me matriculara.
A noite não era a noite:
como, dentro do útero,
o ele que depois
temos de ser
não é,
ainda não,
na noite.
Texto: Caramulo, noite de 10 de Julho de 2007
Fotografia: Caramulo, vista para Besteiros,
longe a Estrela, noite de 6 de Julho de 2007
3 comentários:
Bom dia, Daniel!
Abraço,
Manuel
Bom dia todos os dias para ti, amigo Manel!
Mais um belo poema, Daniel!
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