1
Não outra coisa quero ser - e vou sendo:
mão (uma das mãos) de que se serve
a Montanha para (esc)rever-se sem
eternidade e sem dor.
Não guardo ciência orográfica.
Nenhuma ciência guardo.
Tenho pés e olhos - tenho
ar e pedra.
Cá bem dentro, no estojo das coisas mentais,
(a)guardo apenas a esperança
de me ser devolvida
a animal-idade.
A grande fortuna é esta
- toda a pedra, todo o ar.
O resto vem e não passa
- não enquanto for um homem
cuja mão não serve a
Montanha,
nuas ambas de deuses de calendário
- a mão e a Montanha.
2
Não nasci aqui.
Por que me sinto tão,
então,
de volta?
3
Não ser lúgubre,
abandonar a morbidez
como a um trapo
pelas ruas que o vento
abriu na pedra.
Levar o vento,
viver um único dia
para uma noite única.
4
Perdi o tempo negocial da cidade.
Nunca voltarei.
Talvez aproveite uma das excursões
dos lares - e vá de carreira
ver o mar,
essa outra, deitada,
Montanha.
Foto: Caramulo, tarde de 3 de Fevereiro de 2007 (com Carlos e Gracita)
Texto: Caramulo, noite de 4 de Fevereiro (por minha conta)
1 comentário:
Um poema que senti muito, muito doce. Um beijo.
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