29/11/2006

História de um Crime

A tua cabeça redonda
posta sobre a almofada
sem um olhar que a esconda
só a cabeça mais nada

Mai’ nada não não falo bem
em baixo a garganta clara
carne de leite da mãe
também de filha mais rara

Assim vi de cima a ti
manchar a fímbria de linho
numa noite em que chovi
chovi um choro baixinho

Duas orelhitas de prata
cabelo entristecido
quanto se ama se mata
fica o crim’ acontecido

Depois vei’ a pura glória
dois olhos o peito tinha
contavam a minha história
registei a ladainha

Isso foi ‘ma sexta-feira
doutr’ inverno doutra vida
ao lume tod’ a madeira
ced’ ou tarde acab’ ardida

Lá pr’ò sul os pés duplicados
vão dois a dois camurçar
medos e dedos não contados
tenho eu de os contar

Trem’ o creme nada ain-
da nunc’ eu vi tão lind’ assim
uma noite só p’ra mim
diz-me não qu’ eu digo sim

Podi’ eu ser outro homem
ter uma outra mulher
era preciso ser jovem
não querer quem nos não quer
Era precis’ outr’ idade
outra rima entretanto
entre tantas na cidade
mais de trint’ a cada canto

Mas isso não sobr’ almofada
pur’ ideia pura glória
cont’ outra vez a minha história
a minha história e mai’ nada:

Duas orelhitas de prata
cabelo entristecido
quanto se ama se mata
fica o crim’ acontecido.



Seia, tarde de 19 de Outubro de 2006

2 comentários:

a saber disse...

Amor sem paixão não é verdadeiro amor.

Anónimo disse...

Já conhecia

Canzoada Assaltante