Conheci senhoras endomingadas à quarta-feira.
Desfolhei em torno as flores do milho, farinha de cor, méxicos pessoais.
Numa garagem cheia de caixas de sapatos, abordei descalço o segredo e a volúpia.
Levantei do chão um homem, era em Lisboa e chovia.
Mantive cães e gatos em harmonia.
De roídas unhas, toquei viola para pescadores silenciados.
Requisitei em igrejas a frialdade, ardia fora um sol de febre.
Na terra de meu pai, antes do ano 1970, vi um caixão ao sol: outro homem para nunca mais.
Lapso de luz: outro funeral, mas de criança, pelos mesmo dias eléctricos.
O pó e o suor irmanam-se.
Lavei-me de ambos com o rio, entre a folhagem que gritava de pássaros e ciganos.
Então, o bosque púbico coçava.
Rápida, a amargura precoce.
Alguma euforia, sextas à noite.
Tudo confirmava a autoridade da escrita.
Segui esse trilho, essa insolação.
Às vezes, num autocarro, a evidência da inutilidade.
Outras vezes, não: junto ao mar.
O coração – um barco de saída.
A esperança, como um rímel, borrando os olhos.
A atenção prestada aos quintais alheios, onde animais e laranjeiras enferrujam.
Caixas de ananás dos Açores.
O fontanário público decorado de azulejos brancazuis: o carneiro, o peru, o cavalo, o galo, a andorinha, o porco.
As letras que escreviam esses bichos (a generosidade das vogais; a soberba das consoantes).
O menino embebedado de alegria: perceber embebeda.
A importância da História: cada velho esperando o crepúsculo em cada quintal de netos futebolistas.
O que dobrava guardanapos no restaurante era Miguel e tinha nascido a 5 de Outubro de 1910.
Um cedro respirava no extremo da passagem.
Junto ao cedro, o poste telefónico.
O sol de tremoços, domingo de manhã.
Os pedintes à porta, domingo de manhã.
No monte, tufos de espargos e comparações métricas de piças.
O absoluto esplendor dos comboios.
A galinha afogada, irrecuperável, no poço dos cabo-verdianos.
Dez filhos tinham os cabo-verdianos: viviam de nada.
Os caracóis chegavam à frente ao futuro.
Uma noite, houve fados.
Fritaram toucinho, laminaram broa.
Cantaram, dava a lua nas figueiras.
Essa dor da música.
Outra noite, uma casa ardeu: vi o povo, não já cada pessoa.
Isto é tudo agora, como já era.
Caramulo, 8 de Maio de 2006
11 comentários:
Parabéns e Felicidades com 4 dias de atraso, vale?...
vale!
Ja nao sei ha quanto tempo nao ia eu ao teu canil, Daniel. Tive vontade e saudades de ouvir assim em portuguës. Por ca é tudo muito bonito mas ha muita falta de acentos e o chapéu tambem nao se usa.
Soube-me bem ouvir-te em Buenos Aires.
E Parabens atrasados com muitos anos de vida. Nao sabia que eras do mes da senhora de Fatima.
Beijos mil
Ilda
Buenos Aires
12/05/2006
Ja nao sei ha quanto tempo nao ia eu ao teu canil, Daniel. Tive vontade e saudades de ouvir assim em portuguës. Por ca é tudo muito bonito mas ha muita falta de acentos e o chapéu tambem nao se usa.
Soube-me bem ouvir-te em Buenos Aires.
E Parabens atrasados com muitos anos de vida. Nao sabia que eras do mes da senhora de Fatima.
Beijos mil
Ilda
Buenos Aires
12/05/2006
Ja nao sei ha quanto tempo nao ia eu ao teu canil, Daniel. Tive vontade e saudades de ouvir assim em portuguës. Por ca é tudo muito bonito mas ha muita falta de acentos e o chapéu tambem nao se usa.
Soube-me bem ouvir-te em Buenos Aires.
E Parabens atrasados com muitos anos de vida. Nao sabia que eras do mes da senhora de Fatima.
Beijos mil
Ilda
Buenos Aires
12/05/2006
Ja nao sei ha quanto tempo nao ia eu ao teu canil, Daniel. Tive vontade e saudades de ouvir assim em portuguës. Por ca é tudo muito bonito mas ha muita falta de acentos e o chapéu tambem nao se usa.
Soube-me bem ouvir-te em Buenos Aires.
E Parabens atrasados com muitos anos de vida. Nao sabia que eras do mes da senhora de Fatima.
Beijos mil
Ilda
Buenos Aires
12/05/2006
Estou a repetir-me. Deve ser da idade, desculpa. Era para ter a certeza que me ouvias.
Beijos
beijo, Ilda. sei que andas bem. isso é que conta.
és um querido! ;-)
Leio-te sempre mais do que te comento, mas hoje deixo-te um beijo de parabéns - e por ser atrasado vale ainda mais.
Oxalá andasse (pelo menos) um bom meio mundo embebedado.
verdade, riacho
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