20/09/2022

H. EM BUSCA DELFIM - 118 (primeira parte)

 

118

 

Gosto de que me peçam informações sobre esta rua, aquela praça, acolá igreja, caminho do hospital, Choupal, Portagem. Quase sempre sei indicar. Isso apraz-me sobremaneira, por me iludir que pertenço à Cidade que é minha.

 

O céu azul é ébrio de andorinhas

que a tinta-da-china al tracejam.

Trissam conforme o ar que beijam.

 

José Gabriel Melena Arcádio, meu magnificente Amigo Delfim, é lavador-de-carros, careca, 47 anos, sonhou ser oleiro como seu avô & seu pai, mas não, é lavador-de-carros.

 

“Lasciate ogni speranza” – a dantesca imprecação ajusta-se mui bem ao divórcio em curso de Constantina Mondóvia Minas Portado contra Valprimo Mesbeira Doménico Casterno.

 

O doutor-notário é Anselmo Zimbório Venusiano Espinal; o doutor-farmacêutico é Júlio Veneziano Cafre Poucotempo; o doutor-economista é Pietra Liceia Exupério Malafaia; o doutor-lavador-de-carros é José Gabriel Melena Arcádio; e está aqui, por eles & com eles, uma sueca bem montada.

 

Escrevo bem cedo na matina temperada ainda, ainda fresca. Segunda-feira, undécimo dia juliano. Estou (& sou) só – problema nenhum. A senhora viúva (D.ª Maria do Ó Protonómio Verbena lê o pasquim local depois de sua chávena de chá-de-cidreira, sua meia-torrada-seca.

 

(Escrevo bem cedo – escrevi.

Mas o que quero é

Escrever bem.)

 

A expressão “coisa-bem-montada” não deve apodar indiscriminadamente toda & qualquer mulher.



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Canzoada Assaltante