© DA.
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Deitei-me, já a Rainha Santa fôra recolhida em depósito a Santa
Cruz, de onde, domingo que vem, percorrerá o sentido inverso até sua
residencial & permanente Santa Clara.
Alonguei-me no
catre: moído de trabalho & exaurido pela caloraça infernal de todo o dia, custou-me
muito adormecer. Fui dormindo aos sacolejões, sacudido por filmes expressionistas
& convulsos de completa irrazoabilidade.
Marcaram-me reunião para as 16 & ¼ de
hoje. De tal concílio resultarão as condições do meu porvir imediato. Duas
horas antes, o meu Amigo Í. tentará alojamento perto do meu tugúrio. Oxalá que
sim. Tudo.
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Não sei.
Assaz não
sei.
Pouco há que
gostasse deveras de saber.
Estão-me neste
ponto as coisas.
A veterania
já me chegou.
A maturidade
ainda me não fez arribação.
Certa resignação,
sim – mas nenhuma persignação.
Esquecimento reiterando
indiferença – uma quási-felicidade.
Sim, é isto, sei
finalmente que digo.
Pouquíssimo
conta – mas, este, muitíssimo.
Pelas ruas
leio fluindo a sintaxe urbana.
Os miseráveis
como reticências.
Os abonados
como pontos-de-exclamação.
As crianças
como rimas-brancas.
Por aí de
ante.
Sem mais nem
ontem, sem amanhã nem menos.
Só no
instante mesmo me seja/será dado saber.
Saber alguma
coisa, ter um capital de certezas.
Ir rascunhando
cadernos imprestáveis.
Persistir numa
lírica que me não minta identidade.
Pescadores-à-linha
ao longo do paredão.
Solidão magnífica
do faroleiro, nove meses ao ano.
O meu último
salário, esboroado já por as frinchas do uso.
Os dois
últimos almoços, sete euros cada.
O de amanhã,
não sei.
Assaz não
sei.
Pouco hei que
goste deveras de saber.
Irrisória-risível
desimportância de quási-tudo.
Os meus
Mortos remexendo as patitas, as antenas, as sílabas.
Os meus Vivos
seguindo suas sendas, lendas, lêndeas, côdeas.
Incêndio severo
em Sever do Vouga, Aveiro.
Por aqui,
ambulâncias ubiquamente (o bico, a mente) uivando urgências.
Apolineodionisamente
vou de azul-sal-a-sal-sol.
Sim, orgio-me
a sós, bacante & vacante.
Digo isto em
imagem, utente que sou de autocarros.
Às vidraças
do bus acorre em desfile a minha Cidade.
Sou daqui, isto
é meu, dura um fósforo, tudo se acab’alm’a.
Algumas
perguntas são respondidas.
Algumas
esperas são saciadas.
Se vim para
poeta, que ao menos verseje – ou verso seja.
Nisto, o Zé
C.L. amanda vir mais uma cerveja.
Ele é filho
de Maurício Durães Pataias Luminal
& de Maria
das Dores Saldanha Rosal.
Falam de
cães, o Zé & o Fidalgo: um tem pequinês; o outro, um galgo.
Estes cenários
são-me seguras alegrias.
A verso as
pontuo ao correr de meus dias.
As mulheres-ditas-da-vida
andam como nós à vida, ei!
Caridades dão
sopa, pão-de-anteontem, sobras de azeitonas.
As mulheres
ditas-de-aluguer alugam as conas.
E nascer é
em-si já uma despedida: isso, eu sei.
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Algumas
pessoas dão-se ainda os bons-dias.
É agradável
recebê-los na anónima alva.
Trata-se de
salvação que por enquanto nos salva.
Não interessa
se jazes já ou se ainda porfias.
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“Você explica
bem.” –
isto ouvi hoje cedo, oito & trocos da matina. Eram dois operários numa
carrinha de trabalho. Procuravam a Ponte de Santa Clara. Orientei-os. Agradeceram-me
nem sabem quanto: “O senhor explica bem.” – reiteraram. Senti-me muito
bem na minha promoção a explicador – e de você a senhor.
Dias próximos
& recentes de sofrimento térmico. Ar & luz fundem-se em um sebo de
quarenta graus centígrados. Como (ainda, por enquanto) trabalho, é um inferno das
dezasseis às vinte & quatro horas. Sem escapatória.
(Óculos
novos. Custaram-me os olhos da cara.)
Alguma normalidade
impera ainda (dez-horas-quatro-minutos).
Ainda algum
favónio flutua sem alarde.
Daqui porém a
nada, bem o sei, tudo arde.
São incêndios
feros, ferozes, algozes, brutos.
Dormi oito
horas, escrevo oito horas, trabalho outras oito por dinheiro.
Se isto não é
liminarmente absurdo, que raio o será?
Tomo um
refresco na antemão da ida a óculos novos.
Refreio impaciênci’ânsi’as
– nada aquentam ou arrefentam.
(E no entanto
ainda me não convocaram da Óptica.
Gostaria de
arruar a Cidade de novas lentes nas fuças.
Passa uma
velha-dos-gatos, quási cega & esclerótica.
Passa um colete-de-caçador
daquele tipo-Piruças.)
(Mensagem-SMS
dos meus oculistas.
Ponho-me a
caminho, algo afinal ansioso.)
Vou re-rever o
mundo às vezes maravilhoso.
Eis-me de
novo pronto às mais ínclitas conquistas.
Óculos novos.
De volta são a nitidez, a claridade encadeante.
Por a frente,
oito horas de jornada laboral feroz, oxalá feraz.
Coisas de
pobre. Devo as lentes novéis à benemerência de Amigos.
Cada coisa a
seu tempo, farei por ir restituindo óbolos.
A oito minutos
do meio-dia, já a besta pancalorífera é ubíqua.
Um emigrado
pós-madurote engata p’ra coito uma rapariga.
Promete-lhe
vint’euros-uma-mini-um-maço-de-tabaco-à-escolha.
Oxalá ela
escolha Marlboro ou SG Ventil Gigante.
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