© DA., Sr.
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DOIS
QUARTETOS
I
Sento-me não longe
de um homem entristurado.
Já o ouvi
suspira’geme’ndo, em surdina embora.
Não me é dado
saber o que o desapazigua.
Talvez espere
um telefonema, um médico, uma saída.
Nada lhe
perguntarei: não é meu direito.
É meu direito
escrever: mas saber, não.
A decência
& a solidão dele são geminadas.
Como acontece
com a pomba & à sombra da pomba.
No calor mais
infame, na mais árida praia.
Como o prostiputedo
bebendo whisky-de-sacavém.
Vestido de
azul-escuro (deveras assaz escuro).
Mochila pequena,
nadíssimos pertences.
Orelhas tisnadas
a ruivo, rosto pergaminhado.
(De que
caligrafia será ele condutor?)
Mãos formosas:
de talvez cuidador de rosas.
Está sentado
à face do meio-dia.
(Refiro-me a
um qualquer meio-dia da efémera eternidade.)
E eu não longe
dele, espelhando-o talvez.
Ele toma um quartilho
de água-mineral.
Fuma uma
cigarrilha mentolada, éter-aérea.
Turistas demandam
as praças-de-postal.
Avermelhados do
nosso Sol, este nosso tão mortífero.
Ele recompõe-se
um pouco, sorri às pombas.
Ele recompõe-se
um pouco, sorri às sombras.
II
“Já hoje
descarreguei muita sucata, chega bem.
À tarde, é no
sofá, já arremedeia.”
Assim fala,
se não Zaratustra (quem?),
um cavalheiro
andrajoso de túnica cor-de-aveia.
Por quatro
moedas, adquiro uma paz algo eficaz.
Às quatro-da-tarde,
laboro em sacrifício.
Por mais
moedas, é por enquanto o meu ofício.
Outra al-coisa
virá, meu velho & bom rapaz.
Prepara-se a
Urbe semilaica para a Santa Rainha
de Coimbra,
de Aragão, de Portugal & tudo.
O da sucata é
de tez rubicunda & sobrecenho telhudo.
E eu durmo à
noite em cama a mais sozinha.
O Silva
encerra agora para almoçar.
Esperam-no
feijões, toucinho, broa & vinho.
Retornará,
qual Santa Rainha, a seu mesmo lar.
Tem mulher em casa, não existe sozinho.
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