Esta semana, tive a grata surpresa de ouvir a minha própria crónica (última do ano) em versão áudio produzida e gravada pelo Bruno Oliveira, companheiro e amigo meu e do Jornal O RIBATEJO. Quem a quiser ouvir ao mesmo tempo que lê (ou não) - aqui está.
Um abraço daqueles valentes, grande Bruno. Muito grato te fico.
http://www.oribatejo.pt/2014/12/29/rosario-breve-stock/
31/12/2014
26/12/2014
Rosário Breve n.º 388 - in O RIBATEJO de 25 de Dezembro de 2014 - www.oribatejo.pt
Stock
Não digo que seja total a ruptura de stock. Tanto, não digo – mas que seja
indesmentível a vigente escassez de anjos, lá isso é e digo.
Há meses-anos na minha vida que não topo
um. Perambulo muito à cata deles. Por vãos & por reentrâncias de prédios devolutos
& de teatros sem actores, toco com a ponta da bota os hirtos corpos
encartonados: volumes pessoais reduzidos a uma marca de frigorífico japonês.
Gente, enfim: hirtos seres autodeserdados, tropa a que a vida, assobiando para
o lado, estropiou sem solfejo nem grande remorso.
Antigamente, eu sitiava-os, aos meus anjos,
sem acuidade nem esforço. Eles aconteciam-me. Talvez fosse da idade. Da idade
deles, digo. Ou, digo, da minha, que nem idade quase tinha. Recordo aqui, e
aqui o assento, aquele anjo do Novembro de 1981. Foi à saída do Teatro do
Príncipe Real. Era um espécimen apardalado de figura. Magro, quase alto – e
entre o cinza e o castanho: assimétrica envergadura – e molhado de pés como um
veneziano sem barca. Cumprimentei-o sem recorrer a sílabas. Paguei-lhe um
ponche quente no bufete do Teatro frio. Separámo-nos, depois, no vão das
escadas da Previdência, ali-onde-ainda-agora aquele homem registava sociedades de
totobola manuscritas a bic-cristal-cor-de-pombo
e aquecia a frio o café-com-leite da solidão vitalícia em púcaro de folha
sobre língua azul de gás-estearina. Esse anjo ainda me deu para alguns meses de
consumo sem remédio: como o tudo o que se consome sem poder remediar-se.
Tive outros anjos entretanto-tão-pouco, valha
a verdade. Por exemplo, aquele de coisa alguns anos depois de coisa afinal
nenhuma, esse de um ano algures & alhures entre os nascimentos da minha
Primeira e da minha Segunda filhas. Esse, sim: foi por um Outubro.
Apareceu-me ele no espelho do barbeiro – e
era do meu mesmo cabelo que ele se perdia à lancetada bífida. Trazia ele
consigo meio papo-seco de mortadela quase transparente, dessa que dão aos
pobres às portas de Santa Apolónia, a Ferroviária, em desobrigas de catolicismo esmoler por calendário à hora-TV. E sim,
o olhar dele tinia. Tinia coruscâncias à maneira das tesouradas recebidas em
espelho: olhos que dava para escutar.
Eu cá por mim, ter tempo – tenho. Espaço
para V. contar de muito(s) mais anjos é que não. Leitor meu: isto é só, e
tão-só, uma página de jornal: só não é a minha vida. (A páginas tantas, é
melhor do que a minha vida. Seja. Não discuto isso. Estou aqui mais por causa
dos anjos que já não há. Ou que não hei. Ele há-de haver ainda alguns, que não
sei eu?)
Alguma coisa sei. Vi a cabeleireira sair
foríssima de horas sem ser por véspera de casamento. Ainda agora foi: uma reles
terça-feira, reles antevéspera do Nascimento do
Deus-Menino-da-Coca-Cola-Paz-na-Terra-Prometida-aos-Judeus-de-Boa-Vontade. Nove
da noite. Dez euros por umas madeixas que até ficam mal à freguesa. Dizem até
que o gajo dela (da freguesa) lhe bate. Mas o anjo de hoje: esse?
Parece-me tê-lo vislumbrado na fila do
desemprego. Não o confundi. Os outros todos eram só gente. Desandei. Ele há
menos gente do que anjos, se calhar.
Isto não anda fácil entre
Novembro e Outubro.
18/12/2014
Rosário Breve n.º 387 - in O RIBATEJO de 18 de Dezembro de 2014 - www.oribatejo.pt
Sou a
favor de o Natal ser de graça
O Natal, dizes tu?
Entre os meus 18 anos e anteontem, sempre
foi uma quadra porreira para borracheiras de porto em manhãs que acabam tarde
às portas da noite, entre rapazes a quem também já morreu alguém e a balcões que
ao contrário da nossa vida eram & são inoxidáveis.
Eu faço que gosto muito do Natal por ser a
época em que ser bonzinho não parece mal. E por ser quando, à entrada do
hipermercado, nos dão de borla um saco vazio da (ou como a) Jonet para à saída
enchermos com ele os bolsos ao Belmiro.
Também faço que gosto muito dos peditórios
ubíquos como a má-sorte & do chinfrim electr’altifalante por todas as ruas e
por todas as praças sem excepção & das velhas evangelizadoras que manquejam
os joanetes à caça do dízimo em nome do jeová brasileiro alternativo.
O Natal é perfeito para encontrarmos
finalmente o sem-abrigo à justa medida do casaco de malha que a nossa ex-sogra
nos deu há trinta anos ao mesmo tempo que dava um de camurça ao nosso
ex-cunhado, soslai’olhando-nos trocista e sibilina como ridente víbora, a
megera. (Também agora fica lá com a filha por remendar, anda.)
Ai o Natal, o Natal! É quando mais
neozelandês me sinto, isto para V. ser o mais franco – rodeado de carneiros que
votam como ovelhas e cheirando a lã cagada como eles & elas.
Tenho fingimento de pena, claro que sim que
finjo que tenho, das divorciadas de perl’ágrimas marejadas por este ser o ano
de o menino ir com o pai, maldita a hora
em que me deitei debaixo dele, por sinal foi noutro natal, como passa o tempo,
isto é ela a rosnar.
A quadra entristece-me um bocadito,
confesso, porque o Governo nunca tem dinheiro que chegue para comprar neve
suficiente a todo o País tal que todo o País se sentisse tipo postal lapão do
Minho a Timor, digo: a Silves, gastam tudo sempre e só na Serra da Estrela, ao
menos poderiam variar de níveo sítio cada ano, este ano por exemplo em
Portalegre, para o ano em Abrantes para o doutor Consciência não se sentir tão só
no solitário alpinismo que a assertiva lucidez crítica afinal é, no Funchal é
que não porque eles estoiram tudo nos foguetes do fim-d’ano e em marinas de que
o mar dá cabo há uma data de milhões de euros nossos. Isso e o ringue de
patinagem do Terreiro do Paço ser de plástico como este ano se lembraram de fazer,
deve ter cá uma piada tipo Malucos do
Riso filmados na Síria à hora-de-ponta.
Confesso ainda: cada Natal, performo a minha imitação preferida. A
minha imitação preferida tem imensa graça (não tem, Graça?) e é a Imitação do
Meio-Peru. Resulta sempre, faz sempre rir muito, é muito barata e é a coisa
mais simples de se fazer. Consiste nisto: não deixo que me matem mas deixo que
me encham de aguardente na mesma. O dano colateral é começar logo, por causa de
tanto porto prévio, a ver o tremeluzir das luzinhas antes de acenderem a
gambiarra ao pinheiro.
O Natal, dizias. É aquilo dos jantares
contrariados com a besta do chefe da repartição, com o imbecil do autarca amigado
com a educadora, com o revulsivo sinapismo do actual companheiro da cataplasma
de mostarda que a nossa ex-mulher é e sempre foi e sempre há-de ser, bem te
lixas que este ano o Menino (percebeste a maiúscula?) é comigo.
Ou então, não.
Ou então, nada disto.
Digo: tudo isto na mesma, mas outra coisa
ainda – remanescente, vera e de vidro daquele que não corta. Esta coisa assim:
Eu ter dezoito anos sem anteontens, ninguém
me/nos ter morrido e não ser preciso nem porto nenhum nem aguardente alguma. Aí
sim, o Natal seria e teria, Maria, outra coisa. Outra graça.
Não teria, Graça Maria?11/12/2014
Rosário Breve n.º 386 - in O RIBATEJO de 11 de Dezembro de 2014 - www.oribatejo.pt
Verdades simples
Não é com peditórios à caridadezinha que se resolve a pobreza infantil. É dando trabalho aos pais.
Esta é uma verdade simples, dessas evidências que não precisam, para que
a elas se chegue e a partir delas a algum lado se vá, das prévias descoberta do
fogo ou invenção da roda. A realidade tudo faz, porém, não apenas por
contrariá-la, como por repeli-la. Uma espécie de bebedeira ubíqua, oblíqua e iníqua
entorpece os mandadores da finança, esse um-por-cento inquilino de palacetes
prostibulares a partir dos quais se congemina e põe em prática a miséria
multitudinária dos restantes noventa-e-nove.
As fortunas colossais podem, titularmente, mudar de nome. A miséria é
sempre Zé que se chama. Todos temos sofrido e sassaricado o triste carnaval radiotelevisivo
expositor de miseráveis delinquentes atulhados de ouro de repente apanhados de
botija entalada nas beiças borradas de caviar. Percebo que seja humilhados que se sintam. Percebo. É por
causa de outra verdade simples, daquelas antigas que a sabença popular crismou: “Vergonha
não é roubar – é ser apanhado a roubar.” Bem asseverou o grande Balzac que toda a grande fortuna está fundamentada num
crime. Ou em muitos. Angola que o diga. Qualquer paraíso-off-shore-of-course que o confirme. Nós que cavaquistãomente o reiteremos.
Os bombeiros põem por nós as mãos no fogo. Pois põem. Daí, que fazem os
canalhas? Compram submarinos.
A água é de todos e não se nega a ninguém. Pois é e pois não. Daí, que
fazem os pulhas? Privatizam-na.
As empresas de serviço, interesse e património públicos são de
incontornável condição estruturante da sociedade. Pois são. Daí, que fazem os
caniches? Põem-lhes olhos-de-bico e mandam-nas passar a falar em mandarim.
A Língua-Pátria é o mais seguro capital simbólico e identitário do Povo.
Ah pois é. Daí, que fazem os académicos falsamente diplomados? Aplicam-lhe o simplex ortográfico e fazem dela uma
babélica vozearia de casa-de-alterne fundada em Goiás com sucursais em tudo o
que for foral lusitano.
Além de tudo isto, há os eufemismos aldrabões com que os burrocratas da má-fé maquilham a
realidade. Por exemplo: chamar “requalificação”
àquilo que é nu e cru despedimento.
Ainda na semana passada ouvi isto de um requalificado,
perdão, reconduzido no cargo.
Como Sócrates (por exemplo ele) foi primeiro-ministro entre 2005 e 2011,
o mais curial é explicar-lhe estas e outras coisas como se ele tivesse seis
anos. É outra verdade simples, aritmética no caso: 2011 menos 2005 igual a
seis.
Verdades simples. Não quero chamar-lhes solenes. (Mas são-no.) Solenes, só as missas e os embirranços. Como
não frequento as primeiras, é solenemente que pratico os últimos. É talvez por
a minha criação datar da época em que a ignorância se envergonhava de si mesma.
Hoje, não. Hoje, a ignorância é curricularmente obrigatória. É arrogante. É
afoita. É atrevida. É insolente. É governante. Superiormente lúcido, o grande
Pessoa referia-se à “sinceridade”
como “prática anti-social”. Para
crescer sem ser a pulso na carreira, sim. De gentinha a gentalha, o passo não é
muito largo. Falo desse tipo de gente que tem quatro pés e nenhuma mão – se não
na anatomia, decerto na mente. (Que mente, mente sempre.) Subitânea, por súbita
e instantânea; soturna, por solipsista e nocturna – a récua de bestas que nos
espezinha e estruma a vida não tem de ser encarada e zurzida senão a chicote
judicial legal e legitimamente brandido. No fundo como à flor, trata-se, quando
e quanto não mais, da derradeira maneira de nos devolvermos, a nós mesmos, uma
cara de gente, em vez de barbearmos ao espelho uma espasmódica carranca de
chafariz mais própria de sofredor das tripas do que de portador de humano
semblante.
Entretanto, Dezembro faz pela vida. Faz, não – vai à vida. Como à vida
vão as 32 famílias dos recém-requalificados
do Centro Distrital de Santarém da Segurança Social. Eu disse “Segurança Social”? Disse mal. Insegurança Associal é a verdade simples
alternativa.
À caridadezinha, o menino-jesus medeia o burrinho e a vaquinha. Já o
pagão pai-natal, de quem se não conhece nem mulher nem filhos, nos deve fazer
concluir que o mais sensato ainda é irmos chamar Pai a outro.
Ou, como diria a botóxica
Manuela Moura Guedes, anda uma pessoa a
criar cães para isto.
04/12/2014
Rosário Breve n.º 385 - in O RIBATEJO de 4 de Dezembro de 2014 - www.oribatejo.pt
Aviso
Para epígrafe de um caderno que há-de ser
livro e que ando compondo desde o dia 13 do mês passado, elegi este trecho de
Georges Duby (in As Damas do Século XII –
1, Editorial Teorema, Lx., 1996):
“Aviso
desde já: o que pretendo mostrar não é o vivido real. Inacessível. São
reflexos, o que os testemunhos escritos reflectem. Confio no que dizem.”
Mais a esta liça ajunto que: toda a vida
fiz da atenção uma espécie de estúdio de fotógrafo verbal, desses de boneco-cavalinho
pelas pagãs feiras santuárias da populaça, resultando na prática, a minha vida
mesma, em um ror de mentiras – se não honestas e/ou piedosas, ao menos bem
intencionadas, como é próprio dos infernos privados.
Ao atulhado logradouro de lembranças vou
buscar ficções verídicas e inverosímeis no intuito da mistificação alegórica e
pró-moral. Exemplo maior: morta a Mãe, finado é tudo o que for princípio.
Ao estaleiro da memória recorro a toda a
hora, mormente quando anoitece logo pela manhã. Exemplo não menor: o meu Pai
manquejando, como se o liso chão estivesse emboscado de invisíveis móveis
irrequietos tropeçadiços degraus. Assim escrevo. Assim escrevivo.
A viúva que acaba de passar? –
Manilha-de-paus com atavios de dama-de-copas, dessas que não raro desovam
filharada póstuma bem para além das 36 semanas de regimental respeito ao
falecido.
O ajudante de armazém importador de bananas
com tanto quisto sebáceo na região demarcada do sovaco? – Estandarte vivo da
Escrófula com que Deus Vosso Senhor intumesce os culpados relapsos de onanismo,
esses punhetas ateus.
Aviso: não é que estas pessoas tenham,
deveras, acabado de passar pela antecâmara do meu lápis fot’oftálmico – mas
existem. À minha maneira, existem – como aliás também os anjos: só quem, pelo
entardenoitecer do Outono, não foi dar aos patos fluviais uma última demão de
pão velho os não sentiu. (Os não sentiu no olhar, que não pelos olhos, digo.)
De que trata, pois, o caderno-livro de que
V. falo? De impreteríveis sedas & sedes, de espúrias espumas, do
arco-da-velha-das-coisas, de cenas de uma violência extrema como por exemplo a
epifania que toda a criança, mesmo alheia, é, de lances de censurável exposição
sexual como ainda agora aquela nuvem missionariamente por cima daqueloutra (mas
nenhuma nuvem, não importa, está-dito-está-feito-está-lido-está-vivido). Trata
do antagonismo entre a luta e o luto. Fotografo estas povoações sem remédio mas
com farmácia por que disperso a minha vida compendiável para além daquelas duas
datas que sabemos.
No fundo como à flor, vivo de & para
ninharias. Seja. Na dimensão daquilo a que à falta de melhor palavra chamamos Realidade, o que importa mesmo são os
dois dedos manuais que um trabalhador perdeu de si em acidente laboral ocorrido
no passado dia primeiro do corrente em uma empresa metalúrgica sediada em Celeirós,
Braga. Isso sim. Isso é que é literatura. Eu sei. Nem sinto confusão, nem faço
confusões – a mão doravante mutilada desse trabalhador conta mais do que quanta
página eu seja capaz. Pois, nenhuma confusão. Exemplo: não confundo o Duarte
Lama com o Dalai Lima. São carecas não mutuamente reagentes.
Fiquemos hoje por aqui. Está em curso a
semana. São 7 e 19 da matina, tenho de apanhar o expresso das 8 e 20 para a
minha terra, vou lá tratar de papeladas inadiáveis relativas a não sei quê (mas
a quem, sei). Está frio. Levo o casaco mais pesado. Vou de botas.
Confio no frio. É uma espécie de pele de
vidro. Tenho os dedos todos.
27/11/2014
Rosário Breve n.º 384 - in O RIBATEJO de 27 de Novembro de 2014 - www.oribatejo.pt
(ilustração gamada ao diário PÚBLICO)
Aquilo da gralha no
livro da Eduarda Maio
A
derradeira terça-feira do corrente Novembro amanheceu mais respirável. É talvez
da barrela da chuva recente – ou será das notícias, que nem sempre são más ou
reles?
O
senhor Custódio parece mais ligeiro, dançarinos quási seus passos rumo à
alfaiataria que de seu bisavô vem já. Nem o bisavô Custódio alguma vez facturou
um milímetro de fazenda a mais, nem jamais o Custódio bisneto branqueou lã da
Covilhã sem ser a giz macio.
A
ti’ Pureza (que arrenda quartos mas o declara às Finanças) também apresenta
hoje certa renovada seda-rosa na carita miúda e portuguesa. O sonho dela sempre
foi estabelecer-se como porteira de prédio de luxo em Paris – mas Paris é chão
de que roubaram as uvas.
O
Raul Faquir Arrumador, que mama malvasias de manhãzinha como um campeão do
santo-cálice (dizem uns que por desgosto de amor, outros que não, que nada
disso, que é por amor & gosto à malvasia ponto-final), madrugou hoje de
meia-de-leite & torrada-margarina nos queixos.
Os
pintores por conta do Rafael das Obras desunham-se pró-terminação
hoje-ainda-o-mais-tardar-ontem da empena principal da Junta de Freguesia, que
há meses andam naquilo sem retoques finais à vista. E o Rafael desconta como
deve ser para a Caixa deles e ajuda-os no IRS de cada temporada.
O
tudólogo do bairro, por apodo
certeiro Chico Corno, que mais fala quão menos sabe, à semelhança das comadres comentadeiras da trubisão, garante a quem o quer ouvir que “aquilo em Évora ainda é do melhorzinho p’ra preventivas
cinco-estrelas, muita sorte teve ’inda o gajo de não ir para ao pé dos
pedófilos e dos romenos”.
Por
ser terça-feira de liga-dos-campeões,
o Esteves Barbeiro só quer mas é que o seu/dele Sporting não acabe empatado
como o Bloco de Esguelha. Corte por
corte, à política e à ladroagem não liga pêva.
A
Clotilde Viúva, que leva as cartas do tarot
para o ioga na inquebrantável fé do monitor de reiki, é que está danada consigo mesma por não ter sido capaz de
adivinhar o descalabro da preventiva do Coiso, ela que tanto se fiava nas
procuradorias-gerais do laissez-faire-laissez-passer
tão ao gosto dos apologistas do se-não-fosse-este-era-outro-qualquer-como-o-que-vem-a-seguir.
E
eu, que gosto mais de biografias alheias do que da minha própria vida, eu
unto-me de gozo por ter dito desde o primeiro dia que aquilo no título da
Eduarda Maio era gralha grossa, que o correcto seria, e é, O Menino do Ouro, não de.
Entrementes,
à flor viva do Rio, os patos gargalham mais alto – parece-me cá a mim que sim.
A esquadrilha pombal, que sempre preferiu a migalha certa de cada dia ao
improvável mi(ga)lhão da candonga peculata,
ronda-me as botas à cata do honesto arroz-trincado e do honroso milho-partido
com que há tantos anos celebro das aves a filosofia do sustento-de-cada-dia.
O
único senão para todos nós aqui do Bairro 10 de Junho é não se ter ainda ouvido
falar, pelo menos até ao meio-dia não, de submarinos.
Ó felicidade passageira – és uma doca-seca.
Sentencioso,
teixeiradepascoaesmente, o nosso decano, ti’ Abílio Cuco, a meio da taça de
cevada é desta concisão lapidar:
–
Ninguém que trabalhe tem tempo para
juntar 25 milhões. Que trabalhe.
Honestamente. Ninguém.
Évora,
pois. Para já e por enquanto. Ou por encanto, Eduarda.
24/11/2014
Rosário Breve n.º 383 - in O RIBATEJO de 20 de Novembro de 2014 - www.oribatejo.pt
Da
iníqua alegria e coiso
No cubículo envidraçado a plástico que a
gelataria berma-fluvial reserva aos fumadores, a uma luz-néon toda tela de
Hopper, o rapaz cego lambe o seu cone de baunilha com uma bola de chocolate e
outra de limão. A seus pés, o cão labrador que o guia, animal de negro cabelo
lustral e muito limpo, carvão brilhante na cegueira de tanto néon. Mestre
cicerone de seu amo, espera aos pés dele sem um monossílabo sequer, dando a
ideia de poder fazê-lo para o resto da vida, isso de esperar por ele, sempre
por ele e só por ele, mesmo que o cone de gelado venha a revelar-se, como a
cegueira, infinito.
Eu sou o outro tripulante de tal nave. É
pelo entardenoitecer. Já soprei o férvido abatanado, já queimei na boca um par
de cigarros dos de enrolar, já me apeteceu ir de vez para a Noruega – mas fico
mais um bocado. O que entretanto faço, é lapijar cifras para a crónica da
semana. Coisas assim:
Antigamente,
ao cabo do curso davam-nos o diploma, hoje dão-nos o passaporte;
Isto
é um país de patetas que se julga de poetas;
Para que
o raso aprisco suba a zimbório, há que ter locanda trepadora;
Dar
um salto alto não é o mesmo que andar de salto-alto;
ABC –
Angolanos-Brasileiros-Chineses: o Colonialismo Contra-Ataca;
Quem te
visa, teu goldinimigo é;
Anábase
da legionella político-financeira: ébola do regime;
Esquizofrenia
geral dos colarinhos-brancos: o espírito santo a dar cabo do pai e do filho;
Em alemão, ‘Coelho’
diz-se e escreve-se ‘Kaninchen’: está tudo explicado;
Podridão:
o meu País é Podregal;
Potamónimos
da minha vida: Mondego, Ceira, Tejo, Vouga, Pavia, Lis, Vala do Norte;
Educação,
Saúde, Justiça: três tiros no porta-aviões;
Impressionante,
o que por aí vai de mortes agrícolas por causa da tractorose;
Demissão
do ministro: mais vale sair uma tarde do que ficar o Macedo;
Esquisito,
aquilo em Santarém: portuguesíssimos cidadãos e cidadãs normais que, correndo à
noite por saúde, divertimento e convívio, se tornam ingleses de repente:
midnight runners ou coiso;
Rapaz
cego com cone de baunilha, labrador bonito a seus pés.
Nisto estou – e a crónica por fazer. No
mesmo caderno, reencontro-me com uma citação tão mais perturbadora quão mais
acertada: “"O futuro onde estamos
tem a iníqua alegria dos sacanas.” (Rui Nunes o dixit, in Uma Viagem no
Outono). Pois tem, senhor Rui. E a inócua tristeza dos acéfalos também. O
autismo eufórico deles sacanas é mortífero. A gente vive por aqui um genocídio
daqueles tipo devagarinho, género tristeza-pegada.
Lapijo ainda, ainda assim, um exórdio de
diálogo cénico tipo ’tás-doidinho-ou-quê:
–
Olá, sou o Virgílio das Éclogas & Bucólicas.
– Ora
viva, sou o Fonseca dos Midnight Runners & Coiso.
Estou feito ao bife com sabor a petinga. Custam-me
muito, os dias que não são terça-feira – porque é às terças que componho a
crónica das quintas, por a terça ser o dia em que a minha vida faz algum
sentido, uma vez por semana ao/ou menos. A jornada herdeira da segunda-feira
torna-me benevolente e perdoável a ilusão de ser útil. Os outros dias encorpam
o diabo do ócio involuntário, isso a que os sensatos chamam desemprego e a que o Passos Kaninchen chama oportunidade. É como se o horror vácuo
dos domingos durasse seis dias de enfiada. Hei-de eu ainda, nesta vida que não
há outra, lograr escrever como o meu Pai pintava e como a minha Mãe povoava a
Casa? Não sei.
Sei tão-só que a metáfora de remate me esperava, fácil e
justa, desde início: que por este morredouro de poe(pate)tas o mais é cegueira,
o mais é ainda gelarmos de tanta espera, Mister Hopper.
13/11/2014
Rosário Breve n.º 382 - in O RIBATEJO - www.oribatejo.pt
Parabéns, pá
O nascimento público de O Ribatejo deu-se à luz no dia 8 de Novembro de 1985. Temos festiva
data redonda no ano que vem, portanto.
Para a História relativa do jornal, este 29.º aniversário
é de uma contemporaneidade triste: são estes os dias da famigerada legionella, praga que sem graça grassa
por freguesias e populações de Vila Franca de Xira, nomeadamente Vialonga,
Forte da Casa e Póvoa de Santa Iria. À hora a que escrevo (noite já de 11 do
corrente, 96.º aniversário do Armistício
de Compiègne, que, já agora, finalizou a I Guerra Mundial de péssima
memória), são cinco os mortos e quase três as centenas de pessoas infectadas
pela doença-dos-legionários.
Suspeita-se que o maná desse mal provirá de uma torre industrial sita em
Alverca. Vaporizada, aquófila e eólicotransportada, a bactéria não dá sinais de
ficar por aqui, que é como quem diz por ali. O restante Ribatejo e o demais País
esperam tão-só que a mortandade não cresça e que os internados convalesçam
total e plenamente. Assim seja.
Quanto ao tal ano de nascimento do nosso Jornal, rezam as
efemérides coisas notáveis. Nem efemérides seriam, aliás, sem notabilidade
factual. Tenho carteira de exemplos.
No próprio dia 8/XI/85, o exército colombiano tomava à
força o Palácio da Justiça, que os guerrilheiros haviam ocupado. Saldo: cem
mortos. Seis dias depois, na mesma fatídica pátria do grande Gabriel García
Márquez, dá-se a erupção de uma cratera (a Arenas)
do vulcão Nevado del Ruiz. A
consequente avalanche de lava, lama e rocha com 104 metros de espessura inumou
a cidade de Arnero. Saldo: 23 mil mortos.
Esse Novembro/85 é também, e ainda, o mês da cimeira
Reagan/Gorbatchev, na alegadamente neutral Genebra. (Fonte: Cronologia do Século XX, N. Williams, P.
Waller e J. Rowett, Círculo de Leitores, Julho de 1999.)
Por cá-Portugal, o ano de 1985 é o da demissão de Mota
Pinto, a 9 de Fevereiro, da presidência do PSD,
sucedendo-lhe no lugar aquele que é hoje (dizem) ministro dos Negócios
Estrangeiros: Rui Machete. Duas exactas semanas depois, a 23 do mesmo mês,
nasce o partido de inspiração eanista – o efémero PRD de neutra e/ou insulsa
memória. A 19 de Maio, a rodagem do carro vale a Cavaco Silva o poder laranja, na Figueira da Foz. O Tratado
de Adesão à CEE é assinado a 12 de Junho. A 25 deste mesmo mês, Soares
dissolve-se de primeiro-ministro, fazendo o mesmo a Assembleia da República. Um
exacto mês antes do primeiro número de O
Ribatejo, a 8 de Outubro portanto, o PSD de Cavaco vence as legislativas
com maioria simples, sendo posteriormente empossado um Governo minoritário. O
ano contempla, ainda, a inauguração do muito comentado (e gozado) Centro
Comercial das Amoreiras, em Lisboa, cidade em que se regista uma patusca série
de incidentes relacionados com a exibição do filme Eu Vos Saúdo, Maria, de Jean-Luc Godard. (Fonte: Portugal Século XX – Crónica em Imagens,
coord. Joaquim Vieira, Círculo de Leitores, Dezembro de 2000.)
Assentemos isto: O
Ribatejo não nasceu sozinho em um nem para um mundo deserto. É texto com
contexto, este menino paginado. A seu propósito, é curial a seguinte notação:
29 anos depois da primeira luz, a publicação teima na independência e no livre
pensamento que a fizeram nascer. É um não-alinhado por natureza, por vocação e
por destino. Tem (r)existido sempre, ventos vindo e marés subindo, outra arma
não usando que a da liberdade responsável. A ética deste semanário, de mãos
limpas sendo como é, nem usa luvas nem recorre a pinças. Talvez por isso
pontualmente incomode certos sectores cujos factores (ou fautores) não gostam de espelhos, muito menos dos lavados.
Falando por mim só (que é aliás o que sempre faço, nesta
página como em todas as outras da minha vida), eu cá acho mesmo a sério que O Ribatejo foi (Eanes que mo perdoe) o melhor
nascimento do ano 1985 d.C. E o melhor renascimento de cada ano a cada
aniversário, também.
Tudo o que sobredito deixo, vai e fica, por sincero e
limpo, assinado com o nome que, por minha boa fortuna, herdei de meu Pai.
11/11/2014
10/11/2014
Entrada 56 do caderno 16 da série Leite dos Santos
56
Leiria, tarde de 11 de Maio de 2013, sábado
Um restolho carbónico de estorninhos ferve nata de sombra
em panorama de
pinhal-barragem, certo dia além do Tempo
em que estou de pé no
esquecimento como um crucifixo
ou um cão dos que aos
donos ardeu a casa toda.
Quais duas jóias de vidro
preto, as moscas zaranzam
no ar parado, o proboscídeo
ar do Verão estancado.
Quando paro para reler a
primeira estrofe do 56,
sorrio à evidência
demonstrável de como
anda um homem a criar uma
folha
ou uma falha
para isto.
Sendo isto
o trabalho dos armadores
de ferro nas casas que começam,
algumas arderão de fogo
vivo, outras do mero mortal Tempo,
príncipes que bordam o
fundamento da cofragem,
um mês entre a Fontela e
Vila Verde trabalhei com eles,
um deles ofereceu-me sopa da
dele,
retribuí-lhe com um pedaço
de queijo-ovelha-cabra,
conversámos na paragem de
almoço,
pertíssimo o Mondego
morria em pura glória,
pura glória é quando
qualquer coisa em ti
se torna atlântica para
sempre, qualquer coisa que,
como todos os do
ferro, que não de ferro, sabemos,
dura pouco.
06/11/2014
Rosário Breve n.º 381 - in O RIBATEJO de 6 de Novembro de 2014 - www.oribatejo.pt
Só
meia boca esta semana
As chuvas regressam no dia em que dois dos
meus últimos dentes naturais se avariam – parece-me que sem outro remédio que o
de expor-lhes ao sol as raízes. Metade da boca fecha-se-me em si mesma,
concentrada toda no intuito de não assanhar mais ainda aqueles dois focos de
dor latente. A outra metade faz pela vida: por ela ingiro, por ela profiro, por
ela não tanto me firo.
Enquanto isto, a bátega pluvial faz-se
harpa no mundo visto desde o terceiro-andar do convalescente. O vento ajuda à
festa do alumínio, vergando a cerviz dos choupos, tremulando a labareda dos
cedros e descascando a sarna aos plátanos. Os carros patinham nos lagos
instantâneos das rotundas. Como dedadas, as folhas mortas digitam os terreiros,
juncam os pátios, acolchoam os bancos desertados pelos velhos. Os gradeamentos
rangem aquele reumatismo tão próprio do metal exposto ao público. É tudo de uma
beleza soturna: e menos soturna e mais bela seria, caso eu pudesse acudir-lhe
com a boca toda.
Procedo portanto por estes dias ao mesmo a que
procede o meu País: de traseiro sentad’oxidado, espero melhores dias. O
televisor arde de manhã à noite como uma lareira fria. Por ele perpassam as mentiras
eufóricas de Wall Street, as (ameri)canalhices do costume: os derivados, os lixos tóxicos, a Crise – e
as suas marionetas do lado de cá do mar: a platinada Lagarde do FMI, o
peixe-balão menos durão do que barrosão, o escol de bruxas & bruxelas que,
sob a mentira nada pia da Democracia,
fossam a ditadura de facto da miséria obrigatória, a começar pela moral e a
acabar na dos vãos de lojas fechadas sob cartões frigoríficos.
Aproveito uma nesga de sol para me fazer à
rua. Deixo amornar a bica, sorvo-a por meia beiça. Fumo pelo lado da boca como
os pescadores dos postais ilustrados. Leio metade do jornal, presto metade da
atenção à eterna repetição do mundo em diferido perpétuo. E é em unto de
esperança de que não seja preciso arrancá-los que torno a casa a horas do antivinhótico e das papas-de-leite com
poalha de canela.
Por há anos não ter em casa cão ou gato,
fazem-me companhia o Jorge Jesus e o Crato. Por só a mulher ganhar para pão
& tabaco, faz-me muita pena a pobreza do Cavaco.
Derivo pela habitação, por assim dizer, em
éter: espero quem e o que não prometeram vir. Foi-se a nesga de sol.
Enchumaçado a chumbo, o céu de noroeste indefere o esmalte das coisas – e o
pombal de dias bons, hoje transido e famélico, recolhe aos nichos secretos onde
a força aérea da passarada resiste à bélica invernia natural. Cerro os estores
da sala, anicho-me na colcha pulguenta de há tantos anos ex-dentários e dormito
como um idoso preso pelos arames das horas ao torno das décadas, sonhando-me
nada menos do que Albarran-Homem-da-Embalagem-Prateada.
(Mas na verdade sonho mas é com nada.)
30/10/2014
Rosário Breve n.º 380 - in O RIBATEJO de 30 de Outubro de 2014 - www.oribatejo.pt
Pouca-terra
Sou maquinista da CP.
O meu Avô paterno foi da primeira geração
de condutores de carros-eléctricos de Coimbra, vão lá já quase cem anos.
Eu fiz subir a fasquia dos anais
familiares: os eléctricos, afinal, estão para os comboios como os legos da criançada estão para os tijolos
a sério.
O meu Avô teria fartas, largas &
sobradas razões para orgulhar-se deste neto. Só não se orgulha de facto por ser
difícil o trabalho do orgulho ao cabo de 86 anos de morto.
A minha profissão reitera a vocação viária
dos destinos: de apeadeiro em apeadeiro até à estação terminal.
Conheço as luzes na noite. Conheço a luz
diferente que a noite é. Conheço o país dessa luz, esse país nem sempre lunar.
Conheço os suicidas: o olhar aberto deles ante o touro da máquina.
Sei como verdade que é a máquina a
locomotivar-se a si mesma, não passando eu de espécie, por assim dizer, de
alfaiate eléctrico: o mais que faço, é estar atento aos botões.
Como de estrelas molhado o firmamento
nocturno, de tíbias gambiarras as populações no veludo da ferrovia anoitecida:
enfrento isso, guiador da férrea lombriga.
Já fiz muito regional, muito intercidades.
Certa histórica vez, cheguei a fazer Espanha-quase-quase-França. Era no tempo
das malas-de-cartão: hoje como bidonvillemente
então, portanto.
Acordei vezes talvez de mais em dormitórios
transitários da Companhia: mas o que é que na vida não é dormitar?, mas o que é
que na vida não é transitar?
Os casamentos que contraí entretanto, à
maneira de gripes periódicas, foram-se-me na pouca-terra-muita-areia do
costume: marido ausente a horas certas só pode dar ou turnos ou cornos.
Coisas gastronómicas que por causa do meu
ofício sei bem mais do que o gastrófilo senhor Armando Fernandes: o frango
guisado com massa no Alfa de Alfarelos; as favas com presunto de Mangualde; o
toucinho à Senhor Cristo do Barroca de Taveiro; a francesinha verdadeira de
Campanhã; o panrico-com-margarina-de-sabor-a-manteiga-dos-ricos de Vila Franca
das Naves; e a regueifa coimbrã que a minha ti’ Maria da Estação (Velha) de voz
finíssima apregoava na mesma e exacta Coimbra-B do filme Capas Negras protagonizado pela divina Amália e pelo estentóreo
Alberto Ribeiro.
Coisas oficiais, estas: entre mentiras
crónicas (minhas) e alheios veros interstícios ferrobiográficos.
Sou maquinista da CP – é mentira.
O meu senhor Avô foi eléctricomotriz – é
verdade.
E a linha CP de Santarém vai ser
interrompida pelo motim histriónico que num momento de nervos o senhor Ricardo
Che Gonçalves Guevara anunciou à Cidade & ao Mundo por causa das encostas-barreiras
da capital do Ribatejo – é mentira. (Olha, Ricardito, vai-lá-vai, que os meus
botões não contemplam travões.)
Os autarcas de hoje (não todos, mas tantos,
lego de brincar por tijolo a sério)
fazem muita palhaçada desengraçada, coitados. Corro-lhes os quintais e
devasso-lhes os pátios. Nunca me esqueço de agradecer-lhes o tanto rir que me
fazem. Gosto deles assim pequenitos, tipo aqueles ranchos de marquesmendes & antóniosvitorinos que de bibe, patrulhados à proa por uma
educadorazita anoréxica e à popa por uma contínua de joanetes inflacionados
como repolhos, nos ensinam por essas ruas que a vida sempre creche e aparece.
De Santarém, o senhor herdeiro caçula do
Moita de fraca memória determina excitações pueris do género fala-fala-queu-touta-ouvir.
Nasceu, coitado, apenas em 1975.
De modo que se lhe perguntarmos, à maneira
do BB do laçarote, onde estava ele no 25 de Abril, a resposta só pode ser
equivalente ao sítio onde está hoje: que é lado nenhum.
E para Santarém, esse lado nenhum é
terra-pouca a mais.
23/10/2014
Rosário Breve n.º 379 - in a O RIBATEJO de 23 de Outubro de 2014 - www.oribatejo.pt
Alô,
alô, aqui Vale da Pinta
“Se
todo o Estado fosse como o Poder local, não teríamos défice.”
Quem isto publicamente cuspiu aos ventos
não foi o maluco cá da aldeia. Foi um adjunto governamental. Para tal risível
figura, a evolução financeira dos municípios é exemplo dos mais laváveis,
perdão, louváveis. E o maluco sou eu, aqui no Vale da Pinta, Cartaxo.
Já não sei, francamente não sei, o que
fazer de tanto palerma.
Ele é o coiso que, perorando sobre ética e deontologia da e na docência, plagia à força toda. Ele é uma tal
Associação Nacional de “Professores” (tem de ser entre aspas, se não vomito) a
dizer mal dos jornais por trazerem o granchar
copy-paste de cueca à mostra.
Ele é os ministérios da “Educação” e da
“Justiça” (aspas, claro) serem, obviamente, citius
muito mal frequentados – mormente nos respectivos topos.
Um é caric(r)ato. Ninguém lhe exija que
faça o que nós, como ex-Povo, há quarenta anos andamos a fazer: demitir-se.
Pois se até o Primeiro veio agora a terreiro dizer que ele foi a sua “melhor escolha para o lugar”…
Quanto ao caos (sim: caos, balbúrdia,
feira-da-ladra, escarcéu, trapalhada, monturo, zaragata, torvelinho, carrossel,
berbicacho, forrobodó, trinta-por-uma-linha) da “Justiça”, tudo está muito bem
também, graçasadeus. Os juízes recebem
setecentos e tais só para subsídio de alojamento mais miles pela “especialização”.
Os funcionários judiciais fazem o favor de levar o coice nos fundilhos,
agradecer a suas senhorias e aloquetar o bico, que a António Maria Cardoso
ainda é no mesmo sítio.
Se todo estes rol & ror de deformidades
desgovernantes não são emanações espectrais do atraso cognitivo, não sei que
raio chamar-lhe alternativamente. Uma pessoa liga em casa o televisor e/ou o
rádio – e é imediatamente sitiada por idiotas mal intencionados de
alfinete-portugalinho na lapela. Na Grécia e na Alemanha, há facínoras presos
por causa daquilo dos submarinos. Aqui, há medalhinhas do Dez de Junho e do
Padre Cruz para os facínoras. O Sporting foi à Alemanha ser roubado à
descarada: poupasse a viagem, que para ser roubado por alemães não é preciso ir
além da taprobana de Caminha.
Eu sei, eu sei: mais com fel escrevo do que
com tinta. Que quereis? Ando com um edema na glândula da amargura. Olho derredor
e não me sossega o que vejo. Acho os cães de rua mais magros. Acho a mocidade
mais burra, mais praxística, mais vã, mais feia. Até os bêbados meus colegas
bebem menos, porra. Pelos jardins deste Verão anacrónico, os velhinhos tossem a
desesperança com uma espécie de fé virada do avesso. Uma espécie de febre
fúnebre amplifica em redondo o Zero nacional. Um caraças de autismo
multitudinário resigna-nos e persigna-nos com férrea inexorabilidade. A
indiferença imbeciliza-nos. Mas o Poder local, diz o tal gnomo de rala barba, é
um espelho lavado a que o Estado deveria barbear-se, comovido e grato por tal e
tão subido exemplo.
Enfim, pior há-de ser falecer.
Ou não.
21/10/2014
Entrada n.º 55 (da manhã de domingo, 12 de Maio de 2013) do caderno 16 da série Leite dos Santos
55
Ib.
É raro agora pedestrar-me
por Coimbra em podografia,
a vida é ora para mim
sinonímia de Leiria e
e, como em toda a parte me
aconteceu, o domingo é tristonho,
espécie de solução de
descontinuidade entre a morte e o sonho
até as pombas pela Cidade
parecem macilentas &
mais lentas, é como se
pensassem sentindo que não
gostam do que sentem
pensando-se pessoas.
De fêveras fracas é a
flausina que veio
aquaminerar-se sem grandes
maneiras educadas,
a primeira coisa que fez,
ainda nem se sentado tinha,
foi ir à mesa dos três
carecas cravar um cigarro,
foi esperta, evitou-me num
soslaio por ter percebido logo
que eu estava com cara de
pomba ao domingo pensando-se
poeta ou, o que é pior,
pessoa normal.
Deu-se já ao
deus-das-coisas-para-nada o meio-dia,
hoje o sol já ferra, seria
bom ver o mar sem precisar
dele, como quase
tantas vezes nos acontece a quase todos,
ao contrário quantas vezes
da vida, de que a gente precisa
sem a ver.
Pensei há pouco em Coimbra
só porque sim,
se fosse como nos meses em
que esperei a morte da Mãe,
hoje seria dia de levar ao
Café S. Paulo o bornal,
e ao senhor Manuel &
don’Adelaide o mesmo,
e sentir a lâmina do
Mondego entrando, azul-pomba, no peito.
14/10/2014
Livro novo, antiga viagem
Ontem, 11-X-14, uma festa muito bonita: a do 50.º aniversário matrimonial de Gina & Armindo (Lopes Carolino).
A surpresa oferecida pelos veteranos Noivos aos (muitos) convidados foi a a biografia do antigo presidente da Câmara Municipal de Pombal.
Tive a honra de escrevê-la para eles e para a minha Editora, a Imagens&Letras.
Viva a Gina. Viva o Armindo.
09/10/2014
Rosário Breve n.º 377 - in O RIBATEJO de 9 de Outubro de 2014 - www.oribatejo.pt
Quer
tacho
Tenho um primo de sangue directo que é
médico no Cartaxo há coisa de trinta & picos anos. É rapaz bonito e afável
como uma manhã dos Junhos de antigamente. Foram-lhe ásperas as primícias da
vida. Até fome passou. Tudo venceu, todavia. Até a morte de um filho pequenino.
Já o não vejo há tempo de mais. Não é meu costume andar pelo Cartaxo. Não é meu
costume andar pelo Cartaxo por causa de Vila Chã de Ourique.
Tenho medo de Vila Chã de Ourique por causa
do “terrorismo” institucional-autárquico que por aquela sede de freguesia
praticam. Espero bem que o doutor meu primo também por lá não ande muito. Não
quero que eventualmente o acusem de andar violando o n.º 2 da Lei 75/2013, de
12 de Setembro.
A Ção & a oposiÇão são mulheres para o
encalacrar com isso se ele lá for, mesmo que só para praticar a sua, dele,
bondade clínica. Quando o Relvas andou mundo fora a esterilizar freguesias e a
enxugar poços, esqueceu-se de apagar de vez a Vila Chã de Ourique, que tanta
falta faz ao mundo como a fome em África & Arredores. Malvado Miguel,
doutor de pechisbeques & quinquilharias.
Já o meu primo médico poderia passar e
passear sem medo pelo concelho todo. E eu. E eu com ele. Dos meus projectos de
vida mais benignos, um é ir com o meu rico primo assistir a um treino dos
rapazes Caixeiros de Santarém ao recinto desportivo de Vila Chã de Ourique.
Iríamos até talvez com o marido da Ção presidente, esse que foi tesoureiro de
um executivo que já não há nem me/nos parece que venha a haver. Nessa minha
insensata quimera, os apaniguados do senhor Paulo Varandas não dinamitam nada.
As mulheres deles não usam burcas.
Nem os rapazes do PSD local rezam cinco vezes por dia em posição genuflectida
de catar pulgas ao chão.
Acontece que tenho uma solução milagrosa
para a embrulhada de Vila Chã de Ourique. Faríamos assim: dava-se à Ção
presidente e ao marido a Junta Boa;
aos outros da oposiÇão, a Junta
Assim-Assim, para lhe não chamarmos Má.
(Esta minha proposta não é meramente boazinha: é cinco-estrelas.)
Com a Junta
Boa, a Ção & o marido poderiam ir almoçar fora aos domingos, amando-se
com ternura entre garfadas de cozido e terrinas de canja rica. Com a Junta Assim-Assim, o PSD local, o
comunista residente e os paulovarandasistas fariam uma suecada valente, rodando
os três pares que seis cabeças perfazem. E eu e o meu primo sorriríamos a
todos, untados ambos de gozo o mais feliz e o mais sacro. Agora, assim como
está é que não dá.
Em minha casa, a senhora a que pertenço
também preside – mas (atenção!) acumula a tesouraria. Não é como em V. C. de O.
Eu só respiro. Sou vogal consoante, por assim dizer em alfabético paradoxo. O
meu primo doutor, não sei como faz. Como é médico encartado há tanto ano, ele
lá saberá. Aqui a sós comigo mesmo, penso um dia destes visitá-lo. Não conheço
ainda a senhora com quem ele contraiu segundas-núpcias. Espero, tão-só, que ela
se não chame Conceição. Porquê?
Porque, nesse caso malfadado, eu teria de
reformular a presente crónica toda, começando-a, para meu & Vosso mal,
assim:
Tenho
um primo de sangue directo que é tesoureiro no Cartaxo há coisa de trinta &
picos anos etc..
02/10/2014
Rosário Breve n.º 376 - in O RIBATEJO de 2 de Outubro de 2014 - www.oribatejo.pt
Bye-bye,
Tó-Zé, bye-bye e não voltes
Nem todos os cristãos são católicos, nem
todos os católicos são cristãos.
O mesmo se aplica aos socialistas de
Portugal: nem todos os que o são, estão no PS; nem todos os que no PS estão,
socialistas são.
Por outras palavras e no sentido idêntico:
nem das galinhas cresce lã, nem as ovelhas dão ovos.
O que reluz e o que é ouro – raro
coincidem.
Dou por mim a dar nestas lapalisseadas pelo alvor da manhã
derradeira de Setembro. Uma cantoneira da Câmara vai penteando a corta-relvas o
separador central da Avenida. Pela galeria da Rita, choutando a mansinho passo,
uma senhorita-caniche dá trela a si mesma em gracioso par. O copofonista
madrugador das sete e onze acaba de emborcar o terceiro porto mercê de uma
tecnicamente perfeita cabeçada-marcha-atrás.
Dão as sete e doze quando me ocorre que o
senhor papa Francisco sempre há-de, cá p’ra mim, ser tão mais cristão quão
menos católico pareça. Já quanto ao novel campeão de pesos-mosca, António
Costa, aliás simpático e bonacheirão portugoês
do Príncipe Real, o mínimo é agradecer-lhe, para já & se calhar muito, a
deserção do inSeguro da televisiva pantalha. Receio, tão-só, que os coelhos ainda venham a dar ovos, fora da
pagã Páscoa do calendário comercial.
Través tudo isto, faço como os índios da
Nort’aAmérica: tenho as minhas reservas. Tudo faço para não confundir a canábis
com os canibais. De crónicas ferreiro, que espeto de pau me não seja o
argumento. Não pretendo ser indelicado, não é melindrar que pretendo. Os
“simpatizantes” do PS podem perfeitamente integrar procissões santuárias, tal
como ele houve decerto muito padre que a seu tempo votou Sócrates. Não é com
isso que me vou armar em cabeçudo – desses cabeçudos tão cabeçudos, mas tão,
que nem se penteiam, antes estabelecem perímetro. O PS e a Igreja não me fazem
mal. Também me não enchem de sopa o prato. Cá p’ra mim, a filial portuguesa de
Roma e o partido rosicler são como
aqueles primos remotos que todos temos algures: usam-nos o apelido mas não são
nós.
Enquanto tudo isto, uma matrona conserta ao
decote um fio de ouro de que se dependura a medalhinha da Senhora da Conceição.
Mas, por pecaminosamente ter madeixado de trigo químico a cor natural da
cabeleira, é como se a Imaculada habite o sopé de uma silveira outonal. É como
a vocação dos sapateiros para serem coxos. O da minha Rua era: cambava o
próprio andar.
Por este andar, dizia eu pois, o PS ainda
se arrisca a deixar de vez cair a máscara. Que é como quem diz: a maquilhagem.
Aquele “S” sempre significou tudo menos “Socialista”. Foi “S” de Soares, de
Santos (Almeida), de Sampaio, de Sócrates, de Seguro. Só lhe faltou ser de
Santana, pelo histórico descambar.
Ainda me hei-de rir um dia destes. Digo: de
o PS tornar-se PC.
“C” de Costa, não de “Comunista”. Ou de
“Católico”.
Agora de “Cristão” é que não, isso de
certezinha absoluta.
26/09/2014
25/09/2014
Rosário Breve n.º 375 - in O RIBATEJO de 25 de Setembro de 2014 - www.oribatejo.pt
MDI
Esta é a edição n.º 1501 do nosso Jornal.
Muito bem. As minhas fuças estão pespegadas nesta página há apenas 375. Muito
bem na mesma.
Há casamentos que não duram nem a
décima-parte dos já quase trinta anos hebdomadários deste título. São
matrimónios, por assim dizer, sem direcção, sem escrita, sem aparato gráfico,
sem quem os assine – muito menos leia. Os casamentos efémeros, de tão vulgares,
nem grande publicidade chegam a ter.
Por seu lado, ele há também e também por aí
andam jornais que nem para forrar a gaveta-do-bacalhau servem. São pasquins
devotados ao serviço pulha e infecto dos gigantes da indústria e dos anões do
comércio. São coisinhas que lambem. Praticam o “jornalismo” papa-croquetes dos
portos-de-honra, das tasquinhas com seu secretário de Estado portátil, das
feirolas “medievais” pré-congeladas e pré-embaladas para pasmo dos asnos que confundem
a História com as barracas de farturas.
Tais casamentos e tais publicações não
duram – porque são existências moles, invertebradas, servis, viscosas,
instantâneas, aguadilhas, vocacionadas para bufas de si mesmas.
Nos matrimónios céleres, enfim, não toco.
Já nos jornais sim, toco – mas faço-o de
dedos em pinça repugnada: ena tanto especialista!, ena tantas sabedorias!, ena
tanta cagança!, ena tanto sobrinho de banqueiro!, ena tanto autarca!, ena tanta
namorada do CR7!
A excepção está à minha frente.
Escritorzeco de pastelaria de província, habituei-me a este lugar de alumínio
no extremo norte da galeria da Rita. A excepção é um casal já encanecido,
desses que os anos em comum volvem idênticos como irmãos naturais.
Arreiam boa roupa lavada. Calçam óptimo
couro.
Ela veio de fina blusa branca sobre saia de
xadrez-da-Escócia. É de olhos azuis como duas janelas viradas para o mar na
manhã clara.
Ele é cavalheiro de porte não pequeno,
camisa cinzenta matizada de uma chuva de rápidos riscos verdes, calças de
fazenda ponderosa, morna, daquela que faz bem à pele.
Evidentemente, invejo-os.
Às vezes, vem aqui o filho ter com eles.
Tornam-se então uma espécie de namorados veteranos que se dão ao luxo de ter um
amigo mais novo. É bonito de ver-se.
Venho a saber que se casaram em 1985 – há
1501 semanas, mais precisamente.
Desiludidos fiquem uns, satisfeitos por
eles se quedem, como me quedo eu, os demais – pois que nem aqueles nem estes
esperaram jamais que Ribatejanamente
durassem tanto.
18/09/2014
Rosário Breve n.º 374 - in O RIBATEJO de 18 de Setembro de 2014 - www.oribatejo.pt
SMS: Siglas
Maravilhosamente Simples
Permite-me,
ó bom Leitor, a seguinte confissão: tenho uma pancada muito jeitosa naquilo das
siglas. Sou doidinho por elas. Mas nota tu bem: não pelo seu real significado,
mas pelas possibilidades maravilhosas de significação alternativa. Tenho
milhões de exemplos.
FNAC
é um exemplo bom. Não quero saber se, no plano real, é a megacadeia de livros,
discos, filmes e afins coisas multimédias. Nem se era aquilo d’antigamente do
ar-condicionado. Para mim, FNAC é: Fazer Nojo Aos Cães. Pronto.
NASA.
Esta é outro mimo para mim: Nós Americanos Sabemos a Ânus.
Na
volta para casa de algum arraial com amigalhaços de copázio & coparete, o
meu ideal vir CTT: Com uma Tremenda Torcida.
A
política, essa grande porquita, não cessa jamais de me ajardinar-de-delícias o
coração doidivanas. Olha aqui, Leitor, como lês tu esta sequência:
PS-PCP-PEV-PSD-CDS-BE? Hum? O quê? Partido tal, Partido tal, Partido tal? Mas
qual quê?! Tu não vês nesta justaposiçãozinha a mão do Diabo cifrador de
códigos? Eu vejo.
Concedo-te:
lês nisto o nome de partidos por seres mentalmente são. O teu cérebro é um
alperce fresco. Eu, são, não sou. Porque na enumeração PS-PCP-PEV-PSD-CDS-BE eu
leio: Pobre Seguro – Por Culpa Própria – Por Engrolar Verborreias – Pode
Suceder-lhe Doravante – Costa Depois de Sócrates – Bonito Encalacranço!
Vês,
vês? Viste, viste? Estava ali tudo escarrapachadinho, mas tudo – e tu,
preguiçoso, a ler banalidades onomásticas.
Lírico
irremediável que sou, cultor de inúteis belezas que fui sempre e para sempre
serei, sou também um irremediável leigo quanto a geringonças práticas. Mudar
uma lâmpada atrapalha-me a vida por mais de quinze dias. Abrir uma torneira que
não seja das dos pipos deixa-me boi ante o palácio da simplicidade. E por aí
afora. A minha Senhora Esposa é que me ataca os sapatos. Nunca comi sozinho uma
sardinha: tem de ser ela a desespinhar-me o peixito. Uma vez, tentei fazer a
cama – ela dormiu no sofá, claro.
Tudo
isto te confesso & explico por causa da sigla LNEC. O mero som dela (lnec,
lnec…) não te parece aquele ruído salivar dos malcriados que mastigam de boca
aberta? Ou ainda: o lnec-lnec é ou não exactamente aquele estalo do elástico da
cueca na anca? Hum? É pois. Eu sei que tu sabes que LNEC significa, no mundo
dos não-avariados-da-mona, Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Seja. Mas
para mim, népias disso. Para mim, é das interjeições contra-ofensivas mais
lindas que pode haver. Se alguém te chatear, só tens de lhe zurzir cuspo assim:
vai LNEC! Ou seja: vai Levar Nos Entrefolhos do Cagueiro!
E
os ex-ministros? Ah, a meu ver e a meu ler, o que (não digo que todos, mas que
quase todos) fazem – é GNR. Isto é: Guardam o Naco Roubado. E a verdade
seguinte é que PSP: Poucos se Salvam da Pilhagem.
Por
voltas, revoltas & reviravoltas do imparável processo histórico, a sigla URSS
já não se usa. Ai não? Usa, USA! No caso da minha maluqueira, a URSS é eterna:
por, sendo não raro do teor diarreico, portanto humaníssima, valer – Urgência
Repentina de Soltar o Saco.
E
USA? Fácil: Ungidos de Santidade Astral. No mínimo.
E
ONU? Olha, Nelito, Unta-me.
E
NATO? Nunca Andaste Tão Osga.
De
todo o desarrazoado que supra te expus, ó meu fiel e bondoso leitor, concluirás
que um bocadito de fluoxetina me não faria mal de todo, bem antes pelo
contrário. Talvez. Tenho um médico amigo, o Adelino Correia. Dr. Adelino
Correia. Ui: DR AC. Sigla. Já sei: Demónio dum Raio, Arranja-me Comprimidos. E ele
então, com pena de mim e de eu de tão pobrezinho quase de algibeira numerária
como de cabeça, paga-me bagaços até a língua e a Língua me ficarem encortiçadas
de todo, e a boca e o Idioma me saberem a pomada de largo espectro de acção
fungicida.
Estranharás
talvez, Leitor meu caríssimo, que te não ceda a minha particularíssima e
dementíssima descodificação de GRP (Governo da República Portuguesa) ou de CMS
(Câmara Municipal de Santarém). Pois não. Nessas duas siglas não me meto. Não é
por medo. Nicles de medo. É por uma bem mais simples razão. Esta aqui: porque
tudo o que nos fazem, fizeram e vão continuar a fazer, é de FNAC, só quero que
tanto uma como outro vão mas é LNEC.
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