Parabéns, pá
O nascimento público de O Ribatejo deu-se à luz no dia 8 de Novembro de 1985. Temos festiva
data redonda no ano que vem, portanto.
Para a História relativa do jornal, este 29.º aniversário
é de uma contemporaneidade triste: são estes os dias da famigerada legionella, praga que sem graça grassa
por freguesias e populações de Vila Franca de Xira, nomeadamente Vialonga,
Forte da Casa e Póvoa de Santa Iria. À hora a que escrevo (noite já de 11 do
corrente, 96.º aniversário do Armistício
de Compiègne, que, já agora, finalizou a I Guerra Mundial de péssima
memória), são cinco os mortos e quase três as centenas de pessoas infectadas
pela doença-dos-legionários.
Suspeita-se que o maná desse mal provirá de uma torre industrial sita em
Alverca. Vaporizada, aquófila e eólicotransportada, a bactéria não dá sinais de
ficar por aqui, que é como quem diz por ali. O restante Ribatejo e o demais País
esperam tão-só que a mortandade não cresça e que os internados convalesçam
total e plenamente. Assim seja.
Quanto ao tal ano de nascimento do nosso Jornal, rezam as
efemérides coisas notáveis. Nem efemérides seriam, aliás, sem notabilidade
factual. Tenho carteira de exemplos.
No próprio dia 8/XI/85, o exército colombiano tomava à
força o Palácio da Justiça, que os guerrilheiros haviam ocupado. Saldo: cem
mortos. Seis dias depois, na mesma fatídica pátria do grande Gabriel García
Márquez, dá-se a erupção de uma cratera (a Arenas)
do vulcão Nevado del Ruiz. A
consequente avalanche de lava, lama e rocha com 104 metros de espessura inumou
a cidade de Arnero. Saldo: 23 mil mortos.
Esse Novembro/85 é também, e ainda, o mês da cimeira
Reagan/Gorbatchev, na alegadamente neutral Genebra. (Fonte: Cronologia do Século XX, N. Williams, P.
Waller e J. Rowett, Círculo de Leitores, Julho de 1999.)
Por cá-Portugal, o ano de 1985 é o da demissão de Mota
Pinto, a 9 de Fevereiro, da presidência do PSD,
sucedendo-lhe no lugar aquele que é hoje (dizem) ministro dos Negócios
Estrangeiros: Rui Machete. Duas exactas semanas depois, a 23 do mesmo mês,
nasce o partido de inspiração eanista – o efémero PRD de neutra e/ou insulsa
memória. A 19 de Maio, a rodagem do carro vale a Cavaco Silva o poder laranja, na Figueira da Foz. O Tratado
de Adesão à CEE é assinado a 12 de Junho. A 25 deste mesmo mês, Soares
dissolve-se de primeiro-ministro, fazendo o mesmo a Assembleia da República. Um
exacto mês antes do primeiro número de O
Ribatejo, a 8 de Outubro portanto, o PSD de Cavaco vence as legislativas
com maioria simples, sendo posteriormente empossado um Governo minoritário. O
ano contempla, ainda, a inauguração do muito comentado (e gozado) Centro
Comercial das Amoreiras, em Lisboa, cidade em que se regista uma patusca série
de incidentes relacionados com a exibição do filme Eu Vos Saúdo, Maria, de Jean-Luc Godard. (Fonte: Portugal Século XX – Crónica em Imagens,
coord. Joaquim Vieira, Círculo de Leitores, Dezembro de 2000.)
Assentemos isto: O
Ribatejo não nasceu sozinho em um nem para um mundo deserto. É texto com
contexto, este menino paginado. A seu propósito, é curial a seguinte notação:
29 anos depois da primeira luz, a publicação teima na independência e no livre
pensamento que a fizeram nascer. É um não-alinhado por natureza, por vocação e
por destino. Tem (r)existido sempre, ventos vindo e marés subindo, outra arma
não usando que a da liberdade responsável. A ética deste semanário, de mãos
limpas sendo como é, nem usa luvas nem recorre a pinças. Talvez por isso
pontualmente incomode certos sectores cujos factores (ou fautores) não gostam de espelhos, muito menos dos lavados.
Falando por mim só (que é aliás o que sempre faço, nesta
página como em todas as outras da minha vida), eu cá acho mesmo a sério que O Ribatejo foi (Eanes que mo perdoe) o melhor
nascimento do ano 1985 d.C. E o melhor renascimento de cada ano a cada
aniversário, também.
Tudo o que sobredito deixo, vai e fica, por sincero e
limpo, assinado com o nome que, por minha boa fortuna, herdei de meu Pai.
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