01/01/2013

BOLETIM - 31 de Dezembro de 2012


© Jonathan Monk
As Yet Untitled I
2010




Leiria, 31/XII/2012

BOLETIM

I

Luxo para mim e luxúria minha,
à matinal brisa não arrepio.
Estou nela tão bem, não sinto frio,
nem minto ser eu tal a andorinha

que a céu aberto escreve suas asas,
primaveril rainha superiora às casas
do pobre burgo baixo, coitado, humano.
Acaba-se hoje e quase aqui o Velho Ano.

II

É esta ainda a força respiratória,
esta ainda a grafia credora do mundo.
De senhoras a pulsão venatória,
da ave solta o risco alto e profundo.

Da galeria as colunas (arbórea pedra)
atiram arcadas curvadas e capitéis.
Por elas fenece (fenece mas medra)
o absorto velho, ex-criança sujeita às leis

do nascer-um-dia-um-dia-já-não.
Procura e trova a pomba a seu pão.
Um carro da polícia, manhã muito cedo:
’inda dorme o ladrão, não há que ter medo.

III

Enamora-se o velho efebo de dados passos
que a não voltar passam, nem mais voltarão.
Coisas que nunca foram, ora são. A oração
por que permaneçam delas os cunhos e os traços

não cabe. Sabe o efebo envelhecido isto de cor.
Nem teima. Nem insiste. Resiste ’inda, p’lo melhor,
a licorar-se de falidas idas tidas ternuras.
Hoje, tudo água-d’olhos. E nas mãos, tremuras.



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Canzoada Assaltante