22. P. E. NL.
Leiria, terça-feira, 13 de Setembro de 2011
Atento pela Cidade às marcas do Tempo: nos prédios, nos rostos, nas leiras que o município cobre de flores e avisos.
E no meu coração coleccionador a bateria do sangue batendo o tambor dos passos, entre compatrícios breves e eternos.
Um hotel de frontaria muito azul imita uma emanação de céu, à minha esquerda, um azul bem pintado por anónimos artistas.
Passo, repasso – e o caderno vai-se pré-dotando de sinais a cuja claridade nem a minha mais obscura melancolia pode obstar.
Evangelizo os meus versos indígenas à passagem pelas fontes bentas de alva alvenaria, na água dos séculos.
No jornal, os crimes, as opiniões, os negócios, os cravos e as ferraduras, as alimárias da desgovernação pública.
A tarde larga de Setembro a tudo envolve como uma seda quente depressa flanela, de que as nuvens pulsam ramas.
À beira-rio, mulheres atiram o corpo à condição de flores carnívoras, uma em grená, em verde outra – e perfumadas ambas da melancólica hortelã do cio.
Flicto à direita por bandas da Sé, de que vêm saindo as andorinhas octogenárias cuja última primavera é a invernia do missal.
Derivo ao sol até cercanias do jardim-parque, onde toxis, reformados e outros ociosos aclamam em silêncio a pederastia, o dominó e a mortalha lambida.
Paro. Escrevo. Não leio.
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