27/06/2008

Uma para Quatro

Esta semana, por escassez de tempo (ida a Lisboa etc.), é comum a crónica para os quatro títulos da Sojormedia (O Ribatejo, Região de Leiria, Jornal da Bairrada e Jornal do Centro). Aqui fica.



QUALQUER DIA

A vida é demasiadas vezes como ouvir o Marco Paulo cantar “virá um dia qualquer / tu serás a minha mulher”. Toda a gente sabe que não. Não, nunca na vida. E a vida é demasiadas vezes “nunca na vida”.
Vale que, ocasionalmente, nem sempre. De vez em quando, a circunstância permite-nos a instância de circo. O trocadilho justifica-se, fracamente embora, sempre que nos ocorre a inteligência de assistir por fora às loucuras, às divertidas loucuras do mundo. Tenho tantos exemplos, senhores. Tantos modelos, senhoras.
Ver a Paris Hilton a tropeçar numa grade. Escutar o Joe Berardo sem ser com cara de gozo. Comparar a rigidez lacada dos penteados de Cary Grant e do José Veiga. Aparar as unhas dos pés às meninas da Ribeira do Sado e ao Pinto da Costa. Deselectrificar a realidade terrena e habitar o paraíso acústico (ou “unplugged”, segundo o novo Acordo Totográfico) do nosso Primeiro. Ser homem, ir a um cabeleireiro de mulheres e ouvi-las falar do nosso Ronaldo com molho à espanhola. Contar pássaros ribeirinhos numa tarde de chuva em pleno Verão. Ver a Amy Winehouse a tropeçar numa grade. Saber que aquela senhora da ASAE foi demitida por ser minhota e confessa matadora doméstica de galinhas. Fazer o rácio entre o dito, o feito, o fito e o deito. Traçar um gráfico estatístico número de desempregados / número de cafés ligados à TVI. Conter a sexualidade a partir do que dela nos indexam os senhores padres. Dar o dízimo aos (mas não dizimar os) “bispos” brasileiros. Ir a Alcochete falar francês. Descobrir uvas no Cartaxo. E acreditar naquilo que o Marco Paulo canta, mulher, mesmo que, como o nosso Primeiro, a vida nos pareça “unplugged”.
Isso e contar pássaros ribeirinhos numa tarde de chuva em pleno Verão, num “dia qualquer” como na canção.

2 comentários:

Anónimo disse...

uma para quatro parece-me assim uma coisa muito mal enjorcada... ali... tudo à espera que um se despache para ir o seguinte. Leste demasiado as visitadoras do Mario Vargas Llosa?

Daniel Abrunheiro disse...

Eheheheh, boa.
Foi mesmo por falta de tempo.
Mas não me armei em Pantaleão Llosiano, não senhor.

Canzoada Assaltante