26/03/2007

Quase Dois Sonetos Luxemburgueses

Um Soneto Agora

A beleza corre ainda a cara das raparigas.
Mesmo do meu espelho não está 'inda extinta.
Mãos (estrelas de osso) dizem adeus vitais.
Partem os comboios e voltam, não a recordação.

Digo isto assim agora porque envelheço.
Rápida, a consciência é trapo escarlate.
Bate, sente, regista - o olho do vate.
A beleza corre ainda a cara dos rapazes.

Tudo é tão ver(s)ificável, digo, ouço, repito.
Não sobra de meu monte uma sombra alguma.
Que eu tive já gajas e fui-lhes ao pito:
à leoa, à pantera, à coelha, à puma.

Do mais que não fiquem, descansam jardins:
e histórias e gente e coisas afins.



Outro menos um Verso

Pulcro, pequeninito, ladra contra a corrente o cão.
É um pátio de gente que vive de salário.
Breve acontece de todo o cenário a aldeia.
Passam carros, aumentam a distância.

Os mais velhos luxemburgam reformas.
Os menos velhos temem muito a diáspora.
Há mais fritos coloridos no café-estendal.
A modernidade não era isto para ser.

Eu digo - quando volto ou telefono
- que não, não era isto o Luxemburgo.

E não a vida. Nem o morrer. Sequer porém
a massa extinta das luzes que vimos
anoitecer. Sim, contra nós, pulcros, pequeninitos.



Caramulo, tarde de 25 de Março de 2007

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Canzoada Assaltante