Pois que
quão o suor
é a consciência tão
emanação do corpo,
escrevo isto
aos 42 anos de idade.
A aço se não reduz já o braço
– ou conduz.
Etérea lama, em lugar disso
– sombra, que não luz.
Finos vasos azuis
o sangue vazam em as unhas.
Vibra dentro o osso
– não o aço:
formigueiro de dormente medula.
A mesma adolescente espada
não singra já no ar o frio:
antes tem frio, coitada.
A alma pisa o sangue
como a vinho fora.
O corpo é um gajo sozinho:
de espelhos devorador embora.
Restam costas e virilhas.
Salsugem babuja corais
de que ilhas, por tropicais,
são alheias maravilhas.
Lord Jim, Sylvester Stallone:
clones da musculação
por via mail ou telefone
ou da coragem contrição.
O mais é livros folheados
a cuspo d’ouro proletário:
andam os corpos enganados
– não tem reforma, o operário.
Digo isto bem do alto
duma idade que se abaixa:
Montepio, monte alto,
tostõezinhos para a Caixa.
Nunca conta a maravilha
seus segredos culinários.
Eles são certos e são vários,
dão de comer a operários
e mais à mãe e mais à filha.
Tenho na tíbia fissura
que arrefecendo algia traz.
Eu sou muito bem capaz
de fazer uma loucura.
Vivo em 2006
– não sei qu’é isso,
ó bicicleta!
É uma idade obsoleta,
é o corpo enfermiço,
refractário às mesmas leis.
Poucos sonhos.
Mulheres, nem risco.
O mesmo coração confisco
de onanirismos os mais medonhos.
Vento nos cedros: azulações.
Verdes chuvadas, o tom cinzento.
O filme é mudo, o filme é lento.
A derme é fria sob os colhões.
Meu manso corpo, tu sê bravio:
não te sufoque a consciência.
És da cidade que tem um rio.
42? Pois, paciência!
Caramulo, noite de 21 de Novembro de 2006
4 comentários:
Sou o primeiro....
Depois dos 42, a coisa melhora. Ainda há tempo para se ser um bravo. Bravio é que já é mais difícil.
Como dizia o outro, esta coisa vai ganhando novas qualidades.
Um abraço
Manuel
abraço, minha gente.
Parabéns.
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