171
A noite passada, vinda a manhã, será tarde
de mais?
Pugno pela consciência, a mais lúcida, de
nossa desimportância.
Gosto muito de sentir o vento dando de si
em canaviais.
Ando muito a pé, sinto-me em expansão, amo
as aves todas.
Amo, sim, as aves todas, abutres incluídos,
como não?
Esta manhã não sei, amanhã não sei, ontem
talvez soubesse.
Há, notoriamente há, notavelmente há, razões
para.
(Só que, entretanto, Delfim terá suas/dele
dúvidas naturais.)
Quatro linhas de ontem?
Tenho-as aqui:
Fechamo-nos na noite mais cedo do que
devido:
nossos Pais não são vivos,
há que, como um cão,
guardar a orfandade.
172
Trata-se de um homem algo balhelhas, por
assim dizer. Disse-me ter/ser nascido a um 13 de Maio. Disse-me que o
13-de-Maio deveria ser feriado. Disse-mo assim:
“Afinal, é o dia de Fátima, da nossa Mãe
do Céu.
O Camões não era santo mas tem feriado.”
173
Já muito hei praticado mor bondade.
Eu dou pão às aves de terra & céu.
Quando escrevo, atrevo a vontade
de me confessar, de me pôr ao léu.
De betão, viadutos li’am nadas.
De saibro, rangem mais de mil passadas.
Eu vingo as minhas estrofes rimadas.
Eu singro & sangro crónicas cansadas.
174
(Ó juvenilidade ex-minha, não me
expectores!
Ó santa-do-açúcar, dá-me dias melhores!)
175
(Quantos anos deveras temos?
Quantos, vividos, são nossos?
Por que temos frio nos ossos?
E quantos ainda, se, vivemos?)
3 comentários:
Bem-vindo!
Obrigado, Cid.
Um abraço. António Pascoal
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