25/09/2023

H. EM BUSCA DELFIM - 152 & 153 (3.ª-f.ª, 19 de Julho de 2022)

Foto: © DA.



152

 

Desconheço em absoluto quando – ou se – reverei o mar.

Há cinco anos o não abordo, confronto, avisto, converso.

Nem todos os dias penso nele – todas as noites, porém, sim.

Já residi pertíssimo dele – e a minha vida não era escassa.

 

Em lugar da áurea arena, piso hoje parques-de-estacionamento.

Como mamutes encerados, bojudos autocarros fazem de falésias.

O mar que posso, chama-se Rio Mondego – é quanto posso de mar-nosso.

Um destes domingos, abeirei-o, tristíssima foi tal afronta, juro-Vo-lo.

 

Rotino-me de mais em circunvoluções pouco, afinal, cerebrais.

Padeço de merencórios lapsos, dou por mim não me dando.

O Rio Mondego que posso – é quanto posso escrever.

Ali ao Açude, a espuma fervilha na comporta, é bonito & inútil.

 

A questão de não ver o mar explica-se por não ver a Mãe.

Era com a Mãe que o mar fazia sentido, estava ali total.

Um rapaz fica sem Mãe? Fica-se um homem sem mar.

Este tipo de aritmética é entendível até pelo mais grosso.

 

Quando em Portugal ainda havia Inverno, eu amarava.

Deambulava ao longo do estuário, bordava a costa, eu não era escasso.

Aliás: por esse irretornável então, eu era menos tempo do que espaço.

Hoje, sou arcebispo-primaz-sumo-sacerdote do desconhecimento.

 

Este livro é, em grande porção, feito de desconhecimentos.

(E não, não é fácil imodéstia garantir-Vo-lo como vero.)

Tenho trabalhado as noites, penso no mar & não durmo.

Chega a alva, voam as andorinhas – gaivotas, nem uma.


 

153

 

Revi(sitei) o meu Irmão.

Julgo ter comunicado com ele.

Julgo ter-me ele dito algo com o olhar.

Posso estar enganado.

Odiaria estar enganado.

Julgo não estar enganado.

 

Situações afins destas demonstram à saciedade

a inutilidade

da Poesia.

 

Volto a ele dia 27.

Seremos de novo comun’irmãos nesse dia.

 

 


 

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Canzoada Assaltante