Foto: © DA.
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Desconheço
em absoluto quando – ou se – reverei o mar.
Há
cinco anos o não abordo, confronto, avisto, converso.
Nem
todos os dias penso nele – todas as noites, porém, sim.
Já
residi pertíssimo dele – e a minha vida não era escassa.
Em
lugar da áurea arena, piso hoje parques-de-estacionamento.
Como
mamutes encerados, bojudos autocarros fazem de falésias.
O
mar que posso, chama-se Rio Mondego – é quanto posso de mar-nosso.
Um
destes domingos, abeirei-o, tristíssima foi tal afronta, juro-Vo-lo.
Rotino-me
de mais em circunvoluções pouco, afinal, cerebrais.
Padeço
de merencórios lapsos, dou por mim não me dando.
O
Rio Mondego que posso – é quanto posso escrever.
Ali
ao Açude, a espuma fervilha na comporta, é bonito & inútil.
A
questão de não ver o mar explica-se por não ver a Mãe.
Era
com a Mãe que o mar fazia sentido, estava ali total.
Um
rapaz fica sem Mãe? Fica-se um homem sem mar.
Este
tipo de aritmética é entendível até pelo mais grosso.
Quando
em Portugal ainda havia Inverno, eu amarava.
Deambulava
ao longo do estuário, bordava a costa, eu não era escasso.
Aliás:
por esse irretornável então, eu era menos tempo do que espaço.
Hoje,
sou arcebispo-primaz-sumo-sacerdote do desconhecimento.
Este
livro é, em grande porção, feito de desconhecimentos.
(E
não, não é fácil imodéstia garantir-Vo-lo como vero.)
Tenho
trabalhado as noites, penso no mar & não durmo.
Chega
a alva, voam as andorinhas – gaivotas, nem uma.
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Revi(sitei)
o meu Irmão.
Julgo
ter comunicado com ele.
Julgo
ter-me ele dito algo com o olhar.
Posso
estar enganado.
Odiaria
estar enganado.
Julgo
não estar enganado.
Situações
afins destas demonstram à saciedade
a
inutilidade
da
Poesia.
Volto
a ele dia 27.
Seremos
de novo comun’irmãos nesse dia.
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