19/09/2023

H. EM BUSCA DELFIM - 141 a 144 (ainda de Domingo, 17 de Julho de 2022)

© Paul Strand




141

 

Por a pura púrpura violácea do amanhecer

singrei minha embarcação até teu litoral.

Mal nos havíamos ambos, por então, adultecido.

Mal lográmos ambos, por então, livrarmo-nos dos Pais.

 

Eu singrei, sangraste tu: acabava-se-nos Outubro

desse ano de meu mais tremendo luto, pois que d’Irmão.

Purificámo-nos em brancura na brácara noite.

Isso eu não olvido, por mui em lembrança o ter revivido.

 

Tudo passa. Tudo (se) cansa. Pouco se alcança. É tudo pressa.

Claro que a todos líamos: tu dando-lhe no Shakespeare, eu no Eça.

A perversidade & a perversa idade, serão elas contemporâneas?

 

Vigorámos todavia infantes-meninas por estrangeiros corpos.

Vingámos descendência, por o que satisfizemos já a dívida.

A dúvida é que talvez não. Agora pai & mãe somos: de nós se livrem elas agora.


 

142

 

De convulsos tristes coitos me vejo já livre.

(Nem deu para conversar, foi mais ginástica.)

Era então minha pele ainda elástica.

Já disso me livrei ao deus-me-livre.

 

Se amei? Bem me enganei! Não era espelho.

O cotovelo, erógeno? E o joelho?

Lembro cor de alguns olhos que me não viam.

(Somadas, tudo putas que as pariam.)

 

É duro envelhecer envilecendo.

(Em catre-celibato é que me estendo.)

Sonho literaturas já sem gajas.

E se me leres, Delfim, o mor bem hajas.


 

143

 

E a Luna Fortifeio Fauno Pompa

pagou nossa rodada-dois-sozinhos.

Eu vou mais pelas brancas; ela, por vinhos.

(Oxalá qu’esta cópula/copla não se rompa.)

 

Colou-se-me à boca uma mosca.

Cuspi-a em decimal metrometria.

A Lua de crescente & a tarde fosca

não são averbamentos de alegria.


 

144

 

Trabalharei as próximas das-zero-às-oito, lá chegando vivo.

Deveria dormir um pouco, pousar a corporação.

Escrevo já há muitas horas, digo: estou & sobrevivo.

Pericárdica é a membrana de roda-coração.

 

Um aceno-de-cabeça me saúda.

Somos comensais deste tasco diário.

Só aos ricos é que o Senhor-Deus ajuda.

Quem o contrário crê, é mui otário.



 

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Canzoada Assaltante