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Hermínio
é hoje mais plástico do que elástico.
Acontece-aos-melhores,
como sói dizer-se.
O
mais é ir comendo, à escassez do foder-se.
Ele
há que ter calma – e não ser tão drástico.
Delfim,
conheces bem a em-si efémera transitoriedade.
Nascemos
ambos, felizmente, em esta mesma Cidade.
Que,
por festa, ’inda nos resta? Quê? Dez anitos?
É
de ir ao Machado de Castro & ao Portugal dos Pequenitos.
Hermínio,
não dormiste de dia, a noite te será dura.
(E
quem diz esta noite, diz a vida-futura.)
Importa
nada. Hora a hora, dado o pão às aves,
’inté
parece que vais rumo a noites mais suaves.
Delfim,
aprecio ainda (de nossa idade) as idosas ataviadas.
Duas
dali-Monte-Formoso são sexymente apetecíveis.
Pouco
me interessam que se lhe hajam fundido os fusíveis.
São
musas ainda, leonores-de-fontes-por-as-alvoradas.
Hermínio,
paterneto de José, inquilino de quarto antigo.
As
noites são mais vastas que nefastas, feitas as contas.
Amarguras
a mais são dissipações tontas.
Se
o paterAvô vivo, seria ele meu Amigo?
O
materAvô (Carlos) era bem mais complicado.
Sucedia
bater na mulher, era então normal tal fado.
Diz-se
que aprendeu a ler sozinho.
E
não tinha, como o materneto, o vício do vinho.
Delfim,
o dito comércio-tradicional da nossa Cidade
d-existe
em prol da americanóide novidade.
Quando
tu & eu vamos à Hipermercearia,
eu
disfarço mal rancor & agonia.
Hermínio
não é (nunca foi, nem será) de H. o melhor assunto.
O
melhor que há na vida é uma sandes-de-presunto.
Digo:
logo depois das Filhas, do União de Coimbra & do Benfica.
Digo:
e de saber cada credo filho-da-puta-mafarrica.
No
fundo como à flor, “queira-ou-não-queira-o-papão”,
o
sempiterno Zeca renovou, de Coimbra, a Canção.
O
resto é tudo merdice de maus-imitadores
da
real-puta-que-os-pariu & da Senhora-das-Dores.
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Já
hoje consultei o borda-d’água-das-marés-lunares.
(Não,
não irei a um mcdonald’s comer contraplacado-de-carne.)
Serei
lunarmente lupino, mordendo porém em ninguém.
Esse
meu tempo de pensões com casadas literalmente emurcheceu.
Já
hoje revi o meu papel de calotes pessoais intransmissíveis.
É
só coisa de uns poucos contos, digo euros, impassíveis.
(Ao
balcão do D., um bêbado ralha com outro mais sereno.)
O
ralho é sempre o mesmo – e o mundo, sempre pequeno.
Embebedo
de pão as minhas pombas,
essas
a que chamo minhas sem notário.
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A
cada um(a), sua estrada-de-Damasco,
sua
vertiginosa rosa, árida, maninha senda.
Não
nos importe já quem nos ofenda:
entremos,
cada um(a) a sós, em este tasco.
Eis-me-te-nos-vos
ante a galeria de groselhas,
petiscos
subindo a bocas, sortido de vinhos,
baunilhas,
anchovas, delicados homens brutamente sozinhos,
terra
do leite-&-do-mel sem vacas nem abelhas.
Às
14h47m de uma tarde globalmente anónima,
aquietemo-nos
ante a global indiferença.
A
esperança é de si mesma carga antónima
–
e é-o bem mui mais do que se pensa.
Riqueza
de olhos azulíneos, como redondas piscinas,
assoma
ao umbral da taberna, tipo extraterrestre.
É
uma turista extraviada lá das arestas alpinas,
perdeu-se
entre nativos – e fê-lo sem livro ou mestre.
Copiei
hoje, à infomáquina, linhas do ido Abril.
Nem
sei por que ainda o faço: se por má-fé, se por bagaço.
Onde
ganharei – retórica pergunta – meu seguinte ceitil?
De
onde o dra(c)ma, a rupia, a coroa, a esterlina, as notas em maço?
Vinde
tomar algo, vinde, aqui cenacula-se bem.
Faremos
cardinalícia ceia, à de Dantas (“pim!”) maneira.
Não
podeis: tendes V.ª vidinha organizada, até porreira,
não
tendes de aturar poetidiotas-tipo-zé-ninguém.
Nem
todos nos perdemos já, até mais ver.
As
marés cronometram a costa, infinitas.
Não
é inteligente levarmos existências aflitas.
Oceânica
escuma, teu contar não tem conter.
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