METE-AO-FÍSICO
Leiria, tarde de sábado, 13 de Outubro de
2012
Deitei-me ontem a bem pouco usual hora:
passavam trinta e uns poucos mais minutos da uma. O meu Irmão Fernando veio
dormir-nos a casa. Levantei-me aquando ele, passava um quarto das seis. Dei-lhe
o desjejum, vimos um episódio gravado de NYPD
Blues enquanto lhe não ligavam a vir buscá-lo. Vieram, e ele foi, pelas
sete e cinco. O trabalho (modelação cerâmica, em que ele é mestre) era perto de
Fátima, aquele logradouro de monges e de mongos nacionais onde os descontos da
Superstição arrastam companhas às campanhas da hiperparódia da Fé. Já não voltei
à cama, preferindo flanar pela sala com uma chávena generosa de café-com-leite
muito quente. Vesti-me em condições olimpicamente razoáveis e saí. Fazia um
frio delicioso. Aderi ao casaco como a ornitológico frouxel. A madrugada era
mais clara e mais lavada do que a tarde viria a ser. Todavia, pouco conheci da
tarde útil, já que, havendo empratado ao meio-dia uma ração de grão com
toucinho, se me melaram e remelaram os panos-de-boca do teatro óptico. Quer
dizer que fui sestear como um odre – ou como um ogre, talvez. Passabraseei bem
três horinhas de morte emprestada, redimível à reforma da letra do acordar.
Para minha contrariedade metafísica, tinha fome. Nem fragmento de verso, colado
a pasta de cuspo, me acudia ao beiço. Queria pão com queijo e café forte.
Satisfiz esse (este) animal que não lê nem escreve. Depois, antes que a modorra
pós-prandial me adornasse de novo a barcaça, voltei a sair.
Aqui estou.
Penso no que há-de ser o
jantar, que o grão acabou, ai não que não acabou, ao contrário da versalhada,
que disso há sempre fartura e sobejo.
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