Formação Cívica
Durante muitos anos (anos de mais, talvez) escrevivi num concelho tiranossaurizado por um figurão-figurinha mais lerdo e mais incapaz do que uma beterraba num congresso de astronautas. Confesso que me deu merecido gozo cronicar-lhe a alarvidade, causticar-lhe a persporrência, destesticular-lhe o atavio e excomungar-lhe à força toda a cristandade dos neurónios, de que aliás não extraiu nunca, nem jamais extrairá, cabal certidão. Na impossibilidade de florir esponsais com a Shania Twain, foi assim que curti o ganso. A experiência ficou-me, o lápis não me murchou e a azia tem remanescido minha fiel e portátil companheira, cada vez que dou de trombas com algum novo e alternativo e lídimo espécime do p(h)oder local.
(Interlúdio: juro pela vossa saúde que não era minha intenção tornar tão depressa a moitaflorir esta minha/vossa coluna. Mas:)
a páginas 3 deste jornal (edição de 22 de Março transacto) dei com as tais minhas trombas numa citação projéctil-blogueira do triste edil de Santarém. Esta aqui: “A direcção do PS local tornou-se flatulenta politicamente. O seu prazer é o ruído.”
Li, reli e tornei a pasmar. Fui à net e confirmei: aquilo foi dito/escrito e posto em rede. Eu já nem me indigno com a indignidade. Falta-me a idade para isso. Eu já nem digo que o menino é malcriado. Limito-me a vituperá-lo baixando de nível para conseguir estar ao nível dele, fazendo eu do coração tripas: rasteira e escatologicamente, o que me surge dizer da tal citação é que não vale um peido. Que a personagem é bufa como uma opereta vadia. Que antes queria borrar um pé todo do que ter uma alma que mais caganita do que cogita. E que fazer de um mandato uma fossa a céu-aberto equivale tão-só à evidência de estar atarraxado ao poder como uma tampa de saneamento à cloaca.
O flato lento deste senhor não me impede, todavia, de reelevar o nível, que é o do meu leitor e o do meu jornal. Corações ao alto, portanto: dirimir/esgrimir argumentação política não deve, nem pode, ser um estoiro anal.
O paradigma do serviço público não é uma merda qualquer nem para um merdoso qualquer. A ideia que tenho de democracia em liberdade equivale à apologia das mais extremas educação, cortesia, civilidade e assertividade. A vida não é a alvíssara da bargalhota. É o rosto do outro no espelho do próprio.
O tal figurão-figurinha do tal outro concelho onde desperdicei anos que não voltam – nem esse, por mais asininamente estampilhado pela posta-restante da estupidez, seria capaz de penicar tal falta de chá.
Quanto a este, estamos cagados, perdão!, estamos falados.