1. GINESTESIA AMBULATÓRIA E AFINS
Leiria, quarta-feira, 13 de Julho de 2011
Passagem de mulheres pela rua ensolarada: solúvel, instantânea beleza: como o café doméstico. Comove-me sempre muito, tal passagem. Não é importante, a minha comoção. A moção delas – é. Estruturas mui bem laqueadas a tecido de ouro, dotadas muito da redondeza volumétrica da ânfora, do alaúde. Excelentes ligamentos suspensores das mamas, bons pèzinhos quase orientais, olhos cuja mansidão refulge a da vaca úbere, vaginas demolhando o húmus criador. Essência, bálsamo, lavanda, loção: cadinhos perfumados da ginestesia. Belas & alheias, caminhantes, sustentáculos do comércio e das gerações e dos renques arbóreos e dos parques automóveis e das filas de patos no rio e de vês de andorinhas rumo ao sul dos céus. Bonitas como morangos frescos ao cuspo do orvalho. Ligam-me, todas elas e elas todas, à medusa. Quando, infante, eu no Monte do Picoto trincava o talo do funcho, não me as imaginava assim. Agora (agora que decresço, que me outonizo), agora sim. As mulheres? – Estandartes, espadartes. Belas artes. Barcos verticais. Árvores que a noite (nos) deita. Roedoras dos ossos de cada homem, fábricas de vísceras. Coroas dentárias valendo diademas & perla-poemas. Labial carmim. Isto nem só a mim.
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