23/04/2009

Prosa Constitucional

Souto, Casa, manhã de 20 de Abril de 2009



De dia uso o corpo para trabalhar, só à noite me permito a cabeça e alguma coisa do coração.
Devo sobreviver assim longos anos ainda.

Há gente cujo trabalho neste única vida é abrir janelas.
Ando aqui a ver paredes e paredes e paredes.

Não tenho contas a ajustar, não me as permito já.
Estou reduzido a único dia, espécie de eternidade portátil.
Sonhei com a minha terra esta noite: era vertical, a terra.

Um único dia eternamente, longos anos de um dia único como a vida.

Na volta do Verão, reaberto o anfiteatro sideral, aceito a abóbada.
O corpo é todo nave em paragem e passagem, ao tempo mesmo.
As crianças tornam recentes as arqueologias, atiram cor.

Cada animal é uma monarquia absoluta.
Tenho sido republicano por distracção.

2 comentários:

Manuel da Mata disse...

Belo!

Anónimo disse...

Já tardava, Abrunheiro, já tardava!

Canzoada Assaltante