Souto, Casa, manhã de 3 de Abril de 2009
(I. Por causa de um raio de sol que me tocou a janela)
Suponhamos finalmente que deus existe
mas sem ser maiúsculo
que de uma ovelha perdida mais não passa
um bicho como nós em demanda de um cajado solar
de um chapéu-de-chuva feito de varetas pluviais:
que faremos deste deus igual e insignificante
este pobre deus lanígero e muscular e sanguinário
e sangrento e viciado em igrejas e incensos e mulheres?
O sol é tudo quanto posso para suportar deus
e o diabo por ele.
(II. Por causa de ter dormido bem)
Vi o rosto do Armando José Oliveira dentro de um carro
ao acordar
o rosto de óculos escuros
o cabelo aurificado por um lençol de sol
o sorriso aliviado da outra dimensão
lá onde ele vigora
contemporaneamente para sempre
contemporâneo de tudo
da filarmónica de 1825 por exemplo
da inauguração da ponte D. Luiz
da torre de Santa Cruz de Coimbra
da nova gama de óculos escuros 1991:
de que alívio sorriria o Armando José Oliveira?
Os mortos explicam-se
a gente é que os não entende
o sol sim.
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