Eu e José António
Saraiva
1 Dirigi
(oficiosamente, um; oficialmente, outro) dois jornais na minha vida de
jornalista encartado. Nenhum deles expressamente
viu o sol. Vale-me isto: eram mesmo
jornais. Um era o Correio de Pombal.
Outro, o Dito e Feito, sito na mesma
parvónia. De ambos me livrei com o coxear rápido dos inválidos ante a ameaça
das carroças sem travões. Tudo isto para preambular a minha leitura, que acabo
de fazer, de “Eu e os Políticos”, de
José António Saraiva, antigo director do Expresso
e do Sol.
2 Li. Juro que li. É
um nojo. Cheira a cuecas mentais que nenhum sabão de honestidade intelectual
lavou. Está mal escrito, foi mal revisto, é mal intencionado. Custa-me mais por
causa disto: José António Saraiva é filho de António José Saraiva (1917-1993),
figura absolutamente maior da História Cultural Portuguesa. Custa-me menos por
causa disto: é também, afinal, sobrinho de José Hermano Saraiva, contador de
tretas reciclado pós-25 de Abril apesar de fascistóide ministro da Educação
aquando da Crise Académica de 1969. Sim, li a coisa. Tem almoços, tem má
sintaxe, tem promiscuidade, tem Lisboa a mais e País a menos. Destapa mortalhas
sexuais que recobriam pessoas mortas. E gaba Maria Cavaco Silva por conseguir
perceber o que ele/EU escrevia, em
nome de um confessado (mas frívolo, mas falso, mas ignóbil) cartesianismo (página 43, sff) de quem
nem da própria idiotia tem dúvidas.
3 António José
Saraiva, pai deste Zé-Tó, foi (e segue sendo-o, mercê da perpetuidade devida
aos livros bem escritos) o meu gajo
absolutamente referencial da História da
Literatura Portuguesa, em co-autoria com o também gigante Óscar Lopes. Pela
portuense Editorial Inova (vivam os meus 17 anos, carago!), o título Inquisição e Cristãos-Novos mora-me e
demora-me no saber necessário da identidade histórica deste (ainda?) Povo que
somos. O volume da Bertrand (capa amarela, riscada obliquamente) de 1977, Filhos de Saturno, trazia o polemista
ex-PCP de outras velhas-guardas. Mas era um plumitivo do caraças, o Doutor
António José Saraiva! Adunco, fanhoso, bigode obstinado. Nada a ver com este arquitecto desvelador das Câncios e das Marantes, dos mentideros propiciadores da amnésia rápida e da influência nenhuma.
Nenhuma. Ou: se alguma – mudar de passeio, até por nojo de alguma contagiosíssima
sífilis estilística, à vista de tal deserdado.
4 Este jornal em que escrevo não oferece almoços in nas espeluncas caras de Lisboa. Mas
também não bate em mortos que não podem defender-se, quiçá, dos boatos de
alcova arrepanhados à liça por um medíocre que nunca escreveu no Correio de Pombal, quanto mais no Dito e Feito, quanto menos em O RIBATEJO.
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