20/06/2013

Rosário Breve n.º 314 - in O RIBATEJO - www.oribatejo.pt

Vai devagar antes que tomates alguém

Não foi ainda desta que me fiz presente na sempre aparato-grandiosa e scalabitana Feira Nacional de Agricultura (FNA). Não por culpa da Organização mas por causa da minha matripatrimonial senhora, que pouco me deixa sair de casa. (A não ser por escrito – embora uma só vez por semana e só até 3500 caracteres em página última. Misérias suaves, enfim, as minhas. Adiante.)
Por modos que não fui à já hemissecular FNA (acrónimo a que só falta um C final para vender best-sellers e cêdêvêdês com fartura ou um T terminal para homografar a estadonovista antecessora do INATEL que Deus tem). Não fui eu mas foi o Portas, o inefável Portas, o cândido Paulinho, esse exímio fandanguista de arraiais, esse incansável e quase lúbrico osculador de peixeiras, esse ASAE bonzinho que mais depressa caça um voto à viúva zarolha dos tremoços e ao cigano contrafactor da Benetton de Avintes do que o Diabo se esfrega o terceiro-olho à Lobsang Rampa. A falta que lá não fiz, fá-la-ia o adocicado PP, ex-enfant-terrible do gorado e não saudoso Independente, fotocopista licencioso e multiusos de documentos da Defesa Nacional, hoje tão depressa feirante da diplomacia como amanhã diplomata das feiras. O preclaro Portas! Utente malapato e malacafento de uma “clareza” no explicar-se chapeada a rebites de onzeneiro judeu à la Gil Vicente, beato como um guarda-redes de mesa de matraquilhos em salão paroquial, o PP do PP está para a sinceridade como o Gaspar para a rapidez fonética, o Relvas para os estudos, o Crato para uma decente carreira docente, o Alvarinho para o livro Anita Procura Emprego, o Coelho a cantar a Nini, o Soares para a mocidade (portuguesa), o Seguro para a maturidade, o Alegre para a poesia a sério, o Goucha para a Playboy e eu, nem que uma vez só na vida, para a FNA.
Não fui. Perdi eu. O mais longe que fui, foi ali à Rita, primeiro, e à Rosa, depois. Ambos os estabelecimentos são de boa índole cafeíno-licorosa, ambos graciosamente oferecem a leitura sempre auspiciosa do purulento Correio da Manhã. A propósito deste periódico (recorrente tripulante, aliás, da nave da minha mundivisão), dia 15 passado foi um bom dia. Na rubrica Mundo Louco (súmula, afinal, de todo o jornal), auferi a alvíssara de não ter ido à FNA. Era a páginas 29. Um alegado poeta colombiano chamado Brochero (pois…), frustrado com a indiferença que em sua/dele nativa América do Sul lhe devotam ao respectivo escrevinhanço, propunha-se fazer uma viagem à Europa no intuito de divulgar o seu/dele livro mais fresco, uma decerto pataratice intitulada “Poesia pela Paz”. O problema dele era o que o nosso é: dinheiro, nicles. Vai daí, no propósito sempre louvável da angariação de verba pró-verbo poético, lembrou-se, o palerma, de leiloar os próprios testículos. Sim, as próprias bolsas gónadas. E isto a partir de uma licitação de coisa de 15 mil euros. A sete mil e ½ o guizo, portanto.
Notai, meu fiel leitor e deslumbrante leitora minha, que bem mais bocejo eu do que pasmo, na idade não ínclita mas madurota já a que já cheguei – e que é de apenas menos um do que os cinquenta anos nesta edição festiva e justamente celebrados pela FNA. Mas perante coisa assim, confesso, pasmei. É que nem dá para gozar. (Ou dará?)
Pacificou-me todavia uma arte que mui hei desenvolvido até ao presente hoje-dia: a da contrastaria.

Contrastei assim: para publicar um livro, posso não ter os tomates provisórios do Brochero, mas também de nada me adiantaria, para efeito de me ver em prelo e escaparate e JL e tudo, cercear-me a virilidade dos jardins-suspensos ligeiramente refrigerados na sub-reentrância das axilas de baixo. Ou seja: nem cortá-los para pública haste, nem ter ido ao 10 de Junho a Elvas, efeméride e sítio onde o senhor Presidente da República, discursando, também se pôs a falar de uns tomates que naquele certame em particular não havia, como os figurativamente não há no resto do arraial político deste eunuco País.

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Canzoada Assaltante