Exemplares
(&) portugueses
Estou certo de que o farei para o resto da
vida. Digo: a observação avulsa de exemplares portugueses. Em pessoa(s), claro.
Ruas & Cafés constituem as torres-de-vigia ideais para a consumpção do
mirone observatório. Revisto-me, para o efeito, de discreto vestuário
(cinzentos, castanhos, azuis obscuros) e ponho-me a receber de boca fechada (em
cujo imo se abre a Língua) o aparato mundial à escala local.
O primeiro exemplar de hoje é uma febra
pequenita de seus/dela cinquentas e picos. Ardem-lhe por faces duas rosáceas
sanguíneas, a que presidem uns olhos aguados e tristolentos amaila cera
amarfinada de umas orelhas pingonas e ratiformes. Inquiro dela em sede da Rosa
do Colonial, que dela me garante a bonomia pessoal, não obstante certa vocação
para o encornanço de quanto macho lhe logrou cravejar até hoje (até ontem
mesmo, digo) a (de)posição horizonte-ventral. Chamemos-lhe Dina. Dina Men.
O exemplar segundo é um ronceiro barrigudo
de pelagem arbustiva (peito, barriga, pulsos, sobrancelhas, pezunhos) com
muitos anos de França mas nenhuns de Voltaire ou Prévert. Arca-encourou umas
milenas jeitosas. A primeira coisa que fez no retorno definitivo ao torrão
pátrio foi contra o torrão pátrio: votar no Cavaco, passando depois a eleger os
seus (dele, Cavaco) derivados, incluindo os do PS. Usa botinas de elástico
preto envernizadas a cuspo e boné à Pedroto. Tem mais q.b. do que q.i., pelo
que investe em tremoços o que pelo mesmo preço lhe ficaria em camarões.
Chamemos-lhe nomes.
O terceiro espécime, encontro-o sem
surpresa nem alarde ao espelho do lavatório do Café. Finge um olhar que já tive
e de que só me sobraram os olhos bagáceos e piscos. Conta-que-Deus-não-fez,
este n.º 3 arroga-se colunista encartado, arriscando em verso o que lhe não sobra
em prosa ou raciocínio fundamentado. Veste todavia com razoável discrição:
cinzento, castanho & obscuro azul. Chamemos-lhe Vazdeluiz.
Servirá este penúltimo parágrafo de
recensão sinóptica ao motivo vero da presente crónica: ser português tornou-se,
de vez, um ofício triste. É verdade que nos barbeiros ainda o Jornal de Notícias serve de evangelho,
mas a delícia porno-rosa do Correio da
Manhã é que enxameia os Cafés e as almas de uma enxúndia
crápulo-criminológica cuja suma nadice é homiliada aos domingos por esse
portento da vacuidade Moita Flores chamado (sempre a páginas dois). É por igual
verdade que a manjericação santantoninha perfuma de assada sardinha o País que
sobra de Lisboa, a Macrocéfala sem Cabeça, mas o mais é a maltosa de
aquém-Aveiras e de além-Barreiro ter de lhe(s) pagar as Expos, as (a)Fundações
Soares e afins rendimentos máximos garantidos. No fundo & por cá, tudo é
verdade, a começar pela mentira. Nisto, o parágrafo cede vez & voz ao
epílogo aliás discretamente preparado: o trocadilho em tríade para bom
entendedor. Esta porra toda para que:
nem isto Portugal, nem eu Camões, nem ela
Dinamene.
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