Natal não é assunto de que me apeteça falar em Dezembro, até porque a quadra começa cada vez mais cedo, Novembro, Outubro, Setembro, qualquer ano havemos de estar na praia em Agosto ou Julho e uma sacana duma avioneta há-de passar com um pai-natal insuflável no rabo a dar às barbas vendilhonas nos céus comerciais.
Natal? Na tal coisa de que falamos, a sociedade anónima empanturra-se de nada que brilha muito, comprando muito o que vale nada. As criancinhas aprendem nos hipers a cobiça consumista, os velhinhos resmungam nos lares a artrite e a artrose, os adultos passeiam nas ruas a falência envergonhada e os ricos musculam nas assembleias a vergonha falida.
Nas lojas honestas, os comerciantes sustentam as moscas antigas com vinagre novo. Nas estátuas novas, floresce já o musgo do esquecimento. Nas cervejarias, as classes envelhecidas das antigas primárias tremoçam e imperializam como reis magos que foram beber e deixaram os camelos lá fora.
Tudo isto é, admito-o sem rebuço, algo cínico. É da minha infância sem catolicismo, explico. Cresci sem mistério. Boa vontade a sério, só a do merceeiro. Paz na terra, só quando a tasca fechava cedo. Amor e tal, só de ouvir dizer. Cinismo é, aliás, uma corrente filosófica grega cuja raiz etimológica é cão. Segundo essa filosofia, o ideal humano seria a imitação do comportamento animal, no que ele tem de puro, de não interesseiro, de genuíno, de vital.
Pensando bem, se o Natal humano fosse mais assumidamente cínico e menos, por assim dizer, natalício, talvez fosse mais cristão. E menos humano. Isto é, menos vendilhão. Ou não. Talvez eu esteja só a ser camelo.
Natal? Na tal coisa de que falamos, a sociedade anónima empanturra-se de nada que brilha muito, comprando muito o que vale nada. As criancinhas aprendem nos hipers a cobiça consumista, os velhinhos resmungam nos lares a artrite e a artrose, os adultos passeiam nas ruas a falência envergonhada e os ricos musculam nas assembleias a vergonha falida.
Nas lojas honestas, os comerciantes sustentam as moscas antigas com vinagre novo. Nas estátuas novas, floresce já o musgo do esquecimento. Nas cervejarias, as classes envelhecidas das antigas primárias tremoçam e imperializam como reis magos que foram beber e deixaram os camelos lá fora.
Tudo isto é, admito-o sem rebuço, algo cínico. É da minha infância sem catolicismo, explico. Cresci sem mistério. Boa vontade a sério, só a do merceeiro. Paz na terra, só quando a tasca fechava cedo. Amor e tal, só de ouvir dizer. Cinismo é, aliás, uma corrente filosófica grega cuja raiz etimológica é cão. Segundo essa filosofia, o ideal humano seria a imitação do comportamento animal, no que ele tem de puro, de não interesseiro, de genuíno, de vital.
Pensando bem, se o Natal humano fosse mais assumidamente cínico e menos, por assim dizer, natalício, talvez fosse mais cristão. E menos humano. Isto é, menos vendilhão. Ou não. Talvez eu esteja só a ser camelo.
4 comentários:
ganda texto pá!
duma ponta à outra.
claro que podes, vice. todos os que quiseres, man.
olá daniel! tudo bem? sou o joao, o filho do adelino...o rapaz dos 3 rins.
Li o livro, o "cronicão"...adorei, sabes?
mesmo...
grande abraço, espero que tudo corra pelo melhor!
ah, e um bom natal, simplesmente! :)
Olá, grande João!
Bom Natal todo o ano para ti!
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