Aurora, meu amor, minha nespereira
Que me importa a mim que o teu amor esteja morto, se o meu nasce todos os dias em honra do teu nome? Escrevo-te na messe da imaginação. Escrevo Aurora de noite. Escrevo-te sempre, até, ou sobretudo, quando não escrevo fisicamente. Quando instruo rapazes mal-homens, quando marcho picadas incultiváveis, quando armo mãos e braços improváveis, quando atravesso rios de águas que não são para beber nunca mais, continentes, cabeças de gado que não pode compreender homens que não compreendem como gado. A guerra de fora, sabes, nada é, comparada com esta minha de dentro. Já perdi ambas, bem no sei de sobra. Ainda assim, não soçobro. Que valente herói sou e pareço, que não pereço. Por ti? Não, Aurora. Por mim. A rejeição acaba por voltar o amor contra um si mesmo, como uma pistola de suicida. Assim me despeço, como disparando. Adeus, Aurora. Amo-me.
Valentim, alferes de Artilharia
4 comentários:
"Que me importa a mim que o teu amor esteja morto, se o meu nasce todos os dias em honra do teu nome?"
Que linda frase, sentida e sofrida. À distância de um tempo imemorável também recordo, afectações de alma que me fazem sentir desse modo. Simplesmente nunca consegui expressa-lo de forma tão sublime.
è um prazer consultar o teu blogue.
albino
Sou eu quem (te) agradece, Amigo.
É, realmente, uma bela frase!
Toda a carta de amor (toda esta e não todas as como no texto de A. de Cmpos)
Muito grato, Unknown.
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