13/07/2014

Três entradas do caderno 31 da série Leite dos Santos

Leiria, manhã de domingo, 13 de Julho de 2014

33

Humana frota tripula a manhã dominical
ao remanso fresco que a hor’ainda dá.
É uma matina portuguesa, ilesa, meridional:
melhor do que ela é que não há.

Às nove, na Igreja de Santa Cruz de Coimbra-a-Minha,
rezaram missa por alma e em intenção
do meu ido Amigo José António da Conceição.
Neste sítio mundial, que Leiria é, a luz pergaminha

o fluvial arvoredo, que é de rama umbrosa.
A vida, assim quieta & (c)alma assim, é decorosa,
é rosa de que se não augura o fim.

Mas tem-no. Detém-no. Para tal, não há remédio.
Suficiente & pertinente é, por ora, capar o tédio,
sabendo de ti alguma coisa – e tu, alguma de mim.

34

Desse azul mais escuro
que é veludo noctâmbulo
& da manhã preâmbulo,
reverso dela o mais puro

– desse oferta te fiz & faço.
Lento, cada verso, tipo melaço,
para ti escorre, quer ser, entregar-se.
O melhor do receber ’ind’ é o dar-se.

35

A mulher hoje de azul na esplanada clara
é dessas belezas verticais que ao céu mesmo sublimam.
Duas belas orelhas de viva louça a encimam.
E o rosto é desses rostos a que se não chama cara.

A bacia dá ao torso a sugestão da ânfora.
O pé, a ouro de tiras sandaliado,
tem qualquer coisa de âmbar, digo, de cânfora.
Todo o resto é muito bem ataviado.

Tem marido, claro, que à trela usa ela.
É rapaz de têmporas grisalhadas & de perfil discreto.
Usa camisa castanha com gola amarela

e umas sapatilhas lavadas, sérias, de tom correcto.
Ambos contribuintes, eleitores ambos democratas.
Ele é Rui. Ela é Maria do Amparo Gomes Pratas.





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Canzoada Assaltante