14/07/2014

49 do 31 (Leiria, entardenoitecer de segunda-feira, 14 de Julho de 2014)

49

Com os anos, é possível aprender a ser-se amado.
Passou há muito, felizmente, o tempo das experiências.
A receita eficaz está agora na adoração pachorrenta:
as pantufas irmanadas, o gato plácido,
as andorinhas-de-barro na empena do alpendre.

Os grossos cordames dos navios não logram isto:
são só cordames de navio – e está muito bem.
Em vários istmos portuários eu vi tais cordames.
Daí que, sim-talvez-ou-não me ames,
o que retiro é ter sido o que olhava navios.

Não posso, bem no tente eu embora, deixar-me todo em papel.
Há coisas que são só p’ra dizer aos domingos
– e hoje é segunda-feira na minha vida e
amanhã também.
Penso ter-te posto isto em pratos os mais limpos.

Gosto, como tanta gente gosta, de crianças ao vento.
Sinto-nos cadernos-de-colorir – e elas, as cores.
Mas depois derivo, dou voltas na chuva mesmo fazendo sol.
Nos espelhos das barbearias, ao longo dos meus já tantos dias,
tenho visto mais do que a mera multidão restrita

do barbeiro & eu.
Uma vez, num inverno poderoso como um guante de ferro,
tremi sezões que não provinham de moléstia no sangue.
Fiz por esquecer isso em trovas fingidoras & bem escritas.
Também fiz filhas, nem tudo foram falhas.

Hoje, que é julho por minutos, já recebi sinais,
telepáticos talvez, da nunciatura feliz e descamisada
sempre tão afim dos poetas-de-esplanada.
Isto, à flor como no fundo, vale-me tudo,
por valer nada, ó só minh'(a)prendid'amada.

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Canzoada Assaltante